O Centro Cultural da cidade de Cruzeiro do Sul – Acre é um espaço acolhedor para passeios com a família e amigos no finalzinho da tarde ou a noite. Lá há a movimentação, quase que constante, de crianças, jovens, adultos e idosos que caminham tranquilamente pela calçada ou observam a alegria das crianças brincando, e as acrobacias dos jovens esqueitistas. As pessoas que visitam o local também têm algumas opções de comidas; como salgados e doces regionais, além do espetinho de churrasco com farofa de farinha de mandioca, arroz e macaxeira sempre quentinhos.
No outro lado da rua, paralela à essa realidade, encontramos a frase “ESTAMOS VIVOS!!!” pichada na guarita de um prédio público. Particularmente, eu não consigo ver na pichação qualquer ato de crime ou vandalismo; mas apenas o apelo, quase audível, de alguém, cujo desejo fora o de chamar a atenção dos transeuntes para as vozes silenciadas, sufocadas e marginalizadas por não representarem o “modelo” da sociedade idealizada.
Eu sempre refleti sobre a simbologia dessa frase e sua representatividade: considerando o local onde está registrada – em frente a um prédio público abandonado, ao lado de uma praça pública que integra o Centro Cultural – projetado para ser um espaço de inter-relações culturais. Sempre faço questão de ler em voz alta o apelo, e busco refletir sobre seus sujeitos.
Em novembro de 2020, durante a apresentação de um evento acadêmico, eu tive a grata felicidade de encontrar um desses sujeitos. O jovem Carlos Silva de Oliveira, conhecido como KAEMIZÊ MC, é um jovem artista que encontra no rap uma forma de se expressar. A música de KAEMIZÊ MC é carregada de conteúdo, cujo objetivo é chamar a atenção das autoridades em geral para o cotidiano de quem mora nas áreas periféricas de nossa cidade.
Suas rimas falam sobre sonhos, família, perdas, amor, desigualdades, respeito etc.; seu rap é a representação viva da frase pichada naquela guarita “ESTAMOS VIVOS!!!”. A música de KAEMIZÊ MC não é apenas uma forma de protesto para a comunidade externa; mas, também, uma maneira de adentrar a própria comunidade, como um grito de força e esperança para jovens e crianças, muitas vezes, esquecidas e/ou largadas a própria sorte. O rapper deseja mostrar para esses jovens que há um mundo a ser construído e que a mensagem de paz e fraternidade não se dá apenas por meio convencionais.
Apesar de sua honrosa proposta, o artista sofre limitações para poder promover o seu trabalho. Ele precisa financiar, de seu próprio bolso, recursos para publicar suas músicas. Em dezembro de 2020, ele foi um dos beneficiados com a Lei Aldir Blac, da Secretaria de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, no Projeto Live em Casa. Contudo, ele precisa de mais investimentos para garantir a continuidade de seu projeto: “levar ao mundo amor, compaixão e empatia com o próximo […]” (sic).
Eu tive a honrosa oportunidade de ouvir, um pouquinho, de sua mais nova música, ainda em produção; e posso dizer, com certeza, que será um presente para a nossa cidade e, sem dúvida, uma forma de representação de nosso povo. Infelizmente, ele precisou parar com a produção da música, pois seu computador queimou e, por enquanto, ele não tem como concertar o equipamento ou comprar um novo computador.
Em tempos tão difíceis, onde convivemos com o receio e as incertezas oriundas da pandemia da Covid-19, auxiliar projetos tão nobres é uma forma de nos fazermos úteis, de nos sentirmos vivos. Assim, quem desejar colaborar ou patrocinar esse talentoso artista, entre em contato pelo telefone (68) 9 9903-2740. Além disso, acesse seu Canal do YouTube; em: KAEMIZÊ MC, para conhecer todas as músicas do rapper. Como nos disse o saudoso músico e compositor Alberto Loro, “vocês precisam ouvir a voz, que vem de lá […]”; pois é a voz de uma coletividade nos lembrando: “ESTAMOS VIVOS!!!”.
Confira um de seus videoclipe aqui: