Os palhaços de ocasião: artigo sobre os pedidos de impeachment do governador

Lá em Epitaciolândia, onde nasci e vivei boa parte da minha infância e pré-adolescência, sempre ouvia dona Sílvia, minha mãe, em conversas com suas comadres, que uma pessoa dessas que costuma fazer de tudo para chamar atenção sobre si e para querer aparecer, deve pendurar uma melancia no pescoço e sair a desfilar por onde mais gente houver. Melancia, a fruta, no pescoço, é uma forma educada de me fazer entender. A expressão verdadeira e real envolve um penacho em forma de espanador enfiado… bem, o leitor já deve ter percebido onde quero chegar, o que não o faço em face de este site também ser lido por crianças e mocinhas pudicas, além de pessoas que não merecem ler uma coisa chula. Mas a vontade é no corpo inteiro.

E isso me vem à lembrança quando vejo no noticiário que, neste momento, já há dois pedidos de abertura de impeachment contra o governador Gladson Cameli na Assembleia Legislativa, face às investigações da Polícia Federal na chamada Operação Ptolomeu, que envolve familiares do chefe do Executivo e seus assessores. Até aí, tudo bem. Faz parte do jogo político, embora seja no mínimo antipático um pedido de cassação de um governante antes da conclusão das investigações ou uma decisão judicial, principalmente num país cuja Constituição consagra a presunção da inocência e onde também a própria Polícia Federal, em conluio com o Ministério Público Federal (MPF) e setores do Judiciário já cometeram tantos erros e destruíram tantas reputações cujos atingidos jamais vão poder recuperar as vidas que tinham anteriormente, com honrosas exceções. No Acre mesmo, tivemos uma operação chamada G7, executada pela mesma Polícia Federal por ordem de uma magistrada ordinária e um delegado sem qualquer escrúpulo.      

Mas, afora isso, que é algo absolutamente nojento quando sabemos que pessoas, como o empresário Carlos Sassai, chegaram a morrer e só foram inocentados depois de mortos ou quando foram condenados pela população sem a menor chance de defesa, é a gente ver quem assina os dois pedidos de impeachment contra o governador. O primeiro, apresentado por um policial civil de nome Leandro Costa. O segundo, pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário local, Isaac Ronalti. Noutras circunstâncias poderia se dizer que eles têm capacidade de postular o que pedem, como se diz no Direito, posto que estão no gozo de seus direitos políticos.

O problema, porém, é exatamente este: os dois são, por assim dizer, dois políticos menores, desses que são capazes de fazerem de tudo para aparecer, até meterem um penacho… bem… o leitor sabe onde…, para chamarem atenção sobre seus insignificantes nomes. É que ambos são candidatos a qualquer coisa este ano e, sem votos, base ou discurso, apenas com a cara de pau, querem entrar num debate no qual não conseguem ser nem coadjuvantes.

Aliás, nem é preciso, em relação ao segundo postulante, invocar o testemunho do desembargador Francisco Djalma, ex-presidente do Tribunal de Justiça do Acre, sobre as razões da suspensão do convênio do Sindicato dos Servidores com bancos consignados na época em que o gajo presidia a entidade dos serventuários. Em relação a outro, basta se analisar a quantidade votos que ele obteve em outras vezes em que postulou um mandato de qualquer coisa. Os votos que obteve, se fossem ainda em físicos e em cédulas, não encheriam uma cuia de tacacá.

O mais ridículo nesses pedidos, além da ilegitimidade de quem os pede, por mero interesse eleitoreiro e aventureiro de quem quer aparecer e por isso seria mesmo capaz de usar o citado penacho, é que as pessoas de direito, aqueles postulantes capazes, como os deputados, incluindo os de oposição ao governo e ao governador, estão calados. Edvaldo Magalhães (PCdoB), Daniel Zen (PT) e Jenilson Leite (PSB), este último candidato a governador e com sobejas razões para tentar tirar Gladson Cameli de seu caminho, deputados com a legítima capacidade de postular tais pedidos, estão quietos, ao que parece, à espera de mais acontecimentos por terem consciência de que, o que apareceu até aqui, não seria suficiente para tanto.

Mas, no entanto, aqueles palhaços de ocasião, capazes de qualquer coisa por alguns instantes de fama, vem ao gargarejo do palco como se não fossem personagens de última categoria e que, se investigados, eles, sim, é que teriam problemas. O Acre ainda é uma aldeia, onde aqui se sabe tudo sobre a vida de todos. Minha mãe tinha razão quanto à melancia. Ou, como eu digo, o penacho.

  • Por Tião Maia, para o AcreNews.