Por Leandro Altheman
Atribuir às terras indígenas e as unidades de conservação o baixo nível de crescimento do país é fruto da preguiça e indigência mental que assola uma parte significativa da sociedade brasileira e que encontra em Bolsonaro o seu representante.
É sobretudo preguiça de pensar o Brasil do tamanho que ele de fato é, com sua diversidade social, cultural, biológica e lingüística.
É indigência intelectual de pessoas incapazes de perceber a grandeza da oportunidade que é ter em seu território, centenas de povos e línguas, com saberes e conhecimentos que antecedem em milênios à criação do Estado Nacional brasileiro, e que por isso mesmo fazem parte dele antes mesmo que nascesse.
Mal comparando, é como se alguém adquirisse um terreno para construir uma casa e se deparasse com um alicerce sólido, que já teria resistido à inúmeras provas impostas pelo tempo, e mais: contendo instruções detalhadas sobre como construir sua casa naquele terreno.
Não é banal que enquanto discutimos a Amazônia, levados a uma aparente contradição entre produzir e preservar, a arqueologia brasileira revela que esta mesma Amazônia, há centenas ou até milhares de anos, suportou populações maiores que as atuais. Revelam-se tecnologias de melhoramento do solo, como a terra preta de índio, técnicas de agroflorestais que lhes pernitiram produzir alimento em quantidade suficiente para manter populações estimadas entre meio a um milhão de pessoas, incrementando a biodiversidade ao invés de diminuí-la radicalmente como hoje. Falam-se de complexos urbanos e redes de trocas que alcançaram grande extensão territorial. As descobertas estão nas regiões do Rio Negro, Xingu, Tapajós e Madeira No Acre, os geoglifos são testemunho monumental da engenhosidade e técnica de povos que ainda hoje vivem entre nós.
Se isso não for importante para o Brasil de hoje, é difícil saber o que pode ser.
Para encontrar o seu caminho, nós, o Brasil, precisamos superar a condição medíocre de colônia exportadora de comodities e principalmente a mentalidade colonial, frouxa, preguiçosa e indigente e começar a abrir os olhos de verdade para a riqueza em que estamos inseridos.
Precisamos sobretudo, nós reencontrar com nosso porvir civilizatório: uma nação que trata com igual dignidade a toda sua diversidade cultural e que por isso é múltipla em si mesma e magnânima perante o mundo.