Em um ano, 133 pessoas chegaram ao Hospital do Juruá, em Cruzeiro do Sul, vítimas de picadas de cobra. Dos acidentes, mais de 80% são causados pela espécie jararaca.
Os dados são referentes a uma pequisa feita entre julho de 2017 a junho de 2018 pela professora do Instituto Federal do Acre (Ifac), Ageane Mota da Silva, e pelo biólogo e professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), Paulo Bernarde.
“Apesar do número registrado, é provável que tenha ocorrido mais casos de picadas por cobras na região, porque várias pessoas não procuram o atendimento hospitalar devido à distância e dificuldades de transporte, o que é um grande risco para o surgimento de complicações e até óbitos”, afirma Bernarde.
A pesquisa apontou que dos casos de envenenamento, 111 foram causados pela jararaca. Na maioria das vezes, os acidentes são causados por cobras pequenas. Isso porque, segundo o pesquisador, as serpentes de menor porte são mais difíceis de serem vistas.
Em segundo lugar na posição de espécies causadoras de acidentes com cobras, ficou a papagaia, responsável por sete dos casos de picadas. Essa espécie costuma aparecer em alturas de até 19 metros nas árvores em florestas.
Em dois dos acidentes causados pela papagaia, segundo a pesquisa, as vítimas coletavam açaí em uma palmeira a 4 e 8 metros de altura e a serpente estava no galho de uma árvore ao lado.
“Isso demonstra que algumas atividades de extrativismo na floresta, como a coleta de frutos em palmeiras, pode ser um risco de acidentes ofídicos. Quase metade das vítimas é de agricultores que, durante suas atividades nas lavouras, estão expostos diariamente ao risco de serem picados por cobras. Além disso, a maioria dos acidentes ocorreu durante a estação chuvosa”, destaca.
Dos acidentes, mais de 76% foram com indivíduos do sexo masculino. Com relação à faixa etária, a maioria foi entre pessoas de 11 a 20 anos. Quase 70% das picadas foram nos pés e 85% ocorreram na zona rural.
Uma das complicações que podem surgir nos casos de picada por cobra é a insuficiência renal, por isso, de acordo com a pesquisa, a vítima de acidente com cobras deve ser bem hidratada.
Bernarde orienta que, em caso de picada, é importante não amarrar o local que foi picado. Essa prática pode ocasionar o surgimento de necrose, além de aumentar a chance de amputação do membro ou outras complicações.
Outra orientação é nunca cortar o local da picada, nem fazer perfurações ou sucção. O local da ferida deve ser lavado com água e sabão. O pesquisador ressalta ainda que a vítima deve ser levada o mais rápido possível para o hospital.
Caso a cobra tenha sido morta, a pessoa deve levá-la até o hospital ou fotografá-la. Por isso, o pesquisador afirma que é importante o profissional de saúde saber reconhecer qual a serpente causadora do envenenamento durante o diagnóstico, para escolher melhor o soro antiofídico a ser aplicado no paciente.