A coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) adotou uma série de medidas para evitar o contágio do novo coronavírus na aldeias do Vale do Juruá, que comporta os municípios de Cruzeiro do Sul, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, Mâncio Lima e Rodrigues Alves, no Acre, que abriga pelo menos 18 mil indígenas de 14 etnias. Dentre as ações de prevenção está a proibição da entrada de turistas.
“Começamos ainda em fevereiro a submeter qualquer pessoa que desejasse entrar nas terras indígenas a um atestado médico, para deixar a coisa de forma mais rigorosa. Logo no início de março, amparados por decreto, passamos a não autorizar a entrada de nenhum não indígena nestas terras para a gente conseguir preservar ao máximo a integridade dos indígenas”, disse Marco Gimenez, coordenador da Funai no Vale do Juruá.
Gimenez informou que são pelo menos 14 etnias na região e ainda não foi registrado nenhum caso de Covid-19 entre os índios e que o trabalho é realizado desde o mês de fevereiro, antes de ser decretada a pandemia.
O Acre chegou a 101 número de casos de Covid-19 no boletim divulgado na quarta-feira (15). Dois casos são em Cruzeiro do Sul, no Juruá.
O coordenador afirmou que o trabalho é feito em parceria com o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) e que também foi feita uma conversa com os caciques e lideranças da aldeias para garantir que não houvesse a presença de visitantes dentro destes territórios. Ele relata que chegaram a acionar a Polícia Federal para ajudar na retirada de uma turista espanhola que estava nas terras Katukinas.
Gimenez disse ainda que a maior preocupação era com o retorno de quem estava fora das terras indígenas.
“A partir daí, com a situação relativamente controlada [após retirar a turista], o problema passou a ser o retorno dos parentes que estavam fora. E, o Dsei conseguiu um lugar específico para eles aqui, no Centro de Cruzeiro do Sul, para que esses indígenas que estavam voltando para casa pudessem ficar de quarentena e só depois voltarem para suas aldeias em segurança”, explicou.
O coordenador falou que atualmente a casa está vazia, mas a medida deve continuar se for necessário. Quem estava na casa foi liberado pelos médicos.
Além disso, o coordenador afirmou que foram montadas barracas de campanha na Casa de Saúde Indígena (Casai) para receber possíveis infectados, mas ainda não foram usadas. “Para isso, estamos trabalhando junto com a Funai sede em Brasília.”
A coordenação disse que também foi feita a aquisição de cestas básicas e produtos de higiene e limpeza. E que também vão fazer a compra de outros materiais para fazer a distribuição dentro das aldeias para manter todos os índios em suas terras e seguros.
“Não podemos esquecer que eles são cidadãos brasileiros e têm direito de ir e vir. Eles não estão confinados, eles podem sair, porque é um direito deles, mas nossa ideia é mantermos longe para que eles possam ter segurança ”, concluiu.
O G1 entrou em contato com a coordenação do DSEI, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.
No início de abril, o Ministério Público Federal (MPF) divulgou uma recomendação com diversas exigências para garantir a proteção dos indígenas. A Funai afirmou na época que já tinha se antecipado sobre os cuidados com os indígenas do estado.
Índios usam correntes para evitar contágio
No final de março, índios da etnia Puyanawa, na região do município de Mâncio Lima, interior do Acre, chegara a “fechar” a aldeia com correntes para evitar a contaminação do povo pelo novo coronavírus. O objetivo é evitar a entrada de não indígenas e de indígenas no local.
A baixa imunidade de povos indígenas é a maior preocupação das autoridades. A orientação é para que os índios não se desloquem aos centros urbanos e que as aldeias não recebam visitantes. A corrente atravessando a estrada de acesso à aldeia Puyanawa era a demonstração de que ninguém podia entrar e nem sair da aldeia.
- G1.