Na pandemia, cozinheira no AC monta altar durante passagem do Santíssimo no Corpus Christi

Mesa posta, bíblia aberta e coração cheio de fé. Foi assim que a cozinheira Elezenir Oliveira, de 51 anos, moradora do conjunto habitacional Cidade do Povo, em Rio Branco, celebrou o Corpus Christi na manhã desta quinta-feira (11) no portão de casa, com um altar especial.

Com as igrejas fechadas e eventos como procissões, que envolvem aglomeração de pessoas, suspensos desde março por causa da pandemia do novo coronavírus, as celebrações tiveram que ser rearranjadas.

E foi isso que Elezenir fez, montou um altar na frente da casa onde mora e esperou o momento que o padre passaria com a imagem de Jesus para abençoar os fiés.

Por causa da pandemia, não pode ocorrer a procissão que acontece no Centro da cidade, onde os casais do ECC estendem tapetes na rua para Jesus passar. Em todas as ocasiões, a Elezenir estava lá. Só que neste ano, teve que ser diferente.

“Todo ano eu vou para o Centro da cidade e vou atrás de Jesus. Sou católica e essa é minha procissão preferida, porque é o Cristo vivo, então vou bem perto dele e, dessa vez, o padre nos orientou a fazer o altar na porta de casa para ele passar com jesus no carro e só passar, sem parar nem manter contato físico”, contou.

Para montar o altar e deixar tudo pronto, a cozinheira levantou às 6h e ficou aguardando. Por volta das 9h30 chegava o momento da comoção para a católica, quando o carro passou. No portão, ela esperava junto com a filha de 27 anos e receberam a oração do padre Massimo Lombardi.

“O sentimento é de uma alegria, foi emocionante ver Jesus parando na frente da minha casa e, ao mesmo tempo, deu saudade do ano passado de quando a terra ainda girava sem o coronavírus e eu pude ir até o centro da cidade e acompanhar Dom Joaquim levando Jesus Cristo”, contou emocionada.

Sem segurar as lágrimas, Elezenir disse que o pedido feito foi para que Jesus entrasse em sua casa para abençoar. “Quando Jesus passou eu chorei. Então abri meu portão e falei: pode entrar Jesus, pode entrar”, relembrou a cena.

Para a fiel, o momento é muito importante e contou se sentir agraciada por ter sido uma das escolhidas para montar o altar.

‘Experiencia maravilhosa’
O padre Massimo Lombardi, responsável pela paróquia do bairro, contou ao G1 que foram três horas em carreata com a imagem de Jesus com passagem em 30 casas diferentes que montaram altares para fazer a celebração.

“A gente passava e fazia uma oração. Foi a forma de celebrar o Corpus Christi na pandemia. Achei tão interessante, que fora da pandemia podemos fazer além da procissão, essa visita às famílias, com os vizinhos reunidos. Eu gostei”, diz.

O padre aprovou a celebração e já faz planos para repetir neste formato no futuro.”Foi uma experiencia maravilhosa. Eu acredito que vamos repetir em outros tempos”, contou.

Lembranças

Criada na igreja, na zona rural da Bahia, Elezenir está no Acre há 30 anos, mas recorda ainda de quando o pai levava ela todos os domingos à igreja.

“Quando eu tinha dois e três anos, meu pai me levava nas costas às missas. Tinha quatro anos e ele andava quilômetros comigo no pescoço para assistir a missa aos domingos”, relembra.

Envolvida nos trabalhos da igreja Católica, ela trabalha servindo como cozinheira e se orgulha da atividade que desenvolve.

“Na missão, dos eventos da igreja, sempre divido o tempo entre o altar como ministra de eucaristia e a cozinha. Costumo falar que é do fogão para o altar e do altar para o fogão”, ressalta.

Sem procissão

Diferente de anos anteriores, a missa de Corpus Christi este ano ocorreu pela manhã nesta quinta-feira (11) em Rio Branco. Também cancelada a tradicional procissão que celebra a data por conta da pandemia de Covid-19, que obriga o distanciamento. Mas, isso não impediu que os fiéis celebrassem a data.

A missa na Catedral de Rio Branco foi transmitida pela TV e também pelas redes sociais oficiais da Diocese. Ano passado, o rito religioso ocorreu à tarde, com missa e procissão que reuniu mais de 5 mil pessoas.

Adaptada, a celebração este ano contou com poucos fiéis, que assistiram presencialmente a missa. Mas, apenas aqueles que confeccionaram quatro tapetes na entrada da Catedral. Eles usavam máscara e acompanharam a missa.

Fonte: G1 Acre.