Uma comunidade localizada às margens do Rio Tejo, distante 5 horas de barco da sede do município de Marechal Thaumaturgo, subindo o Rio Juruá, conhecida por São Francisco, não registrou, após um ano de pandemia, nenhum caso de covid-19.
Quem garante isso é um dos moradores mais antigos do lugar, o senhor Francisco de Assis, de 65 anos, pai de 13 filhos, e um dos fundadores da comunidade onde vivem 35 pessoas às margens do Rio Tejo. Ele afirma não haver nenhuma notificação da doença.
O idoso disse ao Notícias da Hora que duas pessoas da comunidade somente apresentaram uma gripe leve, e que sempre foi assim, as pessoas pegam resfriado devido ao tempo ou a exposição.
“Não recebemos muitas visitas e nem temos condições de ir sempre à cidade devido ao preço da gasolina, que chega a custar R$ 9,50, e precisamos de 50 litros para ir e voltar, e não temos muitas condições também, sendo assim, fica mais complicado de sairmos daqui”, disse o morador.
Os moradores da comunidade vivem da agricultura, plantam para subsistência, e não escoam seus produtos devido à falta de estrutura existente no local. “Somos pessoas esquecidas aqui, nunca veio ninguém nos oferecer ajuda, o prefeito de Marechal Thaumaturgo veio aqui pedir voto, mas depois das eleições nos esqueceu”, reclama.
A energia elétrica utilizada pela comunidade é gerada por um motor a diesel ligado a um gerador. São os próprios moradores que compram o combustível com o pouco recurso que eles dispõem.
Vila Restauração, onde a luz elétrica e a internet é racionada e não há água encanada
Após a Comunidade São Francisco, chegamos à Vila Restauração, distante 8 horas de Marechal Thaumaturgo. No local vivem 300 famílias, a grande maioria vive da agricultura, da pesca e da caça. Na comunidade só foram registrados 6 casos de covid-19, isso no início da pandemia em 2020, e desde então, não existe mais nenhuma notificação da doença.
Assim como na Comunidade São Francisco, não existe água encanada e nem energia elétrica. A única energia existente no local vem de um motor a diesel, que é ligado das 18h00 às 21h30 para carregar os eletroeletrônicos existentes na vila.
O diesel consumido pelo motor, uma parte é paga por moradores e a outra vem de uma parceria com a Prefeitura de Marechal Thaumaturgo. Uma internet que foi instalada pelo governo do Estado em uma escola no vilarejo é utilizada pelos moradores da Vila para se conectarem com o restante do mundo. Entretanto, o uso é limitado, só funciona no período em que é gerada a energia. Ou seja, das 18 horas às 21h30.
Megafones são utilizados para “passar recado”
Quatro megafones são usados para dar recado e avisar as pessoas do vilarejo sobre determinado assunto, o qual recebe o nome de “Boca de Ferro”, apelido dado por populares que vivem na comunidade.
O morador conhecido por Francisco Oliveira, de 55 anos, que vive há 18 anos na comunidade, diz estar bem feliz com as melhorias que estão chegando, principalmente a energia elétrica, isso porque, uma equipe da Energisa se encontra no local realizando a construção de uma mini-usina com placas solares.
Francisco Oliveira acrescentou ainda que faltam algumas melhorias que podem ser feitas por parte do poder público, como água encanada, incentivo ao escoamento de produtos cultivados na comunidade, um galpão para o armazenamento de produtos, melhorias na pista de pouso e policiamento no local 24 horas.
Energia solar
De acordo com o engenheiro responsável pela obra, Jarbas Henrrique, “o intuito da Energisa é montar uma usina fotovoltaica na vila com sistema híbrido usando baterias, geradores e painéis solares”, destaca.
Jarbas disse que a Energisa tem um programa chamado “Projeto Eficiência Energética”, que tem o objetivo de fazer a troca dos freezers e geladeiras dos moradores, por eletrodomésticos mais modernos e de baixo consumo de energia. Os moradores que não dispõem desses eletrodomésticos serão contemplados, com as doações.
- Por Willamis França, do Notícias da Hora.