26.7 C
Juruá
sexta-feira, janeiro 17, 2025

Ave rara é fotografada pela primeira vez no Parque Estadual Chandless

Por Redação O Juruá em Tempo.

- Publicidade -

“Lado dorsal marrom, lado ventral branco com estrias pretas do peito até o crisso”, essas são as características da ave rara conhecida popularmente como “fantasma da Amazônia”, o tovacuçu-xodó (grallaria eludens), que foi registrada por foto pela primeira vez na história no Parque Estadual Chandless.

O feito inédito foi realizado pelo biólogo e especialista em aves da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), Ricardo Plácido, na última quinta-feira, 9, no habitat do pássaro, no Parque Estadual Chandless, unidade de conservação gerida pela Sema, situada entre os municípios de Manoel Urbano, Sena Madureira e Santa Rosa do Purus.

Até então, não havia nenhuma imagem do pássaro misterioso, uma das espécies menos conhecidas do mundo, fato que tem atraído pesquisadores e biólogos de vários lugares do mundo ao Acre, em expedições guiadas no Parque Chandless, curiosos em conhecer o majestoso canto da ave fantasmagórica.

Com o registro, Ricardo Plácido se tornou o primeiro a fotografar o tovacuçu-xodó e a disponibilizar o registro no site Wiki Aves – A Enciclopédia das Aves do Brasil. O biólogo relata como se deu a captura das primeiras imagens: “Foram sete anos para registrar esse exímio pássaro habilidoso em esconder-se entre os emaranhados e fugir ao mínimo movimento”.

O secretário de Estado de Meio Ambiente, Leonardo Carvalho, destaca a importância das unidades de conservação como instrumento de conhecimento e manutenção da biodiversidade: “As primeiras imagens dessa espécie misteriosa e pouco conhecida no mundo vem reforçar o importante papel da Sema na proteção do patrimônio natural do estado e da biodiversidade de nossas áreas protegidas e também abre espaço para a consolidação da observação de aves no Acre”.

‘Fantasma da Amazônia’

O pássaro, considerado pela comunidade ornitóloga (especialista em aves) como um “fantasma amazônico” é uma das aves pouco conhecidas e estudadas do mundo inteiro. Ela foi descrita para ciência em 1969, no leste do Peru, e os primeiros registros documentados por gravações foram feitos por volta da década de 1990 e anos 2000, também no país.

Em 2015, em Manoel Urbano, cidade do interior do Acre, o pesquisador Fernando Godoy documentou a existência no Brasil, todavia sem qualquer registro das características da ave “enigmática”.

A saga pela descoberta contou com o valioso conhecimento da comunidade que reside no Chandless. Foi graças ao conhecimento dos ribeirinhos Pedro Vasquez e Cristiano Valente que foi possível gravar dois vídeos de 30 segundos e duas fotos.

Além de todo o aparato com câmera fotográfica, lentes de zoom óptico, binóculos e disfarce de selva, após quatro horas no terceiro dia de busca, dois passos cuidadosos e discretos foi o que possibilitou Ricardo fazer os registros da ave: “Eu não estava conseguindo fazer o registro. As imagens estavam ficando sem foco e ela estava muito escondida. Então, adotamos uma estratégia diferente, com o Vasquez indo por outra direção. Eu falei pra ele: ‘dá dois passinhos pra lá’, e assim ele fez. Foi quando o tovacuçu-xodó afastou mais um pouquinho e consegui fazer o registro”, destacou.

Observação de aves raras amplia potencial turístico do Acre

Acre tem se tornado um dos roteiros mais procurados da Amazônia para a prática da observação de aves, atividade conhecida em inglês como birdwatching ou birding, um segmento do ecoturismo relacionado à contemplação e fotografia de aves na natureza.

Os observadores de aves (em inglês- birdwatchers ou birders) tornaram-se o maior grupo de observadores da vida silvestre do planeta, sendo o que mais cresce setorialmente no mundo.

Ave rara é fotografada pela primeira vez no Parque Estadual Chandless
Biólogo é especialista em aves. Foto: Bruno Moraes/Sete

O secretário de Estado de Turismo e Empreendedorismo do Acre, Marcelo Messias, destaca que a conquista é muito importante para a ciência, mas também para o turismo no estado, que tem espécies endêmicas, como o tovacuçu-xodó.

“O turismo de observação de aves é um dos setores que mais se destaca, tornando o Acre como uma das referências no assunto. O feito do Ricardo traz ainda mais valor ao birdwatching, executado no Acre, e desenvolve ainda mais a vontade dos entusiastas desse tipo de turismo, que vem de todos os lugares do mundo para conhecer as espécies da Amazônia e do Acre”, ressaltou.

O Ministério do Turismo, Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) e Polícia Federal (PF) divulgaram dados que revelam que o Acre recebeu 19,8 mil turistas internacionais, registrando um aumento de 15,4% em comparação com 2023. Somente em dezembro, 1.714 estrangeiros visitaram o Acre.

O estudo não detalha destinos nem períodos do ano, mas o ministério destacou o Parque Nacional da Serra do Divisor como um dos principais atrativos do estado.

O biólogo da Sema, Ricardo Plácido, destaca que o Acre é conhecido como um dos estados que abriga diversas espécies ainda desconhecidas ou pouco desbravadas, que ainda não têm registros fotográficos documentados no Brasil.

Ave rara é fotografada pela primeira vez no Parque Estadual Chandless
Ricardo passou quatro horas para conseguir fazer dois registros em vídeo e duas fotos. Foto: Bruno Moraes/Sete

“A maioria dessas espécies ‘especiais’ são endêmicas, raras e de beleza exuberante. O Acre vem se destacando ao longo dos últimos anos como rota que está em evidência para o resto do Brasil e do mundo”, explicou.

O especialista destaca, ainda, que o Acre é um dos roteiros mais cobiçados da Amazônia quando se trata de birdwatching e que os observadores de vida selvagem movimentam diversos setores do turismo por onde passam. “Muitas pessoas vêm falando do Acre e buscando visitar o estado para observar aves. Essa demanda vem crescendo exponencialmente ano a ano”, diz.

Aves endêmicas

O Acre é um território que abriga milhares de espécies diferentes de animais e plantas. Dentre esses animais, as aves ganham notoriedade pela beleza, canto e, em alguns casos, a raridade.

No estado, já foram encontradas mais de 700 espécies e, entre elas, cerca de 35 são endêmicas, que são aves nativas, restritas à região do sudoeste da Amazônia, englobando todo o território acreano.

Por: Agência de Notícias do Acre

- Publicidade -
Copiar