Depois de ficar entre a vida e a morte, por seis dias, na Unidade de Terapia Intensiva do 5º andar do Pronto-Socorro e, quatro dia antes, ter sobrevivido a uma parada cardiorrespiratória que durou dez minutos, a advogada Isabela Fernandes, 37 anos, obteve alta na tarde deste sábado, 4, avalizada pela médica Íris Ferraz, intensivista-chefe das UTIs do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco.
O último teste chegou na manhã e deu negativo para Covid-19, encerrando uma luta pela vida que começou no dia 7 de março, quando ela chegou de Fortaleza (CE) com sintomas leves da doença. Isabela foi um dos primeiros três casos confirmados de contaminação por coronavírus no Acre.
A AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO ACRE conversou com a irmã da advogada, a fisioterapeuta Simone Fernandes, que também acompanhou os dias difíceis para toda a família, já que integra a equipe de profissionais da UTI Covid-19 – como é chamado o andar do hospital que dispõe de dez leitos de UTIs para pessoas que eventualmente precisarem ser internadas em estado grave, como foi o caso de Isabela.
“No dia 7 de março, minha irmã chegou de Fortaleza, com sintomas leves. Mas piorou, e já no dia 15, apresentou febre. Foi à uma clínica particular e fez os exames. Voltou pra casa e ficou de quarentena. Seis dias depois, já no dia 21 de março, foi internada com febre e dispneia [dificuldade de respirar caracterizada por respiração rápida e curta].
Da madrugada do dia 22 para o dia 23, uma segunda-feira, ela foi entubada e foram sete dias de muita angústia, pra mim como família, e também como profissional. E nesta mesma segunda-feira, ela teve uma parada cardiorrespiratória de dez minutos.
Não tínhamos certeza da vida dela e graças a Deus foi um milagre. Deus ali operou e ela voltou. Tudo foi primeiro com Deus e, em segundo, com os profissionais.
E começamos essa batalha para abrir a UTI, que estava ainda em processo. No dia 27, uma sexta-feira, ela deu entrada na verticalização da ‘UTI Covid-19’ do Pronto-Socorro, quando foi totalmente assistida por profissionais mais indicados, profissionais muito competentes, e que por isso, me deixaram um pouco mais tranquila.
Logo depois, retiraram os tubos da Isabela, para que respirasse espontaneamente. Ela ainda estava com o pulmão muito prejudicado, muito confusa, mas a equipe continuou cuidando dela, com todas as medidas necessárias.
Foi evoluindo e melhorando, até que na quinta-feira, 30, apresentou uma melhora extremamente significativa.
Foi aí que o milagre foi completo, porque hoje vendo os exames dela, nem parece que é uma pessoa que há uma semana estava à beira da morte.
Ontem a dra. Íris deu alta, e, mais uma vez, o Sistema Único de Saúde aprovou um leito no 4º andar aqui do PS, que em meia hora estava pronto para recebê-la.
Ela desceu para o quarto andar e hoje está em casa, tranquila, comendo e se alimentando, depois do exame deste domingo ter dado negativo”.
“Minha irmã sofreu muito, tanto com a doença quanto pelo preconceito. Foi estigmatizada pelas pessoas que não entendiam direito a situação. A culpavam toda hora nas redes sociais por estar doente, e a acusavam de trazer risco para as pessoas. Mas não entendiam que ela também foi vítima da pandemia. Algo tudo muito novo até agora para todos nós.
Chegaram a divulgar uma foto dela como se estivesse morrido, tamanho é o desrespeito das pessoas com o sofrimento dos outros”.
“A Isabela tomava remédio controlado por conta de um quadro depressivo que ela trata há muito tempo. E nos últimos dois anos, teve uma perda de peso acentuada. Os remédios antidepressivos a deixaram com a imunidade alterada, muito baixa mesmo. E ela estava nesse tratamento. Vivia assim: com muita enxaqueca, com muita gripe, tudo por conta da imunidade pelo uso de medicação controlada.
E quando ela foi para esse congresso, ela teve contato com outra pessoa lá em Fortaleza que, provavelmente, foi de onde veio a contaminação.
O perfil do vírus da Isabela era de um perfil bem complexo. A gente pode dizer que é o mais agressivo, mas a recuperação também foi muita rápida. Da mesma maneira que ela ficou muito mal, ela melhorou muito bem.
Hoje ela continua em tratamento pulmonar. Não tem sequelas nos pulmões, mas precisa melhorar a capacidade total deles. Isso leva algum tempo, mas hoje ela não tem mais o vírus”.
“Eu falo agora como uma fisioterapeuta que está na linha de frente desta guerra contra um vírus, e também posso falar enquanto membro de uma família que viu um dos seus quase morrendo.
As pessoas precisam respeitar as recomendações de ficar em casa, porque hoje a gente vê muitos dando pouca importância a um procedimento tão importante para salvar vidas.
Não precisamos esperar morrer alguém para entender a gravidade do momento que estamos vivendo hoje.
A gente está numa situação de pandemia atípica, em que todo mundo está medindo esforços, a equipe de saúde, eu enquanto fisioterapeuta, todos se colocando em risco. Estamos nos preparando para isso muito antes da minha irmã ter ficado doente.
E hoje, quando a gente sai nas ruas e vê pessoas se aglomerando, pessoas não dando importância, como se isso não fosse real. Então, como profissional e como família, eu digo que é muito real, e que se a gente não se cuidar, a pessoa que está lá na rua pode ser a próxima.
E vamos estar preparados aqui para cuidar, mas se puderem evitar ao máximo não precisamos chegar ao extremo de ter que escolher de quem vamos cuidar, se a coisa se agravar.
O Estado, o Ministério da Saúde, está todo mundo se organizando para atender ao maior número de pessoas, mas a gente não sabe qual é a proporção disso. Não sabemos quantas pessoas serão atingidas, mas estaremos a postos, deixando as nossas famílias, cuidando para que elas fiquem em casa”.