Por “medo”, população de Marechal Thaumaturgo esvazia ruas da cidade; alguns isolam-se em zona rural

Um vírus que teve origem no outro lado do planeta (China) e meses depois ganhou o mundo, sendo classificado pela OMS como pandemia. Ele chegou ao nosso país, depois ao nosso estado e agora, por último, ao nosso querido município de Marechal Thaumaturgo.

Um vírus que desconhece fronteiras, limites, idade, gênero, raça, religião. Um vírus que se propaga na velocidade do vento e tem como hospede e transmissor os próprios seres humanos. Vírus que chegou aos quatro cantos desse planeta que chamamos Terra. Vírus que nuca foi e nunca será apenas uma “gripezinha”; pois mata e mata muitos, leva sonhos, alegrias e esperanças.

Apesar dos cuidados do poder público municipal e dos profissionais de saúde, o novo coronavírus, Covid-19, ultrapassou as fronteiras do nosso município e chegou a nossa cidade. Até a última terça-feira (12) o município havia confirmado 3 casos da doença.

Essa realidade transformou radicalmente a nossa cidade. Enquanto eu ia e vinha do trabalho, foi possível observar que houve uma mudança na rotina que conhecíamos: ruas vazias em pleno horário de pico, casas fechadas, grande número de pessoas indo para a zona rural, comércios e órgãos públicos parados, sem aglomerações.

Na cidade conhecida pela alegria e hospitalidade de seu povo, poucos sorrisos dos que ainda caminhavam pelas ruas. Rostos preocupados e tensos. A hospitalidade parece que deu espaço para a precaução. Algumas comunidades ribeirinhas começaram a proibir a entrada de pessoas de fora. Na sede, as sirenes das ambulâncias aumentam a tensão e preocupam, ainda mais, a população; pois, à qualquer momento, novos casos poderão ser registrados.

O prefeito, Isaac Piyãko, que sempre buscou dialogar com os membros do legislativo municipal, forças policiais, exército e profissionais da saúde, estuda a possibilidade de um lockdown (fecha tudo) a partir da próxima sexta-feira (15).

Dias incertos virão, isso é fato; mas, é fato também que sairemos dessa. O nosso querido município que venceu tantas outras lutas vencerá mais uma com a ajuda do Bom Pai do Céu e com respeito e cumprimento das medidas necessárias para a prevenção. Sem sombra de dúvidas sairemos dessa pandemia com vida e muita saúde; assim como nosso querido estado do Acre e nossa querida pátria amada Brasil.

O fato é que existirá o antes e o depois, e caberá a nós tirarmos as lições desse aprendizado em tempos de medo e insegurança. Certamente colheremos os frutos do aprendizado. Ouço muita gente afirmando o desejo de que esses tempos difíceis passem logo para que possam ir para as igrejas adorar a Deus com toda voz e força que possuem. Outros afirmam que amarão mais suas famílias. Particularmente, eu discordo dessas afirmações; pois ninguém precisa estar em um templo de pedra ou madeira para adorar a Deus, visto que a igreja somos nós. Podemos adorar a Deus agora, durante essa pandemia. Eu não amarei mais a minha família após essa pandemia, pois eu já a amo demais. Esse sentimento nunca foi diminuído ou morto em momentos de conflitos e incertezas como o que vivenciamos, porque sempre foi verdadeiro.

Quando tudo isso passar eu levarei como lição e aprendizado a certeza de que Deus me ama, muito mais do que eu mesmo poderia imaginar. Eu sei que posso conversar com Ele a todo instante. Valorizarei mais os momentos com a família, os abraços e os beijos. Valorizarei mais o meu trabalho, porque muitos estão perdendo os seus; serei grato à minha rotina, sempre cheia de compromissos e tarefas. Agradecerei a oportunidade de poder fazer o que quero e o que gosto: jogar futebol com os amigos, estar com os meus alunos na escolinha, poder ir e vir a qualquer hora do dia e da noite.

Quando tudo isso passar agradecerei pela vida, pois sei que muitos perderam e ainda perderão. Quando tudo isso passar, como parte do antes, quero ter aprendido a ser mais humano e humilde; como parte do depois, quero viver com mais intensidade, sem medo, sem reclamar tanto, sem colocar tantas dificuldades; sem medo de ser feliz, porque fui capaz de tirar lições e aprendizados em tempo em que muitos só viam medo e desesperança!

Foi preciso um vírus para mudar o rumo e a velocidade das coisas; para dar uma pausa; mostrar caminhos e revelar o que realmente importa e o que é verdadeiro. Foi preciso esse ser minúsculo e invisível nos mostrar o quanto somos frágeis e o quanto precisamos evoluir e aprender.

Textos e Fotos: Cleudon França (jornalistafranca@gmail.com)