Com a investigação sobre a suspeita de manipulação direcionada a Bruno Henrique, a Polícia Federal e o Ministério Público do Distrito Federal traçaram algumas estratégias para monitorar e cercar o jogador do Flamengo.
A ideia era marcar Bruno Henrique e não deixá-lo escapar para cumprir, de forma sincronizada, os 12 mandados de busca e apreensão da operação que, ao fim das contas, aconteceu nesta terça-feira (5).
O jogador é alvo de inquérito por supostamente levar um cartão amarelo de propósito no jogo Flamengo x Santos para favorecer apostadores. Ao clube, Bruno Henrique negou ter cometido qualquer irregularidade.
A ação na Justiça do DF começou há um mês — em 5 de outubro. Dois dias depois, a Polícia Judiciária já tinha repassado os endereços nos quais os investigados seriam encontrados.
A casa do jogador já estava na mira e os endereços dos demais alvos dos mandados — todos apostadores suspeitos.
Além disso, os promotores e a polícia se atentaram para o fato de Bruno Henrique ser sócio de duas empresas, a DR3 Consultoria Esportiva e a BH27 Oficial. As duas têm como atividade agenciamento e negócios no mercado esportivo, mas têm o mesmo endereço.
O MP pediu que fosse incluído na rota dos mandados o dormitório do jogador no Ninho do Urubu. O espaço é exclusivo e de uso constante por parte de Bruno Henrique.
O MP queria até que fosse necessária ordem judicial para cumprir o mandado de busca e apreensão contra Bruno Henrique em um quarto de hotel em que eventualmente ele estivesse. E se ele só fosse encontrado na rua, os promotores deveriam ser autorizados a fazer revista pessoal.
Tudo isso considerando a especificidade da profissão de jogador de futebol, que viaja muito.
Os promotores ainda anexaram a tabela de jogos no Flamengo. O print foi tirado na véspera da partida contra o Internacional, que foi em Porto Alegre, e ainda trouxe a relação de próximas partidas justamente em Belo Horizonte.
“A ideia do Gaeco e da Polícia Federal é a de cumprir as buscas em alguma janela de oportunidade que revele ser provável que Bruno Henrique esteja em sua casa, no Rio, antes ou após algum jogo do Flamengo em território fluminense”, escreveu o MP na ação a qual o UOL teve acesso.
A estratégia foi sincronizar para que os policiais fossem tanto à casa do jogador quanto ao Ninho do Urubu.
Só que a Justiça travou duas ideias do MP: nada de abordagem na rua ou em qualquer outro hotel/local que não fosse a casa dele ou o Ninho.
“Cabe à autoridade responsável pelo cumprimento da diligência, ao realizá-la, precaver-se que o representado estará em um desses vários locais em que autorizada a medida. A autorização da medida nos termos pedidos, em qualquer quarto de hotel em que o representado, eventualmente, esteja, além de ser demasiadamente genérica, pode afetar outras pessoas que não estão envolvidas nos fatos investigados”, considerou o juiz do caso, Fernando Brandini Barbagalo.
Havia ainda a preocupação de que eventual abordagem no hotel, além de afetar outros jogadores, pudesse gerar tumulto, caso torcedores estivessem no local.
Esse argumento já derrubou, a reboque, a ideia de permitir que Bruno Henrique fosse abordado no meio da rua.
Dentro do que a Justiça permitiu, os agentes da PF cumpriram na manhã desta terça, na casa do jogador, no Rio, o mandado de busca e apreensão. Levaram o celular de Bruno Henrique já desbloqueado.
Agora, com o material apreendido em mãos, a tarefa é checar se há provas ou menções que apontem para um esquema de manipulação de partidas.
Bruno Henrique já constituiu advogados no inquérito para defendê-lo.