“Talvez o impacto deva chegar um pouco depois (de setembro). Há uma inércia para chegar, porque primeiro muda a característica do mar. Essa mudança da temperatura na superfície altera a circulação atmosférica e é assim que chega ao Brasil o impacto do que ocorre na superfície do mar do Pacífico”, explica o meteorologista pesquisador do Centro de Excelência em Estudos, Monitoramento e Previsões Ambientais (Cempa), baseado na Universidade Federal de Goiás (UFG), Angel Domínguez Chovert.
O meteorologista e consultor climático Francisco de Assis Diniz descreve os traços típicos do La Niña.
“Ele causa chuva em excesso nas regiões Norte e Nordeste, entre o Centro e o Norte do País, e causa ausência de chuva na região Sul, em Argentina e no Paraguai. Dependendo da época do ano, se for no período de inverno, ele facilita o avanço das massas de ar frio pelo Brasil, causando aquelas ondas de frio.”
O roteiro de La Niña
Embora os aspectos mais comuns sejam os citados acima, a ocorrência do La Niña não segue sempre esse roteiro. Chovert, que também atua no Centro de Excelência em Agricultura Exponencial (Ceagre), prevê que o La Niña deste ano não será tão forte como em anos anteriores.
O mais recente desse fenômeno atuou por parte de 2020, 2021 e 2022, e parte de 2023.
“Na região Sudeste, espera-se temperaturas um pouco abaixo da média. É um período quente no país como um todo. Vamos esperar que as temperaturas no Centro-Oeste e no Sudeste fiquem um pouco abaixo da média, a chuva aumente no Norte e no Nordeste, e a precipitação fique dentro do esperado para a região Sul”, detalha Chovert.
Atualmente, as medições indicam que há um resfriamento de 0,3 °C nas águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial em relação à média climatológica (1991-2020). Para considerar a variação La Niña, a diminuição precisa alcançar pelo menos 0,5 °C. No caso do El Niño, o 0,5 °C tem de ser para cima.
Emergência climática
Atualmente, como a variação não alcançou o parâmetro que caracteriza La Niña ou El Niño, climatologistas e meteorologistas explicam que estamos em um período de neutralidade. Há expectativa de um La Niña moderado para parte deste ano e início do próximo.
Um dos motivos para o La Niña ser moderado é que há ilhas de calor nos oceanos, de maneira geral, e tal condição contribui negativamente para a redução das temperaturas superficiais no Pacífico Equatorial. Há suspeita de que o aquecimento global esteja relacionado a esse desequilíbrio.
“Os padrões que a gente tinha como referência do que poderia ou não provocar esse tipo de evento não são mais tão certos”, alerta o meteorologista do Cempa.
Diniz lembra que havia previsões de que o fenômeno se apresentasse no segundo trimestre deste ano. “Os modelos vinham indicando este La Niña para o meio do ano, mas não aconteceu. Os oceanos ainda continuam muito quentes e não estão deixando o La Niña se propagar”, explica.
A confirmação da ocorrência do La Niña precisa de tempo, pois os pesquisadores analisam períodos maiores, e não apenas alguns dias. Além disso, a ocorrência do fenômeno no Pacífico não implica efeitos imediatos na superfície terrestre. Os efeitos chegam por meio de interações que ocorrem na atmosfera.
Chovert chama a atenção para a duração do fenômeno. “No primeiro trimestre de 2025, o La Niña começa a perder força, e, possivelmente no segundo trimestre, ou no fim do primeiro trimestre, passamos novamente a uma fase de neutralidade.”