Os peixes que habitavam o Rio Uatumã, onde há 35 anos foram construídas as hidrelétricas de Balbina e Pitinga, no interior do Amazonas, desapareceram.
Essa conclusão faz parte de uma pesquisa conduzida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e as Universidades do Estado do Amazonas (UEA) e Federal do Pará (UFPA).
Intitulada “Peixes reofílicos do rio Uatumã: avaliando o status de conservação após 35 anos da construção das UHEs Balbina e Pitinga, Amazonas, Brasil”, a pesquisa analisou a permanência de sete espécies nativas do Rio Uatumã, um dos afluentes da margem esquerda do Rio Amazonas.
O estudo revelou que as espécies ameaçadas de extinção descritas antes da construção das barragens não foram mais registradas na região.
“O desaparecimento do peixe Badi é emblemático para demonstrar o impacto da usina de Balbina. É uma espécie de pacu reofílico, de fácil reconhecimento e muito abundante nas cachoeiras do Uatumã na década de 80. Isto é muito preocupante do ponto de vista da conservação dessas espécies. Encontrar essas espécies em novas localidades é fundamental para criar planos de ação para sua preservação”, afirmou o pesquisador Douglas Bastos.
Durante a primeira expedição ao Rio Uatumã, realizada em novembro de 2023, abaixo da hidrelétrica de Balbina, a equipe coletou 945 exemplares. Apesar dos esforços intensos, que incluíram cinco dias de trabalho e 20 horas de mergulho, as espécies-alvo não foram encontradas, reforçando as preocupações sobre o impacto ambiental das barragens.
“A qualidade da água mudou, há um depósito de material nas pedras que antes não existia, e o impacto vai além da biodiversidade, afetando até os moradores locais”, observou Lúcia Rapp Py-Daniel, coordenadora da pesquisa.
Acari bodo era espécie encontrada em rio onde foi construída hidrelétrica/Foto: Leandro Sousa
Na segunda fase do projeto, em outubro de 2024, os pesquisadores investigaram cachoeiras que ainda não foram impactadas por hidrelétricas.
No Rio Abacate, de pequeno porte, não foram encontrados habitats similares aos do Rio Uatumã. Já no Rio Jatapu, outro afluente de grande porte, as análises preliminares indicaram um ambiente aquático saudável, rico em biodiversidade.
Algumas espécies de peixes reofílicos capturadas no Uatumã na década de 80 foram encontradas no Jatapu, incluindo dois exemplares ameaçados: o sarapó (Apteronotus lindalvae) e o bodó (Harttia uatumensis).
“Encontrar essas espécies endêmicas do Uatumã em outros tributários nos dá esperança de manter populações naturais viáveis e evitar a extinção”, destacou Rapp Py-Daniel.
Estudo revela desaparecimento de espécies de Peixes Endêmicos após construção de usinas hidrelétricas no rio Uatumã/Foto: Leandro Sousa