Com as aulas presenciais suspensas devido à pandemia, muitas escolas tiveram que partir para aulas on-line, na tentativa de garantir que os alunos continuassem estudando. Mas, no Acre, muitos estudantes não têm acesso à internet de qualidade. Pensando nisso, o diretor de uma escola pública de Rio Branco, Thiago Vale, passou a levar o material impresso até os estudantes.
Ele conta que começou a fazer um levantamento dos alunos que não conseguiam acompanhar as aulas virtuais e decidiu fazer a entrega das atividades nas casas dos alunos. Esse mapeamento foi feito com a identificação de quem tinha acesso à internet, quem tinha acesso apenas a aplicativos de mensagens, e quem não tinha acesso de forma alguma.
“Dentro da criação destes grupos, os alunos que não tinham internet, a gente começou perceber algumas situações. Aqueles que tinham algum impedimento de ir buscar o material na escola, ou por falta de condição ou que não podem sair de casa porque moram com alguém do grupo de risco e precisam se isolar”, contou.
Para os alunos que têm acesso apenas a aplicativos de mensagens são disponibilizados PDFs com o conteúdo. E a versão impressa que atende aqueles que não tem acesso ao conteúdo digital. Para quem pode ir buscar, o material pode ser retirado na escola.
“Às vezes tem um vizinho próximo e trabalha na região do centro e traz para essa pessoa. A gente conseguiu construir uma grande rede de solidariedade, então está todo mundo se ajudando,” comemora.
O diretor diz que a escola possui cerca de mil alunos e, deste total, aproximadamente 50 não têm acesso ao material disponibilizado on-line.
O conteúdo que está sendo distribuído conta como parte de 20% da carga horária e a avaliação é feita por meio da produção das atividades que são passadas aos alunos.
“A gente faz a entrega para aqueles alunos que de fato precisam”, diz.
As aulas das redes públicas e privadas do Acre estão suspensas desde o último dia 17 de março como prevenção e combate ao novo coronavírus. E o governo do estado já anunciou que o retorno das atividades presenciais só deve ocorrer em setembro.
Para o diretor, que peregrina de casa em casa, o sentimento que descreve é de conforto por saber que ninguém vai deixar de ter a oportunidade de aprender.
“É um sentimento de conforto, porque a gente vê pela receptividade, pela gratidão que é mostrada, e não tem sentimento melhor porque a gente vê que é um resultado que independente dos prejuízos que poderão acontecer, vai ter um sucesso. Não tem palavras para expressar. É o que vai perpetuar [o ensino]. As outras coisas uma pandemia pode levar, mas o conhecimento não tem quem tire”, se alegra.
Só que os bons sentimentos não são apenas do diretor. Os alunos que recebem a visita dele garantem a oportunidade de continuar sonhando.
A Analice Almeida, 17 anos, por exemplo, está no terceiro ano do ensino médio e sonha em fazer medicina. Ela está à espera do Exame Nacional do Ensino Médio(ENEM) e afirma que é importante não ficar parada nesse momento.
“É muito bom porque com essa pandemia não estamos podendo ir à escola, mas continuamos estudando em casa. Mesmo com isso a gente não fica sem aprender porque está tendo os trabalhos. A gente está fazendo tudo direitinho”, conta a jovem.
Além de tudo isso, ela ainda se sente incluída e comemora a iniciativa.
“É muito legal porque muitos alunos não têm internet e iam ficar sem aprender, mas essa iniciativa do diretor Thiago está muito boa porque ele está ajudando cada aluno que não tem acesso”, diz.
E a mãe da estudante, Francisca Almeida, também não esconde a satisfação. Ela conta que não tem computador em casa, mas com esforço a filha está mantendo as atividades.
“Para mim é um prazer muito grande. Vejo o interesse dela e também o deles em ajudar. E, agora, que não está tendo aula, vejo um interesse maior porque ele vir de lá para deixar o material aqui para ela estudar, fico muito grata por isso, tanto por ele vir como por ela aprender ainda mais e, ela aprendendo, um dia vai ser alguém na vida”, acredita Francisca.
Por Alcinete Gadelha e Aline Vieira, G1 AC e Jornal do Acre 2ª edição — Rio Branco