O Ministério da Justiça e Segurança Pública acendeu o sinal de alerta com a fuga de 76 presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) da Penitenciária Regional de Pedro Juan Caballero, no Paraguai, e colocou pontos de bloqueio na fronteira entre os dois países, no município de Ponta Porã (MS), na tarde de ontem. Além disso, o patrulhamento na divisa das duas nações foi intensificado, com o governo sul-mato-grossense deslocando equipes das polícias Militar, Civil e Rodoviária Estadual para cuidar da região e buscar possíveis fugitivos.
De acordo com o secretário da Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Carlos Videira, pelo menos 200 policiais seguiram para o município. Também fazem parte da operação homens do Departamento de Operações de Fronteira, de equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e da Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestro (Garras).
Em Ponta Porã, três veículos foram encontrados queimados na BR-463, próximo ao distrito de Sanga Puitã, do lado brasileiro da linha internacional que separa os dois países. Como o achado se deu logo após a fuga da penitenciária, Videira acredita que parte dos criminosos fugiu para o Brasil. “Vamos fechar não só a fronteira, mas também as divisas com os estados de São Paulo, Paraná e Goiás, pois já temos a informação de que muitos dos fugitivos são brasileiros de fora do nosso estado”, disse.
Ainda está em apuração por parte do governo paraguaio como os detentos conseguiram deixar a penitenciária. Imagens do circuito interno da prisão serão analisadas. Até o momento, uma das hipóteses para a fuga está ligada a um túnel de 25m de extensão cavado pelos presos e que ligava um dos pavilhões à área externa da penitenciária. Outra possibilidade é de que os detentos saíram pela porta da frente com a ajuda de funcionários do complexo presidiário, tanto que diretores e agentes penitenciários responsáveis pelo presídio foram demitidos ontem.
Em entrevista, a ministra da Justiça do Paraguai, Cecilia Pérez, ressaltou que a pasta denunciou, em dezembro, a existência de um plano de “fuga ou resgate” do PCC, pelo qual agentes penitenciários receberiam US$ 80 mil pela liberdade de líderes da facção. O efetivo policial foi reforçado nos presídios, mas não conseguiu conter a fuga. A ministra considerou o caso “extremamente grave e sem precedentes” e colocou o cargo à disposição do presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez.
O ministro do Interior paraguaio, Euclides Acevedo, afirmou que está sendo investigada a possibilidade de que o túnel tenha sido construído “de fachada” para esconder a suposta cumplicidade dos funcionários. “Agora, o principal objetivo é recapturá-los e disponibilizá-los ao Ministério Público”, destacou.
O Ministério da Justiça do Paraguai confirmou que aliados do traficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano, o “Minotauro”, um dos principais líderes do PCC, preso em fevereiro de 2018 pela Polícia Federal brasileira, estão entre os 76 detentos que fugiram. Segundo o órgão, 40 fugitivos são brasileiros e 36, paraguaios.
Os presos apontados por ligações com “Minotauro” são os brasileiros Julio César Gomes, de 29 anos; Ailton Botelhos dos Santos, 35; Felipe Diogo Fernandes Dias, 25; Rafael de Souza, 25, e Luciano de Souza Martins, 26, além do paraguaio Marcos Paulo Valdez Moreira, 25. “Minotauro” estava à frente da guerra do PCC contra facções rivais pelo controle do tráfico de drogas e armas na fronteira. Ele está preso em uma penitenciária federal.
Na lista de fugitivos estão outros cabeças do PCC, como Claudinei Predebon e Cícero Fernando de Lima Almeida, presos em 2018, em uma mansão de Pedro Juan Caballero, quando, supostamente, preparavam o resgate de detentos do PCC. Outro fugitivo, Timóteo David Ferreira, apontado como um dos responsáveis por recrutar paraguaios para a facção, protagonizou polêmica entre a Justiça e a polícia do país, ao ser enviado por uma juíza para uma clínica médica, quando havia um plano para o resgate. (AF)
Ameaças a utoridades
Relatórios de inteligência da Polícia Civil do Distrito Federal identificaram que autoridades de Brasília poderiam ser vítimas do PCC, entre elas, o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres. Além do chefe da pasta, delegados tiveram informações pessoais difundidas entre criminosos. Uma juíza da Vara de Execuções Penais (VEP) sofreu ameaças em um bilhete encontrado na Penitenciária Federal em Brasília.
Segundo a corporação, podem existir até 30 integrantes da facção na capital federal. O surgimento de um braço da organização criminosa em Brasília é monitorado pelas forças de segurança desde a transferência de integrantes da cúpula do grupo para Brasília, incluindo Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
A transferência de líderes do PCC para o Distrito Federal começou com a inauguração da Penitenciária Federal em Brasília, em 2018. À época, três chefes da facção criminosa vieram para a prisão, localizada no Complexo Penitenciário da Papuda. Em fevereiro de 2019, três líderes do grupo deixaram São Paulo e tornaram-se internos no DF.
No mês seguinte, foi a vez de Marcola, líder do PCC, ser alocado na Penitenciária Federal. Em dezembro, no entanto, suspeitas sobre um plano para resgatá-lo mobilizaram equipes do Exército Brasileiro, do Comando Militar do Planalto e da Força Nacional. Além dos integrantes da organização criminosa, há outros detentos com suspeita de associação ao Comando Vermelho e à Família do Norte (FDN). A chegada desses presos ao DF gerou mal-estar no Executivo local. Em diferentes ocasiões, o governador Ibaneis Rocha (MDB) reuniu-se com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Sergio Moro para tratar do assunto.