Israel lançou ataques aéreos contra redutos do Hezbollah no Líbano neste sábado após interceptar disparos de foguetes vindos daquela região na direção de seu território, em meio a uma trégua entre as duas partes que está em vigor desde novembro. O grupo libanês nega que tenha sido o responsável pelos disparos. Ao menos duas pessoas foram mortas, incluindo uma menina, e outras oito ficaram feridas, segundo a imprensa estatal libanesa.
“O ataque inimigo israelense na cidade de Touline resultou na morte de duas pessoas, incluindo uma menina, e ferimentos em outras oito, incluindo duas crianças”, disse a Agência Nacional de Notícias, citando a unidade de emergência do Ministério da Saúde, segundo a qual o “número preliminar”.
De acordo com o Exército israelense, três foguetes foram lançados do Líbano para o norte de Israel, disparando sirenes de ataque aéreo na região pela primeira vez desde que o cessar-fogo entrou em vigor no final de novembro. Todos os três mísseis foram interceptados e não houve reivindicação imediata de responsabilidade de nenhum grupo.
Em nota, o Hezbollah “negou qualquer envolvimento no lançamento de foguetes do sul do Líbano em direção aos territórios palestinos ocupados”, referindo-se a Israel, e afirmou que “as alegações do inimigo israelense são parte dos pretextos para continuar seus ataques contra o Líbano, que não cessaram desde que o cessar-fogo foi anunciado”.
Apesar disso, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Betanyahu, ordenou o bombardeio de dezenas de “alvos terroristas” no Líbano.
— Não podemos permitir fogo do Líbano em comunidades da Galileia — disse o Ministro da Defesa Israel Katz, referindo-se a cidades e vilas no norte, muitas das quais foram esvaziadas depois que o Hezbollah começou a atirar em Israel em apoio ao Hamas em outubro de 2023. — O governo libanês é responsável por ataques de seu território. Ordenei que os militares respondam adequadamente. Prometemos segurança às comunidades da Galileia, e é exatamente isso que vai acontecer.
O chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, afirmou que os militares “responderiam severamente”.
— O estado do Líbano tem a responsabilidade de manter o acordo — afirmou, referindo-se ao cessar-fogo entre Israel e o Hezbollah que foi assinado pelo governo do lado libanês.
Já o primeiro-ministro libanês, Nawaf Salam, alertou que o país corre o risco de ser arrastado para uma “nova guerra, com consequências desastrosas”, após meses de relativa calma. A força de manutenção da paz da ONU no Líbano, Unifil, também manifestou preocupação e disse estar “alarmada com a possível escalada de violência”.
“Qualquer nova escalada dessa situação volátil pode ter consequências sérias para a região”, ponderou a Unifil. “Pedimos veementemente a todas as partes que evitem colocar em risco o progresso feito, especialmente quando vidas civis e a frágil estabilidade observada nos últimos meses estão em risco.”
O presidente libanês, Joseph Aoun, denunciou “a contínua agressão [israelense] contra o Líbano”.
A agência de notícias libanesa NNA informou na manhã deste sábado que aeronaves israelenses sobrevoaram o sul do Líbano e que mísseis interceptadores explodiram na área. Tropas israelenses também estão realizando varreduras usando armas automáticas nas colinas de Hamames, acrescentou a agência.
O Exército libanês, por sua vez, anunciou que havia “encontrado três lançadores de foguetes caseiros em uma área ao norte do Rio Litani”, a cerca de 30 km da fronteira israelense, e “procedeu a desmontá-los”.
Sob os termos do cessar-fogo, Israel deveria se retirar do sul do Líbano, onde apenas o exército libanês e as forças de paz da ONU seriam mobilizados. O Hezbollah, por sua vez, deveria retirar suas forças para o norte do Rio Litani, a cerca de 30 km da fronteira israelense e desmantelar qualquer infraestrutura militar restante no sul. No entanto, Israel realizou repetidos ataques aéreos durante o cessar-fogo que, segundo ele, visavam locais militares do Hezbollah que violavam o acordo.
A escalada da violência na fronteira entre Israel e Líbano neste sábado ocorre quando a nova ofensiva israelense contra o Hamas em Gaza entrou em seu quinto dia. A retomada das operações militares de Israel na terça-feira quebrou a relativa calma que reinava desde o cessar-fogo de 19 de janeiro.
O ministro da defesa de Israel disse na sexta-feira que havia ordenado ao exército que “tomasse mais território em Gaza”, que ele anexaria se o Hamas não atendesse às demandas de Israel para os próximos passos no cessar-fogo de Gaza.
— Quanto mais o Hamas se recusar a libertar os reféns, mais território perderá, que será anexado por Israel — disse Katz.
O retorno às operações militares foi coordenado com o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, mas atraiu ampla condenação. O Hamas questionou neste sábado a distorção de Washington sobre sua posição, insistindo que estava pronto para libertar todos os seus reféns restantes como parte de uma segunda etapa prometida do cessar-fogo.
“A alegação de que ‘o Hamas escolheu a guerra em vez de libertar os reféns’ é uma distorção dos fatos”, disse o grupo.
Quando a primeira etapa do cessar-fogo expirou no início deste mês, Israel rejeitou as negociações para a segunda etapa prometida, pedindo, em vez disso, o retorno de todos os seus reféns restantes sob uma primeira etapa estendida. Isso significaria atrasar as negociações sobre um cessar-fogo duradouro, e foi rejeitado pelo Hamas como uma tentativa de renegociar o acordo original.
Quando a guerra entre Israel e o Hamas em Gaza começou, o Hezbollah era um ator fundamental na política libanesa e o movimento mais poderoso do país. Mas em setembro de 2024, a troca de tiros entre o Hezbollah e Israel se transformou em guerra aberta com bombardeios massivos no Líbano. O movimento xiita emergiu muito enfraquecido do conflito de dois meses, e sua liderança foi amplamente dizimada.
•O Globo