Professor indígena Yawanawá morre vítima da Covid-19 no Acre

Francisco Luiz Yawanawá, professor e liderança indígena de 69 anos, faleceu vítima da Covid-19 na UTI do Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul – AC nesta quarta (8/07). O professor indígena havia sido internado no dia 22 de junho.

O óbito foi confirmado através do boletim da Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre) desta quarta.

O professor morava na aldeia Matrinxã da Terra Indígena Yawanawá rio Gregório, em Tarauacá-AC.

O professor Francisco Luiz foi um dos primeiros do povo Yawanawá a ser contaminado pelo vírus.

Biraci Yawanawá Júnior sobrinho e também liderança do povo Yawanawá divulgou a informação durante entrevista à Rede Amazônica Acre, nesta quinta-feira (09).

O líder indígena falou da falta que o professor vai fazer na aldeia.

“Para nós é muito mais doloroso quando se perde alguém de um nível de conhecimento muito alto. Tio Chicó foi um dos primeiros professores da nossa terra indígena, com grande conhecimento tanto tradicional, mas buscou também fora, aprendeu português e isso implantando a escola na comunidade. O povo Yawanawá sente muito essa perda, mas a gente vai trabalhar para que seu legado continue e que a história se perdure por todas as gerações, porque não foi em vão todo aprendizado dele”, descreveu.

Os Yawanawá vivem em oito aldeias espalhadas pelo rio Gregório.

Com a chegada da pandemia à Tarauacá, os Yawanawá redobraram suas precauções com relação à doença, restringindo não apenas o acesso à Terra Indígena, mas tambpem a circulação entre as oito aldeias.

Além das atividades de subsistência como pesca, caça e agricultura familiar, os Yawanawá desenvolvem atividades de etnoturismo, recebendo visitantes de outros partes do país e do mundo.

A pandemia obrigou-os a encerrar o calendário de visitações, com impacto na economia das comunidades.

“Fechamos tudo, não estamos recebendo ninguém, então, está sendo feito campanhas, tem uma que está no ar que é a Cura, para receber doações para comprar mantimentos e levar para todas as comunidades. Vamos comprar alimentos e produtos de higiene que são necessários nesse momento. É assim que estamos vivendo”, ressaltou Biraci Jr.

Ainda segundo Biraci Yawanawá Jr., o tio possa ter sido contaminado pela doença por algum ribeirinho que esteve na comunidade. A aldeia Matrinxã é a que está mais próxima do limite da Terra Indígena e das comunidades ribeirinhas do rio Gregório.

“Tem ribeirinhos que circulam e acreditamos que foi entre uma dessas idas e vindas dos ribeirinhos para a cidade. De alguma forma aconteceu isso, mas as outras comunidades têm se reservado, temos evitado a saída das pessoas para a cidade. Eu, por exemplo, estava há mais de três meses sem vir à cidade. Só vim mesmo porque a necessidade real de trazer minha irmã que está gravida e não vai ter parto normal, mas mesmo assim usando máscaras, se higienizando e tomando todas as medidas de precaução para voltar parra aldeia com segurança”, concluiu.