Novo amendoim forrageiro tem alto teor de proteína e pode aumentar produção pecuária, aponta pesquisa

POR IRYÁ RODRIGUES, G1 AC l Uma nova modalidade de cultivar amendoim forrageiro foi desenvolvida pela Embrapa no Acre e se destaca, principalmente, pela alta concentração de proteína, elevada produtividade de forragem e maior tolerância à seca. A tecnologia é alternativa para intensificar a produção de carne e leite e viabilizar uma pecuária com pasto mais sustentável.

Resultado de 15 anos de avaliação e seleção de materiais genéticos, a nova cultivar “BRS Oquira” foi testada nas condições de clima e solo da Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado. A pesquisa foi coordenada pela Embrapa Acre e contou com a parceria da Embrapa Cerrados (DF), Embrapa Amazônia Oriental (PA), Embrapa Pecuária Sudeste (SP) e Embrapa Gado de Corte (MS).

A tecnologia está registrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e passou a ser comercializada por viveiristas de três estados (Acre, São Paulo e Ceará), credenciados pelo Mapa e licenciados pela Embrapa. No Acre, a estimativa de produção de mudas da cultivar é de 16 toneladas por ano, com colheita a cada quatro meses.

Os estudos mostraram que, em cultivos adubados e irrigados, o teor de proteína bruta na planta chega a 29%, valor que garante alimento de qualidade para o rebanho e melhora a produtividade animal.

Viveiro de amendoim forrageiro — Foto: Arquivo/Embrapa

A coordenadora do Programa de Melhoramento Genético do Amendoim Forrageiro, da Embrapa Acre, pesquisadora Giselle de Assis, explica que, diferente de outras leguminosas que concentram a proteína nas folhas, o amendoim forrageiro possui elevado teor proteico também nos talos, característica que possibilita uma forragem de alta qualidade.

Em experimentos sem adubação e irrigação, a cultivar BRS Oquira apresentou 22% de proteína bruta, teor de fibra em torno de 43% e 68% de digestibilidade de matéria seca (forragem).

“A recomendação é justamente para essa nova cultivar ser utilizada na alimentação animal, com foco no consórcio de pastagem. A ideia é que o produtor que já planta a gramínea, que é o capim, possa introduzir o amendoim forrageiro no sistema dele de produção. A cultivar se mostrou muito bem adaptada e está sendo recomendada não só para o bioma Amazônia, mas também para a Mata Atlântica e Cerrado e ele tem alta produtividade, então, mostrou uma produção maior de forragem em relação a outras cultivares que já existem. Além disso, ele foi pesquisado em sistemas intensivos de produção e se mostrou uma forrageira de uma qualidade tão elevada quanto a da alfafa, que é uma leguminosa forrageira considerada a rainha das leguminosas, a mais utilizada e de excelente valor nutritivo”, explicou Giselle.

Novo amendoim forrageiro tem mais proteína e produtividade em três biomas — Foto: Arquivo/Embrapa

Mais alimento para o gado

Por ser nutritivo e palatável, o amendoim forrageiro pode ser usado na dieta de bovinos, equinos e ovinos, sob pastejo direto, em pastos consorciados com gramíneas, em plantios puros que funcionam como bancos de proteína ou fornecido no cocho como forragem verde picada, feno e silagem.

Conforme a pesquisadora, a BRS Oquira demonstrou alto desempenho também na produtividade de forragem, em relação a outras cultivares de amendoim forrageiro.

Em cultivos sem uso de adubação e irrigação, a nova cultivar produziu entre 13 e 16 toneladas de massa seca de forragem por hectare/ano na Amazônia, enquanto, no Cerrado, a produção variou de 10 a 13 toneladas por hectare/ano. No bioma Mata Atlântica, experimentos adubados e irrigados produziram entre 15 e 20 toneladas de matéria seca por hectare/ano.

“Esse desempenho representa um aumento que varia de 10% até 44% na produtividade de forragem, capaz de proporcionar ganhos reais na produtividade do rebanho”, afirmou Giselle.

Resultado de 15 anos de pesquisa, nova cultivar é uma opção alimentar para bovinos, equinos e ovinos — Foto: Arquivo/Embrapa

Alta resistência e perenidade

Além do elevado valor nutritivo e alto desempenho na produção de forragem, os estudos revelaram alta superioridade da BRS Oquira em outros aspectos que influenciam a eficiência da tecnologia.

“Uma vantagem também, até para a gente aqui do Acre, é que esse material tem uma tolerância maior ao período seco. Apesar de estarmos na Amazônia e aqui a gente ter uma precipitação mais elevada que outras regiões, a gente passa melhor por esse período”, afirma a pesquisadora.

Outra característica que confere perenidade a pastos consorciados com a cultivar é que, mesmo associada com gramíneas de maior porte, em condições de sombreamento, se desenvolve bem.

Além disso, por ser uma espécie que possui caule com diversos pontos de enraizamento, a nova cultivar consegue se multiplicar rapidamente na pastagem e cobrir totalmente o solo, aspecto que evita processos erosivos e confere persistência quanto ao pastejo e pisoteio do gado.

Os resultados da pesquisa mostraram ainda que a nova forma de cultivar de amendoim forrageiro também é tolerante a solos encharcados. Essa característica possibilita o consórcio com gramíneas adaptadas a essa condição, em áreas afetadas pela ‘síndrome da morte do braquiarão’, doença associada ao encharcamento do solo e ataques de fungos, considerada o principal fator de degradação de pastagens na Amazônia.

“Aqui no Acre tivemos, nos últimos 20 anos, uma degradação muito intensa das pastagens, causada pela chamada síndrome da morte braquiarão. Como temos solos com drenagem insuficiente e temos uma precipitação elevada, vários meses do ano esse solo fica encharcado e aí esse capim não tolera esses solos, fica debilitado e suscetível a fungos que estão nos solos e são patogênicos. E o amendoim forrageiro é tolerante a esse ambiente. Então, onde o capim marandu morreu porque encharcou pode plantar essa cultivar do amendoim e outro capim e vai ajudar a fazer a recuperação dessas áreas”, explicou a pesquisadora.

Nova cultivar também tem elevado potencial para fixação biológica de nitrogênio nas pastagens — Foto: Arquivo/Embrapa

Adubação natural para a pastagem

A cultivar BRS Oquira também é capaz de realizar a fixação biológica de nitrogênio nas pastagens, processo que melhora a fertilidade do solo e contribui para o desenvolvimento das plantas.

De acordo com a pesquisa, por meio da associação com bactérias que vivem no solo e se alojam nas suas raízes, a leguminosa captura nitrogênio do ar e o disponibiliza para as plantas.

“O grande diferencial é que a pastagem consorciada mantém sua produtividade ao longo do tempo, porque dificilmente o produtor faz a adubação nitrogenada na pastagem dele, porque o adubo aqui para o Acre é muito caro e o amendoim forrageiro e a nova cultivar faz essa adubação naturalmente. Como ela é uma leguminosa, se associa com bactérias que estão no solo e elas retiram oxigênio do ar e disponibilizam de uma forma que as plantas conseguem absorver. É como se o produtor tivesse fazendo uma adubação nitrogenada de forma natural, tem um custo de implantação, mas depois não tem custo de manutenção anual. A pastagem se torna produtiva, ou seja, não entra em estado de degradação e o produtor não tem esse custo”, afirmou.

A pesquisa revelou ainda que o consórcio de gramíneas com a cultivar de amendoim forrageiro BRS Oquira também melhora o desempenho produtivo do rebanho. Resultados parciais de estudos em andamento mostram que, enquanto em pastos formados somente com gramíneas os animais engordaram 450 gramas por dia, em pastagens consorciadas com a BRS Oquira o ganho de peso subiu para 566 gramas/animal/dia, um incremento de 25% na produtividade do rebanho.