Pela primeira vez na história, o Acre aparece no Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (Canie) após terem sido encontradas dentro do Parque Nacional da Serra do Divisor quatro cavernas. A equipe do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio/Cecav) fez a primeira expedição no local em setembro de 2021.
Em 2020, Edson Cavalcante, moradora da unidade de conservação, divulgou que havia encontrado uma caverna há muitos anos enquanto fazia trilhas dentro do parque. Apesar de ter encontrado a cavidade há pelo menos 15 anos, ele disse que não sabia que a descoberta era relevante. Logo depois, Edson, que era o morador mais antigo da unidade morreu vítima de Covid. Hoje, a caverna leva o nome dele.
“Não sabia que isso interessava a alguém. Acho que está com uns 15 anos que achei, até que no ano passado vieram uns alemães aqui e comentei sobre essa caverna e de uns lagos que achei. Eles disseram que informariam para um amigo. Só assim, eu soube que eu devia ter divulgado. Agora, vou sempre dizer tudo que eu encontrar aqui dentro do parque”, explicou na época.
Naquele ano, o Cecav passou a colher informações e em setembro esteve no local. “Acompanhados da equipe do parque, estivemos na caverna encontrada há anos atrás pelo senhor Edson e lá foram coletadas informações sobre a localização e dimensões da cavidade. Pessoas da comunidade Pé de Serra também nos acompanharam nesta visita e depois nos levaram a outras localidades onde identificamos mais três cavidades, todas dentro da área do parque, não muito distantes da sua sede”, explica o analista ambiental do centro, Mauro Gomes.
O resultado dessa expedição foi divulgado em artigo científico em abril de 2022. A expedição foi entre 20 e 29 de setembro de 2021, com deslocamento terrestre de cerca de 1 hora do município de Cruzeiro do Sul ao município de Mâncio Lima e 8h de barco, subindo o rio Môa até a comunidade de Pé de Serra, aos pés da Serra do Divisor, onde se localiza também a base operacional da unidade de conservação.
“Ao todo foram registradas 3 cavernas com desenvolvimento linear variando entre 35,5 metros a 10,7 metros e um abrigo com desenvolvimento linear de 5,7 m, todos em arenito”, destaca o artigo.
O estudo também destaca que as cavidades já tinham sido descobertas pelos moradores do local, que, inclusive, ajudaram como guias apontando os locais.
- Gruta do Edson
A primeira caverna levou o nome do seu descobridor, Edson. “Esta foi a primeira caverna do parque, e consequentemente do Estado do Acre, da qual se teve notícia da existência”, pontua o artigo.
- Toca da Onça
No dia 24 de setembro de 2021, a equipe subiu novamente o rio Môa em direção à caverna Toca da Onça, a mais próxima da localidade. A trilha começa na margem esquerda do rio Môa.
- Toca da Paca
A caverna Toca da Paca foi encontrada por comunitários durante a expedição, o que demonstra o potencial espeleológico da região. No dia seguinte à descoberta (25/09) a equipe subiu o rio Môa em direção à caverna que foi batizada de Toca da Paca. A trilha começa na margem esquerda do rio.
- Abrigo do Apertado da Hora
Além das 3 cavernas, a expedição também identificou um abrigo na margem esquerda rio Môa. Batizado de Abrigo do Apertado da Hora.
Incentivo ao turismo
“Ao final da expedição foi realizada uma reunião com os comunitários e lideranças locais para compartilhar os resultados obtidos e incentivar a busca por cavidades no intuito de incrementar o turismo no Parque Nacional da Serra do Divisor. Este exemplo de agenda positiva é bem recebido pela população local e neste sentido a equipe do CECAV está em contato com esta Unidade de Conservação para sempre que possível, aprimorar os dados iniciais”, destaca.
O Anuário Estatístico do Patrimônio Espeleológico Brasileiro 2021registrou essas quatro cavernas na edição divulgada em 2022, com dados de 2021. O relatório anterior não constava o Acre como estado em que tivesse caverna.
“A expedição cumpriu o objetivo de cadastrar e topografar as primeiras cavernas identificadas no Estado do Acre, porém, novos levantamentos são necessários para melhor caracterização das cavernas já inventariadas, bem como verificar a existência de outras cavidades no Parque Nacional da Serra do Divisor”, destaca.
Desde 2006, o ICMBio/Cecav disponibiliza dados sistematizados das cavernas brasileiras. Inicialmente por meio da Base de Dados Geoespacializados das Cavernas do Brasil que, em sua primeira edição contava com 4.448 cavernas cadastradas. A quantidade de cavernas conhecidas no Brasil em mais de um século chegou a 22.623 em 201, segundo o anuário.
- Fonte: g1 AC.