Um problema de hipertensão que acabou afetando os rins do voluntário Roberto Carlos Neto, de 43 anos, levou ele a uma fila de transplantes em Rio Branco. A espera acabou há quatro anos e, depois disso, ele se dedicou a ajudar outras pessoas que passam pelo mesmo problema e têm que enfrentar a hemodiálise.
No Dia Nacional de Transplante de Órgãos, comemorado neste domingo (27), muitas pessoas ainda aguardam na fila por uma doação. E, minimizar essa espera, para ele é muito importante.
“Tudo que eu quero é saúde para continuar ajudando as pessoas. Meu sentimento é de gratidão e felicidade em ajudar”, conta, orgulhoso sobre o trabalho que faz.
Neto fala que o problema nos rins dele surgiu por causa de uma hipertensão, e ele ficou quase dois anos a espera de um transplante.
“A pressão alta foi debilitando os rins porque as veias de circulação foram estourando e foi paralisando e perdendo as funções. Fiquei na hemodiálise um ano e 11 meses. É uma nova vida. A gente renasce, apesar de não poder fazer o que fazia antes, mas, a vida continua normal em pelo menos 90%. Tenho algumas restrições em relação à alimentação”, ressalta.
O trabalho voluntário começou após o sofrimento que passou durante o período no qual fazia tratamento na Fundação Hospitalar do Acre. Devido à pandemia de Covid-19 e por fazer parte do grupo de risco, ele afirma que o desejo dele é que tudo volte ao normal, inclusive a realização dos transplantes que tiveram uma redução neste ano por causa da pandemia.
Em 2016, ele conseguiu um doador e fez o transplante. Depois de passar pelo procedimento, após oito meses, ao se recuperar, começou a trabalhar como voluntário, já em 2017.
“Ajudo os pacientes que passam pela mesma coisa que eu passei. Agendo as consultas das pessoas transplantadas. Sofri muito e vi nas pessoas a mesma dificuldade que eu passei e lembrava de quando eu fazia a hemodiálise e tinha que ir para a fundação e ficar na espera’, ressalta.
O voluntário relembra o sofrimento que passou e afirma que o sentimento dele é de apenas tentar minimizar o sofrimento dos outros.
“Era um sofrimento. A máquina de hemodiálise não é tratamento, é uma sobrevivência, é muito triste. Mas, Deus abençoou e eu consegui, por isso, o que puder fazer para ajudar os outros, é meu dever”, complementa.
Roberto Carlos contou que durante a espera, um irmão dele sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2016 e morreu. E, desde então, ele despertou a empatia.
Quando perdeu o irmão, ele autorizou a doação dos órgãos. Ele não pôde receber o rim porque não era compatível. Apenas dois meses depois ele conseguiu um doador.
“Pensei em mim, e pensei nas outras pessoas. Eu não queria que ele falecesse, mas igual eu gostaria que fizessem comigo e hoje têm pessoas vivas com os rins dele”, conclui.
Com 80 pessoas na fila esperando por transplantes de fígado, rins e córneas, o Acre teve uma queda de 65% no número destes procedimentos neste ano por causa da pandemia de Covid-19.
A coordenadora da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), Regiane Ferrari, informou ao G1 que neste ano foram feitos apenas 13 transplantes – 10 córneas e três de fígado. No ano passado, foram 37 procedimentos – 23 córneas, quatro de rins e 10 fígados.
“Ano passado nós tivemos 37 transplantes e nesse ano tivemos 13. Aconteceu a fatídica pandemia e isso não foi só no Acre, ocorreu em todo Brasil. Diminuiu o número de doadores por conta da Covid e todo estado de emergência que voltou todas as atenções para a pandemia”, disse Regiane.
Com esse número de pessoas na fila e a redução das cirurgias, a coordenadora afirma que a situação é preocupante.
“Muitas vidas estão sendo ceifadas. Os pacientes em lista vão a óbito porque não conseguimos o órgão em tempo hábil. As pessoas vão piorando, muitos faleceram por falta do órgão, que, devido à pandemia, diminuiu o número de doações”, lamentou.
A partir de agora, Regiane disse que as equipes vão intensificar as buscas nos hospitais, que antes estavam sendo feitas de forma remota, mas, volta a ser presencial.
Fonte: G1 Acre.