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segunda-feira, novembro 25, 2024

Crônica: Celso Lima Verde em tempos de violência no Juruá

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Por Jorge Natal

Além de defensor dos direitos humanos, o saudoso Celso Lima Verde foi um líder comunitário respeitado. Eleito vereador por quatro mandatos, inclusive sendo presidente da Câmara Municipal de Cruzeiro do Sul, também se notabilizou pelo humor refinado.

No início dos anos 2000, a região do Vale do Juruá foi tomada por uma onda de crimes. Ele, que acompanhou o crescimento da cidade e dormia com janelas abertas, estava aterrorizado com a escalada da violência. Soube que o seu colega, o vereador Chico Basil, sofrera um atentado. Havia sido golpeado nos pés por um homem armado com um facão. Mesmo sabendo das inúmeras peripécias de Basil (este também é um personagem), Lima Verde não se fez rogado e usou a tribuna em sua defesa: “A violência campeia pela cidade, ramais, agrovilas e até no beiradão. Ontem mesmo, um colega desta Casa foi uma das vítimas. O vereador Chico Basil, é bem verdade que ele gosta de tomar umas, quase foi morto a terçadadas. Levou tanto golpes que a “planta” dos pés dele está parecendo uma mocinha (peixe) ticada.”

Precavido, Lima Verde decidiu adquirir uma garrucha. Não tinha o porte, mas fez o registro na Polícia Federal. Naquele momento, no entanto, a União desencadeou uma campanha para desarmar as pessoas. Por não ser necessário explicar as procedências e ainda ganhar indenizações, milhares pessoas entregaram espingardas, rifles, carabinas e revólveres, que se amontoavam nas dependências do Exército. Celso optou em guardar o seu trabuco em casa.

Em uma daquelas solenidades onde as armas eram destruídas com um rolo compressor, com direito a presenças de autoridades e da imprensa, ele foi convidado pelo então secretário de Segurança, Antônio Monteiro, para participar de um evento. Lima verde aceitou. Antes, porém, o então governador Jorge Viana e o seu séquito foram inaugurar uma delegacia no bairro Miritizal, uma das regiões mais violentas da cidade. Embarcaram em canoas para atravessar o rio Juruá (ainda não existia a Ponte da União). Lima Verde sentou-se ao lado de Monteiro e fez uma revelação: “Secretário, eu tenho uma garrucha e não vou entregá-la. Dê-me o porte!” Monteiro retrucou: “Que é isso, vereador? O senhor tem que dar o exemplo.”

No meio da travessia, formou-se uma confusão nas imediações da delegacia, que, por coincidência, ficava às margens do rio. Tiros, gritos e pessoas se agredindo com facas e ripas. De bate-pronto, o secretário acenou para que os barcos com policiais a bordo tomassem a dianteira para resolver aquela balbúrdia. Lima Verde olhou fixamente para Monteiro e foi lacônico: “Viu, secretário, por isso eu não entrego a minha garruchinha.”

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