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Em Rio Branco, ativista já resgatou mais de 230 cães das ruas

“Nem ONG, nem abrigo. Um ser humano como você”. É dessa forma que Isabella Macowski descreve sua incansável atuação em prol da causa animal, em Rio Branco. Nos últimos anos, ela retirou das ruas e facilitou a adoção de 233 cachorros, muitos encontrados em estado deplorável de saúde.

Para isso, a ativista mantém um espaço que serve de abrigo temporário aos animais resgatados até que encontrem um lar definitivo, onde receberão o amor e o carinho que lhes foram negados nas ruas. O local, construído no jardim de um depósito, abriga, atualmente, nove cães, todos à espera de uma nova família.

Tudo começou em 2014, quando a assessora jurídica viu, por intermédio da ONG Amor a Quatro Patas, um anúncio de adoção de um filhote de cachorro. Lucky, como foi apelidado, vivia nas ruas e estava com as patinhas cheias de parasitas, lembra a ativista.

O pequeno Lucky, já saudável, no dia da adoção – Foto: Cedida

“Estava muito feinho, dava até um negócio ruim de olhar, mas decidi que era ele que eu queria. Lucky foi crescendo, fui acompanhando a evolução dele e pensei em como é satisfatório sentir essa mudança e fazer parte dela”, comenta.

E foi a partir da transformação de Lucky que Isabella sentiu a necessidade de atuar na causa animal. “Essa sensação de que fiz a mudança acontecer no cãozinho foi tão boa e gratificante, que decidi repetir. Comecei a pensar em como poderia ajudar outros animais”.

Foi então que a assessora jurídica se voluntariou, em momentos distintos, nas ONGs Amor a Quatro Patas e Patinha Carente, chegando a ser coordenadora em uma delas. Em pouco tempo, a ativista adotou outros seis cachorros de rua para viver com ela em sua residência. “E aí ficou impossível trazer mais”, lamenta.

Isabella: “Muita gente se sensibiliza, e eu sou só gratidão” – Foto: Cedida

Lar provisório

Porém, com o surgimento de um novo caso de abandono, Isabella resolveu usar parte do quintal de um depósito de sua mãe para abrigar, temporariamente, o recém-chegado Sansão.

“Olhei e falei: dá pra colocar mais um aqui. Mas aí apareceu outro e levei também. O Sansão foi adotado e logo foi substituído no abrigo por mais um animal. Daqui a pouco, já eram três. Então, comecei a divulgá-los para adoção e pedir apoio para ração, e deu muito certo”.

Com o sucesso das campanhas, Isabella decidiu manter o depósito como lar provisório para outros animais de rua. No entanto, ela não conseguia mais conciliar sua atuação solo com o voluntariado em uma das associações. Assim, passou a se dedicar, exclusivamente, aos seus animais resgatados, embora ainda colabore eventualmente com a ONG.

Evolução de um dos 233 animais resgatados pela ativista – Fotos: Cedidas

“Como as pessoas compraram a ideia, decidi fazer uma vaquinha para construir duas casinhas e assim colocar ainda mais animais na área. Novamente deu certo e hoje existem três ambientes no lugar: duas mansõezinhas, como gosto de chamar, e um corredor”, brinca.

A ideia da ativista foi criar um sistema de rotatividade, ou seja, os cães resgatados e tratados são transferidos para o lar provisório de Isabella e depois colocados para adoção. “Por enquanto está dando certo”, comemora. “Enquanto eles estão lá, eu tento dar a melhor qualidade de vida possível, embora não seja o local mais ideal, porque não mora ninguém lá”, afirma Isabella, que visita o espaço uma vez por dia.

Lar provisório construído por Isabella para abrigar temporariamente os animais resgatados – Foto: Cedida

Ajuda das redes

Isabella Macowski  compartilha seu dia a dia de resgates e cuidados com os bichinhos em seu perfil no Instagram (@macowskibella), que já conta com quase 40 mil seguidores. Quando recebe informações de animais em situação delicada, ela vai até o local e filma tudo para sensibilizar seus seguidores sobre a realidade da vida canina nas ruas.

“É para as pessoas verem exatamente o que estou vendo e sentir o que estou sentindo. Por isso, faço questão de mostrar a realidade”.

Em seu perfil, a ativista publica a evolução de cada animal resgatado, após os cuidados, e apresenta ainda a prestação de contas de todo o dinheiro que recebe das doações. Ela esclarece que esse processo só é possível graças ao apoio de seus seguidores, que adotam, doam alimento e dinheiro ou compartilham os pedidos de adoção.

Hoje, o abrigo tem nove cães resgatados à espera de tutores – Foto: Cedida

Isabella revela que já chegou a receber R$ 1 mil de uma única pessoa. “Muita gente se sensibiliza, e eu sou só gratidão, porque acho de uma confiança tamanha alguém depositar seu rendimento nas mãos de outra pessoa e acreditar que ela vai administrar de forma coerente com o que ela está se propondo. Me sinto muito honrada mesmo”.

Para receber as doações, ela criou um pix só para os animaizinhos resgatados. Os interessados podem contribuir com qualquer quantia para a chave 68 99238-2228 (celular). Esse é o mesmo número que pode ser contatado para as adoções.

Buck perdeu os dois olhos nas ruas, mas hoje está com saúde e à espera de uma nova família – Foto: Cedida

Adoção criteriosa

Quem quiser adotar um dos nove cachorros disponíveis vai passar por uma entrevista para saber se está apto a criar um pet. Se houver outros animais no lar, o cãozinho fará um teste de interação. Se tudo der certo, é assinado um termo de adoção e, assim, o animal passa aos cuidados de seu novo tutor.

Isabella agradece todas as 233 adoções, mas lamenta que a maioria das pessoas queira apenas filhotes. Segundo ela, adotar um cachorro adulto pode ser mais vantajoso. “Filhotes são uma caixinha de surpresa. Como são vira-latas, você não sabe o porte e nem a personalidade”.

Zaya é paraplégica e sonha em ganhar um novo lar – Foto: Cedida

O morador mais antigo do lar provisório é Damasco. Desde que ele chegou ao local, a ativista perdeu as contas de quantos filhotes já foram adotados. “E ele, infelizmente, continua lá…”. Ao refletir sobre sua atuação, Isabella diz que faz sua parte como ser humano.

Damasco é o morador mais antigo do espaço e ainda aguarda adoção – Foto: Cedida

“O que eu tento transmitir às pessoas é que, do mesmo jeito que eu faço somente o que dá pra ser feito, cada um pode fazer o mesmo, seja adotando, doando ou compartilhando. Ver o sofrimento me dói, seja de gente, cachorro ou de qualquer outro ser vivo. É isso o que me motivou desde o começo. Você não precisa esperar por uma associação, pelo poder público, por nada e nem ninguém pra fazer a sua parte”.