O primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, confirmado nesta quarta-feira (26/02), levou o estado de São Paulo, onde reside o paciente infectado, a montar um centro de contingência para enfrentamento da doença. Quatro mil leitos, distribuídos por seis hospitais no estado, foram disponibilizados para tratamento caso o cenário se agrave, informou a Secretaria de Saúde do estado.
A situação no país, no entanto, não é motivo para pânico, ponderam cientistas. “A principal mensagem é que este é um momento para ter precaução. Não há necessidade de pânico”, diz Luciana Costa, diretora adjunta do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“Claro que pode se tornar um problema, não estamos minimizando. Mas podemos agir de forma organizada e evitar propagação. Pânico só dificulta a contenção”, avalia.
O que sabe até agora é que o paciente brasileiro, de 61 anos, teria sido infectado durante uma viagem à Itália entre 9 e 21 de fevereiro. Ao retornar ao Brasil e apresentar sintomas, ele foi examinado no Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista, e um segundo exame de contraprova, realizado no Instituto Adolfo Lutz, confirmou a doença.
No momento, o Ministério da Saúde monitora 20 casos suspeitos do novo coronavírus, causador da doença Covid-19, em sete estados (PB, PE, ES, MG, RJ, SP e SC). Desde o início do surto da doença na China, em dezembro de 2019, o Brasil descartou 59 casos suspeitos.
“É um vírus novo chegando a um país novo, mas não há motivo nenhum para pânico. E mesmo se houver epidemia [no Brasil], também não há motivo”, avalia Mauro Teixeira, pesquisador do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ao mesmo tempo é preciso manter o nível alto de alerta. As chances de a doença se espalhar no Brasil são consideráveis por se tratar de um vírus para o qual ninguém tem imunidade, pontua Felipe Gomes Naveca, virologista e pesquisador em saúde pública da Fiocruz Amazônia.
“O importante agora é trabalhar para minimizar o problema e continuar fazendo o diagnóstico”, disse Naveca à DW Brasil. “É preciso que todos contribuam para minimizar os casos. A Organização Mundial da Saúde vem conduzindo o enfrentamento de maneira bastante correta.”
Verão brasileiro
Com base no que se sabe até agora sobre outros vírus semelhantes ao novo coronavírus e que provocam doenças respiratórias, o clima do verão brasileiro, de calor e umidade, é uma barreira natural contra a sua propagação. “Eles [os vírus] duram pouco tempo nesse ambiente”, afirma Costa.
A maioria dos vírus desse tipo é envelopada, ou seja, envolta numa membrana formada por fosfolipídios que se organizam junto com proteínas e permitem a invasão de outras células e organismos.
“No calor, os fosfolipídios dessa membrana passam a perder mais rapidamente esta organização quando o vírus está exposto ao ambiente externo. Eles começam a perder proteínas da camada externa, o que dificulta que o vírus sobreviva, que se mantenha infeccioso”, explica Costa.
Água e sabão e álcool em gel também são eficientes para desorganizar essa membrana externa do vírus e, assim, interromper a “estratégia” do vírus de se alastrar.
G1