Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir o comando do Banco Central (BC) a partir de 2025, o economista Gabriel Galípolo afirmou, logo em sua primeira fala durante a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que pautará sua atuação à frente da autoridade monetária, caso tenha seu nome aprovado pelos senadores, pela total “liberdade” e compromisso com os interesses do país.
“É uma grande honra e uma enorme responsabilidade que eu tenho. Primeiro, pela atribuição que compete à autoridade monetária, de ser a guardiã da moeda. A confiança depositada nela é um dos pilares da sociedade civil organizada como nós a conhecemos”, afirmou o atual diretor de Política Monetária do BC.
Segundo Galípolo, “o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro” e “cada ação e decisão deve unicamente ao interesse do bem-estar de cada brasileiro”.
“Todas as conversas com senadoras e senadores foram no sentido de me assegurar a liberdade da gestão e demandar o compromisso com o nosso povo e o nosso país”, assegurou o indicado por Lula à presidência do BC.
“Sou filho e herdeiro dos avanços e conquistas dos brasileiros nas últimas quatro décadas. Nasci em 1982, quando os brasileiros ainda lutavam pelo direito de votar. Hoje tenho o privilégio de viver em um país considerado uma das principais democracias do mundo”, prosseguiu Galípolo.
O economista disse, ainda, que “existem numerosos desafios pela frente, como a construção de uma agenda capaz de tornar a economia mais equânime, o que envolve o permanente compromisso do BC no combate à inflação”.
“Os avanços e bloqueios observados correspondem aos pesos e contrapesos próprios do processo democrático. Eu prefiro sempre as dores do processo democrático do que as falsas promessas de atalho”, complementou.
“O Brasil apresenta hoje um superávit comercial sólido e estrutural, graças à produtividade e competência dos seus empresários, com destaque para a competitividade do setor agro brasileiro. Além disso, o Brasil se solidificou como exportador líquido de petróleo combinado a uma matriz energética limpa e diversificada. Ter segurança alimentar e energética são vantagens especialmente relevantes em momentos de tensões políticas elevadas.”
Indicação para a presidência do BC
Em fevereiro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto que deu autonomia ao BC e, assim, limitou a influência do Executivo sobre as decisões relacionadas à política monetária.
Pela regra vigente desde então, os mandatos do chefe do BC e do titular do Palácio do Planalto não são mais coincidentes. O presidente do banco, assim, assume o cargo sempre no primeiro dia útil do terceiro ano de cada governo. Com isso, o chefe do Executivo federal só poderá efetuar uma troca no comando da autoridade monetária a partir do terceiro ano de gestão. O mandato do atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, termina em 31 de dezembro de 2024.
Quem é Gabriel Galípolo
Gabriel Galípolo é formado em Ciências Econômicas e mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), instituição na qual também foi professor nos cursos de graduação, de 2006 a 2012.
Além disso, lecionou no MBA de PPPs e Concessões da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo). É também pesquisador sênior do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Sua passagem pela administração pública teve início em 2007, no governo de José Serra (PSDB) em São Paulo. Naquele ano, o economista chefiou a Assessoria Econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos e, em 2008, foi diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do estado de São Paulo.
De 2017 a 2021, Galípolo foi presidente do banco Fator, instituição com expertise em parcerias público-privadas e programas de privatização. Em sua atuação no banco, conduziu os estudos para a privatização da Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae), processo que teve início em 2018. Em 2021, o banco Fator e o BNDES lideraram o leilão da estatal, operação que arrecadou R$ 22,6 bilhões com a venda de três dos quatro blocos ofertados.
Como número 2 do Ministério da Fazenda na gestão de Fernando Haddad (PT), Galípolo teve a dura missão de gerir um rombo inicial de cerca de R$ 300 bilhões nos cofres públicos e acomodar uma demanda crescente por políticas públicas e promessas de programas sociais feitas na campanha.
Poucos meses após ter assumido como secretário-executivo da pasta, Galípolo deixou o cargo para integrar a diretoria do Banco Central (BC), por indicação de Haddad e Lula. Sua estreia no Copom “coincidiu” com a primeira queda da Selic desde que o ciclo de alta da taxa básica iniciou, em março de 2021.