Enquanto pesquisadora da linguagem, eu sempre me interessei pelo estudo das palavras (unidades léxicas) e seus significados; por isso, é quase automático para mim analisar as escolhas das palavras nos discursos. Às vezes, eu nem sei dizer ao certo se esse automatismo me faz bem ou não; já que é sempre tão revelador. De qualquer forma, eu gostaria de poder, aqui, lançar uma reflexão sobre a importância das palavras em nosso discurso e seu incrível poder enquanto instrumento para a promoção do bem e do mal.
Toda palavra produzida parte de uma intensão pessoal, individual do falante e/ou do escritor; e revela seu posicionamento acerca de determinado assunto. Por isso, vemos um mesmo acontecimento sendo definido de diferentes formas. É claro que, enquanto cidadãos, temos o direito, e precisamos ser capazes de formular nossas próprias opiniões a partir daquilo que lemos, vemos e/ou ouvimos. A grande questão está no uso da palavra como simples objeto de ataque e ofensa.
As redes sociais se tornaram um grande “coliseu digital”, com ataques e agressões gratuitas, que repercutem e estimulam outros comentários de naturezas similares. Os veículos de informação, por exemplo, estão sendo apresentados como “inimigos” da nação. Se a informação é sobre o cotidianos, classificam como “falta de assunto”; se é sobre acontecimentos diversos, “besteira”; se for sobre política, então! Sobre esse tema, faltam adjetivos. Raramente, e muito raramente, as pessoas comentam as notícias que falam sobre superação, que revelam uma conquista, que mostra um acontecimento feliz.
Será que não vale a pena investir em um discurso edificante, de respeito e admiração? Será que não somos mais capazes de respeitar o nosso próximo? Atingimos o limite da humanidade? O mundo, meus caros, não é mal; as pessoas que habitam o mundo é que ainda não são boas.
Parece que esquecemos o ensinamento cristão de “Amar o próximo como a ti mesmo”. Imersos na atmosfera sombria de dor e sofrimento, consequente da pandemia da Covid-19, reproduzimos as cenas infernais pintadas por grandes artistas, por meio de discursos cujo objetivo primordial é a promoção da ofensa. Há gritos por toda parte, ninguém se entende, ninguém se respeita, ninguém tem razão.
Alguns poderão afirmar que falta empatia (talvez uma das palavra mais utilizadas nos últimos meses para descrever o comportamento humano). Na verdade, eu afirmo que essa ainda não é a palavra certa; pois, se assim fosse, exigiria que tivéssemos pelos outros sentimentos que ainda não somos capazes de sentir por nós mesmos. Eu acredito que a palavra mais correta seja “amor”. Ainda não somos capazes de amar o nosso próximo porque não nos amamos.
Cada vez que alguém lança uma palavra negativa para o outro, ativa uma série de sentimentos negativos que causam no sujeito agente (quem produz a ação) sentimentos de ansiedade, irritabilidade, angústia, dor de cabeça, insônia etc.; e o outro? O sujeito paciente, ou seja, àquele que recebeu a ação, muito provavelmente nem se deu conta dos sentimentos que foram produzidos contra ele. Vemos, então, que as palavras negativas afetam apenas quem as produz.
Agora, mais do que nunca, o mundo precisa que possamos utilizar o nosso verbo na colaboração de uma atmosfera mais harmoniosa, que afaste a neblina do medo e produza um espaço de encorajamento, de acolhimento e fraternidade. Há muitos doentes do corpo nas enfermarias dos hospitais; talvez, para esses, não tenhamos a competência necessária para auxiliar; mas podemos socorrer com uma palavra amiga e acolhedora os doentes de espírito: e esses…, esses estão em toda parte.