Parece que foi ontem que o técnico judiciário Jayssemberg Januário, de 36 anos, precisou se internar no hospital de Cruzeiro do Sul por conta de complicações da Covid-19. As lembranças dos 32 dias na unidade estão frescas na memória e o sentimento é de gratidão pelo trabalho de toda equipe e pela segunda chance que recebeu da vida.
Ele contou que começou a ter alguns dos sintomas como febre e dores no corpo dias depois de a mulher ter testar positivo para a doença. No dia 13 de outubro, ele foi internado com 50% do pulmão comprometido e no dia 19 daquele mês foi transferido para a UTI, de onde teve alta no dia 14 de novembro.
Mesmo com quadro clínico gravíssimo, ele não precisou ser intubado e ficou acordado durante todo tempo que ficou internado. Dos 32 dias internados, 22 foram na Unidade de Terapia Intensiva da unidade e lá, ele viu e ouviu muita coisa que vai demorar pra esquecer.
“Infelizmente, eu vi cinco corpos saírem de lá nesse tempo que fiquei na UTI. E o que mais impressiona é que a maioria era de pessoas idosas, pessoas que possivelmente não saem de casa e que, portanto, foram infectadas por alguém que levou para dentro de casa. Isso que me choca. Ainda tem tanta gente que não tem o mínimo de cuidado e não tem noção que esse vírus mata”, disse.
Januário fez um alerta para que as pessoas tenham mais cuidado para evitar a contaminação. “Não deixem para ver a realidade quando estiverem lá dentro de um hospital, de uma UTI, porque você procurar ar e não achar, é muito complicado, é muito difícil. Eu acredito que seja bem melhor ter o cuidado para não pegar”, disse.
Durante o período em que ficou internado, Januário chegou a ter 90% dos pulmões comprometidos. Ele disse que não tem nenhuma outra doença como diabetes, problemas respiratórios ou hipertensão.
Questionado se em algum momento durante os dias de internação teve medo de não resistir à doença, o técnico judiciário disse que não. Segundo ele, as orações da família e amigos foi o que o manteve a todo momento confiante no tratamento.
“Em nenhum momento eu tive medo de morrer, sinceramente. A minha fé, as minhas orações e da minha família, dos meus pastores me mantiveram firmes. As orações me faziam todos os dias não ficar ansioso. Eu sabia que o melhor para mim era estar lá no hospital, mas que eu ia sair. Pensava que o que fosse preciso fazer para sair, rever meus filhos e minha esposa, eu iria fazer e estou fazendo até hoje na reabilitação.”
Januário falou ainda sobre a gratidão aos profissionais que atuaram no seu tratamento. “A equipe do hospital de campanha de Cruzeiro do Sul é simplesmente fantástica. A questão humana e de estrutura é nota dez. Não consegui ver ninguém com raiva por estar trabalhando. Cansados, lógico, mas sempre muito solícitos”, disse.
A mulher de Januário, a fonoaudióloga Giselly Sampaio postou em sua página na rede social sobre a alta do marido e fez duras críticas às pessoas que não estão levando a situação a sério.
“Quase perdi meu marido para esse vírus. E não foi por falta de prevenção e cuidado nosso. Ele é jovem, não é hipertenso, nem diabético, nem asmático, nunca fumou ou ingeria bebidas alcoólicas. Teve 90% dos pulmões comprometidos e passou 22 dias em uma UTI, sendo 32 dias isolado dentro do hospital e eu garanto a todos: é insuportável viver essa situação e ver a população brincando com a vida alheia. Meu marido é um milagre. Está vivo graças a misericórdia de Deus e à equipe fantástica do Hospital do Juruá”, postou.
Ainda na legenda da foto em que Januário aparece com a equipe médica no dia da alta, a mulher chama o vírus de loteria. “Esse vírus é uma loteria, não queiram pegar o ‘bilhete premiado’ que pegamos. Aos que não têm medo, ao menos sejam mais humanos, mais empáticos, se coloquem mais no lugar do outro.”