Câmeras de monitoramento flagraram um policial militar desferindo um soco no rosto de uma dona de casa durante uma abordagem na cidade de Campinas, no interior paulista. O caso aconteceu no bairro Jardim Aero Continental, no dia 21 de outubro, mas ganhou repercussão nesta semana depois de a vítima buscar ajuda para denunciar as agressões.
Segundo a Secretária de Segurança Pública do Estado (SSP-SP), os agentes envolvidos na ocorrência foram identificados e afastados, e um inquérito foi aberto para apurar o caso. A reportagem também entrou em contato com o governo do estado e aguarda retorno.
“A Polícia Militar não compactua com desvios de conduta dos seus agentes e investiga o caso por meio de Inquérito Policial Militar (IPM)”, disse a PM, via Secretária de Segurança Pública (SSP-SP). “Todo e qualquer excesso cometido por policiais será penalizado em conformidade com a lei”, acrescentou a pasta, em nota.
Pelas imagens, obtidas pela reportagem, é possível ver a mulher, que não teve a identidade revelada, gesticulando contra um dos agentes, na calçada. Outros dois PMs vão, aos poucos, se aproximando dela. Enquanto um se posiciona de frente, outros dois militares encostam e ficam ao lado da vítima.
De repente, o policial que está ao centro pega uma algema e desfere um soco no rosto da dona de casa. Com a força, ela cai no chão e, na sequência, é algemada pelos PMs. No boletim de ocorrência, a polícia diz que o golpe foi dado com “contundência” e “uso moderado da força”.
De acordo com Thais Cremasco, advogada da vítima e membro do coletivo Mulheres Pela Justiça, os policiais foram chamados para atender uma ocorrência de briga familiar na residência da mulher, motivada pela presença de um ex-companheiro contra quem a vítima tem medida protetiva em razão de agressões sofridas por ele no passado.
O chamado teria partido de vizinhos, que ouviram gritos. Conforme a advogada, os agentes que atenderam a ocorrência “teriam se voltado” contra a sua cliente. Já na calçada, a mulher passou a falar de forma de mais exaltada com os PMs.
“Os policiais passam a ter uma discussão com ela. Ele (um policial) pega uma algema e dá um soco no olho dela com a algema. Ela cai no chão, sangra, e o policial a algema e a coloca em um camburão”, relata a advogada. A vítima foi levada a um hospital e, depois, a uma delegacia para prestar depoimento.
Thais Cremasco afirma ainda que sua cliente ouviu ameaças dos militares após as agressões. Segundo a defensora, a vítima passou a temer por novas represálias, mas procurou ajuda do coletivo Mulheres Pela Justiça há duas semanas para expor a situação. Uma denúncia formal deverá ser apresentada nesta terça-feira, 10, na Corregedoria da Polícia Militar.
Versão policial alega ‘uso moderado da força’
No boletim da ocorrência, ao qual a reportagem teve acesso, os policiais afirmam que a mulher teria tentado agredir a filha, uma jovem de 20 anos, durante a discussão, incluindo jogar álcool e atear fogo, e que também teria desacatado os policiais, os chamando de “lixo”, de “m**da”, e se negando a ir com eles à delegacia para prestar depoimento.
“Após isso, foi dada voz de prisão por desacato e desobediência”, disse a polícia no registro da ocorrência.
Sobre a agressão contra a dona de casa, conforme a versão dos policiais, a mulher teria tentado dar um soco nos agentes, que teriam revidado “com um golpe contundente, com uso moderado da força”.
Escalada da violência
A escalada da violência policial, com a repercussão de ao menos sete casos no último mês, resultou na prisão de dois PMs e no afastamento de 46 agentes. Dentre as ocorrências, estão as mortes de uma criança de 4 anos em uma ação em Santos, no litoral paulista, de um estudante de Medicina na Vila Mariana, zona sul paulistana, e de um suspeito de roubo em um mercado na zona sul da capital, baleado pelas costas por um policial. O PM foi preso após pedido do MP.
Na semana passada, um agente foi flagrado jogando um homem do alto de uma ponte, em novo caso na zona sul – o PM foi preso.