O Censo Agro 2017, um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que dos 37,3 mil produtores agropecuários do Acre, 2,3 mil são indígenas, o que equivale a 6% do total. Os dados são relacionados ao mês de dezembro.
O Censo Agro 2017 aponta ainda que, entre os 7 estados da região Norte, o Acre tem a 4ª maior presença de indígenas na produção agropecuária, à frente de Tocantins (1%), Pará (0,8%) e Rondônia (0,5%). O estado de Roraima lidera com 33%.
No levantamento do IBGE, a maior parte dos produtores acreanos se declarou como pardos, com 24 mil (64%).
Um dos modelos mais usados pelos povos tradicionais do estado é o sistema agroflorestal (SAF), que consiste em combinar o plantio de árvores ou arbustos com cultivos variados para consumo e comercialização. Essa diversidade aproveita melhor os recursos naturais, como solo, água e luz.
Na Associação Ashaninka do Rio Amônia (Apiwtxa), por exemplo, essa iniciativa foi responsável pelo reflorestamento de quase toda a área da Aldeia, após a demarcação da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia na década de 1990.
Atualmente, esta atividade dos agentes tem o apoio por meio do projeto Nossas Futuras Florestas – Amazônia Verde, uma parceria da Conservação Internacional (CI Brasil) com a Associação Apiwtxa. Dentro das ações executadas no projeto, está a contratação de dois agentes agroflorestais na comunidade para ampliar o alcance de suas atribuições.
Graças ao trabalho planejado de produção agroflorestal, na Apiwtxa a alimentação é balanceada e equilibrada. Com o sucesso da atividade, os Ashaninka estão se organizando para iniciar a comercialização da produção.
A produção agrícola em territórios indígenas contribui para a conservação da floresta na região. É o que aponta uma pesquisa feita em parceria pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal do Acre (Ufac) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), entre 2016 e 2020, na Terra Indígena Kaxinawá de Nova Olinda, em Feijó, no interior do Acre.
À época, o pesquisador Tomaz Lanza destacou que esses povos têm uma agricultura mais ligada com a floresta do que a convencional.
“Sem dúvida, essa forma de cultivo, de fazer agricultura, cultura de relação com as plantas alimentícias, é muito importante para a conservação da biodiversidade no Acre. É uma agricultura resiliente que vem sendo utilizada e praticada há várias gerações, é altamente produtiva e não observei problemas significativos com pragas e doenças. São sistemas diversificados, dificilmente eles plantam uma cultura só”, contou.
Já em Mâncio Lima, o povo Puyanawa criou uma associação com o objetivo de garantir à comunidade acesso a benefícios por meio de projetos com financiamento externo. O projeto se destaca pela produção de macaxeira e sacas de farinha, e também trabalha pelo reflorestamento da região.
“Nosso foco é na agricultura da macaxeira, além de outros projetos ligados ao ecoturismo e hoje a comunidade tem um valor por conta da organização social que conseguimos manter. Nessa produção de macaxeira, toda a comunidade participa, menos os idosos e crianças. Temos 14 casas de farinha dentro da comunidade, ainda não estamos dentro dos parâmetros da Vigilância, mas estamos nos adequando”, disse o líder indígena Puwe Puyanawa.
Também em Mâncio Lima, um projeto sobre segurança alimentar dentro de aldeias, com foco em técnicas sustentáveis foi contemplado na 2° rodada do Programa Mulheres Indígenas Lideranças da Amazônia. O projeto da estudante de agroecologia, a indígena Puyanawa, Caroline da Costa, recebeu à época 10 mil dólares.
Além de ensinar técnicas sustentáveis, a estudante também pretende monitorar a venda de frutos, por exemplo. O programa tem o intuito de fortalecer as lideranças femininas indígenas, por meio do incentivo à atuação de mulheres nessa área.
“Esse projeto tem como objetivo reunir, fortalecer a liderança da jovem, da mulher. A gente pode reunir os anciãos, jovens e mais mulheres para esse campo de agricultura, porque sabemos que esse campo de produtores e agricultores é um campo muito machista, onde se vê poucas mulheres, mas que é importante porque fortalece essa causa, além de trazer sustentabilidade para nossas aldeias”, explica.