A adolescente de 14 anos grávida, que foi filmada por uma técnica em enfermagem no Hospital da Mulher e da Criança do Juruá, em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, foi vítima de estupro de vulnerável. A informação foi confirmada pela Polícia Civil, com base nas apurações do delegado Renan Santana, que está à frente do caso.
Segundo o delegado, a investigação ainda vai apurar se a unidade de saúde teria reportado o caso às autoridades assim que a menina deu início ao pré-natal, por se tratar de estupro de vulnerável.
“É dever de todo estabelecimento de saúde e educação informar casos de violação de direitos das crianças e dos adolescentes. Logo, caberia sim o acionamento da polícia assim que iniciou o pré-natal. Não há como falar que a maternidade foi omissa porque diante dos levantamentos que já fizemos, já foi instaurado inclusive um procedimento administrativo. Ou seja, isso inevitavelmente vai chegar ao conhecimento da polícia também. Mas, a minha preocupação e da Polícia Civil é se, porventura, essa adolescente já vem fazendo seu pré-natal desde, por exemplo, o primeiro mês ou segundo mês de gestação, ou seja, ainda com 13 anos, e isso ainda não tenha sido informado ou ao Ministério Público ou à Polícia Civil para que tenha sido tomadas as medida cabíveis”, diz.
Exposição em rede social
Adolescente de 14 anos foi filmada por técnica em enfermagem.
O caso chegou à polícia quando a técnica em enfermagem Narjara Lima, que se apresenta nas redes sociais como criadora de conteúdo, publicou um vídeo em que conversa com a menina de 14 anos, e faz perguntas sobre a gravidez, dentro da maternidade. Somando perfis no Instagram e no Tiktok, Narjara tem 70 mil seguidores, e o vídeo publicado por ela teve cerca de 4 milhões de visualizações até ser apagado.
No vídeo, que já foi apagado da rede social de Narjara, a profissional pergunta à menina se é o primeiro filho, ao que ela responde “primeiro e derradeiro”. A técnica pergunta a idade da menina, e afirma: “Tu é um bebê!”, e dá risada. Ela também pergunta qual o sexo do bebê, e a adolescente responde que é um menino.
Na sexta-feira (4), após a repercussão do caso, Narjara publicou uma série de stories negando qualquer intenção de expor a adolescente. Em depoimento à polícia, ela alegou que a prática de divulgar pacientes é comum na maternidade onde trabalha e que apenas registrou o momento por considerá-lo uma ocasião feliz de sua rotina. Ela ainda afirmou que teve o consentimento da adolescente para gravar os vídeos, mas não solicitou autorização para publicá-los.
O delegado também relatou que ouviu a adolescente informalmente na maternidade, e que ouviu da menina que a profissional de fato pediu autorização para gravar o vídeo, mas não mencionou que iria publicar o conteúdo. A menina também disse ter ficado assustada com a repercussão do vídeo.
“A adolescente foi ouvida informalmente por mim ainda na maternidade. A família não atendeu ao primeiro chamado da polícia e saiu às pressas do hospital assim que ela teve alta médica. Os investigadores foram até o hospital na sexta tentar contato com a família e está havia saído. Ao retornar já pegaram os pertences e foram embora às pressas do hospital e não aguardaram a polícia chegar para levantar maiores informações”, afirma Santana.
Narjara Lima reúne 70 mil seguidores em redes sociais. Ela afirma ter pedido autorização para filmar adolescente — Foto: Reprodução
Ao g1, o Hospital da Mulher e da Criança do Juruá informou que a unidade segue um protocolo de atendimento, e que está sendo aplicado devidamente. Ainda na sexta, a unidade divulgou nota na qual afirma que os servidores são orientados a tratar os pacientes com ética, e que vai averiguar o caso.
“O Hospital da Mulher e da Criança do Juruá vem por meio desta nota esclarecer que jamais se eximiu de estar cumprindo seu papel social e que todos os servidores são orientados a tratarem os pacientes com ética, respeito e humanização. Casos isolados de profissionais que não cumprem as normas e rotinas da instituição, assim que chegarem ao conhecimento da Direção da Unidade, serão averiguados e tomadas as medidas cabíveis”, ressaltou.
À Rede Amazônica Acre, a gerente regional da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre) no Juruá, Diane Carvalho, afirmou que a conduta da servidora será apurada.
“Enquanto instituição, nós vamos abrir um processo administrativo para apurar todos os fatos. A conduta será devidamente tomada, de acordo com o que determina a lei”, informou.