O Dia Nacional de Doação de Órgãos, celebrado nesta sexta-feira (27) em todo o Brasil, reforça sobre a campanha “Devemos Falar Sim”, que destaca a importância de conversar com a família para manifestar o desejo de ser um doador. Até setembro de 2024, de 44 possíveis doadores no Acre, apenas três efetivamente fizeram a doação. A estimativa é que 182 pacientes possam estar na fila de espera no estado.
De acordo com a coordenadora da Central Estadual de Transplantes no Acre, Celiane Maria Alves, o principal motivo deste número é a recusa familiar, que no Acre é grande.
“A gente só pode manter o processo quando a família aceita doar, senão a gente encerra. Por isso que é tão importante o aceite da família em relação aos órgãos do Acre, porque à medida que a família aceita, um rim, em cada paciente são dois rins, um fígado e duas córneas. Isso quer dizer que a gente pode contemplar cinco pessoas”, explicou.
Celiane complementou que os órgãos que a Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre) não transplata, são ofertados para o sistema nacional que, dependendo da situação, são enviados de avião para os estados onde têm autorização para fazer o procedimento.
A Fundhacre é o único hospital transplantador do Acre e faz, atualmente, três tipos de transplantes sendo:
Somente em 2024, 39 transplantes de córnea e outros 11 de fígado foram feitos. Devido ao número de procedimentos realizados e da sobrevida geral dos pacientes transplantados no Estado, a Fundhacre se tornou referência nacional em transplantes. Além disso, conquistou em 2024 o recorde de transplantes de córnea em relação ao país.
Desde 2006, foram feitos 518 procedimentos na Fundhacre, sendo:
Os transplantes começaram a serem feitos na Fundhacre em setembro de 2006, com o primeiro transplante de rim. Logo depois, veio a habilitação para realizar transplante de córnea sendo feito o primeiro em outubro de 2009. Somente em abril de 2014, foi realizado o primeiro transplante de fígado.
Em 2019, a unidade de saúde perdeu a habilitação para fazer transplante de rim em 2019 e voltou a ser autorizada pelo Ministério da Saúde em maio deste ano. A Fundhacre assegura que em breve, deverá acontecer a habilitação para transplante de tecido ósseo.
A Fundhacre possui ambulatório especializado no atendimento de pacientes com indicação de transplantes ou que já foram transplantados. O hospital conta com uma equipe multiprofissional com enfermeiros, psicólogos, auxiliares administrativos e médicos especialistas.
Atualmente, em todo o país, 64.265 pessoas estão na fila para receber um órgão. No primeiro semestre deste ano, as doações caíram 2% em relação ao mesmo período de 2023. A falta de autorização das famílias foi o que mais pesou nessa queda. De janeiro a junho de 2023, a porcentagem de famílias que não autorizaram era de 40%. Agora, essa taxa subiu para 45%.
A doação de órgãos é a retirada de órgãos ou tecidos de uma pessoa viva ou falecida (doadores) para serem utilizados no tratamento de outras pessoas (receptores), com a finalidade de reestabelecer as funções de um órgão ou tecido doente.
O indivíduo que esteja necessitando do órgão ou tecido o receberá por meio de uma cirurgia chamada transplante. No transplante o órgão ou tecido presente na pessoa doente (receptor), é substituído por um sadio proveniente de um doador.
Podem ser doados rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestino, córneas, valvas cardíacas, pele, ossos e tendões. Com isso, inúmeras pessoas podem ser beneficiadas com os órgãos e tecidos provenientes de um mesmo doador.
Na maioria das vezes, o transplante de órgãos pode ser a única esperança de vida ou a oportunidade de um recomeço para as pessoas que precisam da doação. Todos os anos, milhares de vidas são salvas por meio desse gesto.
Pessoas vivas também podem ser doadoras de órgãos, mas apenas daqueles que não prejudicam as aptidões vitais do doador, como um dos rins, parte do fígado, da medula óssea ou parte do pulmão. Nestes casos, de acordo com a legislação, parentes até o quarto grau podem ser doadores. Não parentes, somente com autorização judicial. No Acre, só são possíveis transplantes em pessoas mortas como doadores.
No Brasil, no caso de doadores mortos, ainda que a pessoa tenha se declarado doadora, antes da morte através do RG ou por um certificado online, é a família que tem a palavra final.
Celiane conta que o processo de doação acontece à medida em que a instituição é informada através da busca, pela organização de procura de órgãos, que é feita diariamente no HUERB e nas UTIs de Rio Branco. À medida que a equipe é informada e é reconhecido, através dos protocolos que o paciente é um potencial doador, é feito um eletroencefalograma para poder realmente confirmar a morte encefálica.
Após o exame, o neurologista dá um laudo, e posteriormente é informado à família que o paciente está em morte encefálica.
“Após a morte encefálica, nós da Central do Transplante e Organização de Procura de órgãos é que vamos entrevistar a família para ver a possibilidade de doação ou não. Se a família diz sim, a gente continua o processo. Se a família diz não, a gente agradece e se despede da família”, comenta ela.
A família do doador não precisa arcar com os custos da doação. Não existem custos nem ganhos financeiros com o processo de doação de órgãos. Tudo é providenciado pelo Sistema Único de Saúde.
A coordenadora da central de transplantes afirma que quando a doação de órgãos acontece, a informação é registrada no sistema nacional, para que seja verificada a compatibilidade do doador com o receptor.
“Se o órgão é aceito para ser transplantado em Rio Branco, o fígado, os rins e as córneas, automaticamente o paciente será transferido para a Fundhacre para que seja transplantado no paciente. As córneas a gente manda para serem preparadas no Banco de Olhos de Brasília e retornam para fazer implante local nos pacientes do Acre”, esclarece Celiane.