O látex que já foi a principal fonte de riqueza do Acre, pode ser viabilizado como alternativa econômica para que famílias indígenas tirem seu sustento da floresta sem a necessidade de desmatar.
Essa é uma das apostas do Instituto Arara Encantada. Idealizado por Daosha, Txãda, Kūta Shawã e Shawã Aruá. Para realização do projeto, o instituto obteve uma área através de doação de parceiros que confiaram no projeto e acompanham até hoje. A área está localizada no ramal do Besouro, município de Porto Walter-AC.
Segundo os idealizadores do projeto, a decisão de realizar as ações em área próxima, porém fora da Terra Indígena, tem relação com a atuação de missionários evangélicos nas aldeias, em razão de o grupo fazer uso da ayahuasca.
“Nossa ciência é o Tsimbu (ayahuasca). Através dela é que chegamos ao conhecimento de como trabalhar, preservando a natureza”, explica Txadã.
As cinco famílias que vivem na área obtêm seu sustento através de atividades tradicionais como roçados e produção de farinha para subsistência, criação de peixes em açude e agrofloresta. O artesanato, já tradicional entre as famílias, vem sendo potencializado pelo instituto, em especial, a fabricação de calçados de látex.
Caldeirão do Huck
A iniciativa pioneira chamou a atenção da produção do programa Caldeirão do Huck que foi até a área do instituto com equipe de filmagem e produziu uma matéria, que foi exibida no quadro The Wall, nas vésperas do Dia do Índio. A participação no programa rendeu 100 mil reais ao casal Daosha e Txadã.
Mas a fama repentina e o anúncio em rede nacional de 100 mil reais, trouxe também alguma dor de cabeça, como o questionamento por parte de outro grupo do mesmo povo Arara. Segundo estes, o projeto estaria usando o nome do povo Arara sem que nenhum recurso tivesse sendo investido na Terra Indígena.
“Este recurso foi destinado ao projeto do Instituto, e não à Terra Indígena”, explica.
Segundo Daosha, o recurso já foi totalmente investido em melhorias de habitação, trabalho e transporte para os moradores da área e no projeto Ararinhas Sandálias.
“Com esse dinheiro foram construídas casas, máquinas de lavar para as mulheres, para que elas tenham mais tempo para se dedicar ao projeto dos calçados, e uma motocicleta para transporte pelo ramal”, explica.
O recurso também foi empregado na aquisição de fornos e equipamentos para aperfeiçoar e profissionalizar a fabricação de calçados: uma atividade que já é praticada de maneira artesanal (assista ao vídeo).
Por enquanto a comercialização é feita somente por encomenda, através de uma divulgação boca a boca.
O próximo passo do instituto é organizar e dar escala à produção, embora o instituto não tenha pretensão de transformar-se em uma indústria de calçados.
“Esta é mais uma atividade em meio a outras, nosso objetivo maior é dar empoderamento às mulheres, trazer renda às famílias e manter a floresta em pé”, conclui Daosha.
Além destas atividades o grupo também trabalha com o etnoturismo, trazendo grupos de outros estados para vivenciar a cultura e a espiritualidade indígena.
- Por Leandro Altheman.