O que era tratado apenas à boca pequena entre servidores experientes e chateados com o que estava acontecendo com o nome do país do outro lado do mundo, a montagem do Pavilhão do Brasil na Expo 2025 de Osaka, no Japão, ao lado de pavilhões de pelo menos outros 160 países do mundo, aberta oficialmente no último domingo (13), está servindo de chacota e expondo o Brasil a um vexame que nem de longe representa a grandeza do país. O responsável direto pelo insucesso da exposição brasileira é ninguém menos que uma figura conhecida no Acre, o ex-governador e ex-senador petista Jorge Viana, atual diretor-presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), responsável pela exposição da cultura e de produtos brasileiros numa das maiores feiras de negócios do mundo, pela qual hão de passar milhões de pessoas.
A montagem do pavilhão, com traços amadores e com características de festas juninas do interior do Acre, conforme denunciavam servidores da agência descontentes com o que vinham acontecendo, nesta semana, foi escancarada em reportagens da Revista Veja, da Editora Abril. “Pelo amor de Deus! Esse pavilhão não representa a grandeza do nosso país. Um pavilhão improvisado e horroroso. Uma incompetência sem igual da Apex, pelo que não soube, nem ao menos, respeitar o tema da Expo Osaka, que é a sustentabilidade. Tudo cheio de plástico e amontoado de cadeiras de boteco. Pavilhão medíocre”, escreveu nas redes sociais uma servidora da Apex ao ver o pavilhão montado, o que foi confirmado pela revista Veja.
A revista revelou que as trapalhadas para que o Pavilhão brasileiro em Osaka se tornasse vergonha nacional do outro lado do mundo começaram com a realização de um concurso de designer. O júri do concurso, formado pela arquiteta Sylvia Ficher, da Universidade de Brasília, e o atual Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente, André Aranha Corrêa do Lago, conhecido crítico de arquitetura e então embaixador do Brasil na Índia, elegeu o trabalho do escritório paulistano MK27 (Márcio Kogan) em parceria com a Magnetoscópio Offices, do estelar curador de arte Marcello Dantas.
A proposta vencedora logo virou matéria nas mais respeitadas publicações sobre arquitetura do mundo. Até agosto de 2023, Marcello Dantas falava com orgulho sobre o projeto em seu Instagram. Em meados de abril do ano passado, surgiram, discretamente, notinhas na imprensa anunciando a participação da diretora Bia Lessa. Em junho do mesmo ano, a diretora foi oficialmente apresentada como a responsável pelo pavilhão, composto de um edifício com dois pisos, e área aproximada de mil metros quadrados, ou seja — um terço da área do projeto original. O plano de construir por conta própria, no pavilhão do Tipo A, simplesmente deixou de ser citado e, nos bastidores, dizem que a mudança fez com que o curador e os vencedores do projeto resolvessem tirar o time de campo, informa Veja.
Esta é a primeira vez — prossegue a revista — que um país mostra o projeto de um pavilhão do Tipo X. Jorge Viana, chefe da ApexBrasil, assumiu, em entrevista coletiva, que “a transição para o X reduziu significativamente os custos de construção”. Bia Lessa, que é diretora de teatro, ópera, shows e instalações e trabalha como curadora e cenógrafa de exposições e museus, disse que “a dificuldade foi uma alegria”, referindo-se à mudança para um espaço menor. O motivo, digamos, “oficial” para o Brasil ter mudado de pavilhão é que havia um temor de não conseguir concluir a obra a tempo. Bia Lessa disse que o governo japonês sugeriu a mudança para o Tipo X, o que salvou a participação do Brasil, mas derrubou o conceito original, disputado em concurso em 2022.
Guardado a sete-chaves, o design do pavilhão menor conta com uma floresta inflável. Inicialmente, ela seria feita com sacolinhas de plástico — mas a matéria-prima das sacolinhas é altamente inflamável. Foi indicada a utilização de nylon. Na semana passada, coincidência sinistra, um princípio de incêndio atingiu as obras do pavilhão do Brasil. Segundo a organização da Expo 2025, por volta das 19h30 do dia 04 de abril, o alarme de incêndio instalado no pavilhão brasileiro foi acionado, e 16 viaturas do corpo de bombeiros japonês foram enviadas ao local. No entanto, ao chegarem, o fogo já havia sido controlado.
O incêndio atingiu materiais do teto e parte da fiação elétrica. A investigação da polícia e dos bombeiros segue em curso e Jorge Viana deverá ser chamado a dar explicações à polícia e às autoridades japonesas.