EDITORIAL: Cruzeiro do Sul não tem dono!

O vontade popular pode ser mais uma vez comprovado aqui em Cruzeiro do Sul. Deu-se em relação à votação, pela Câmara Municipal, do projeto de lei de autoria do prefeito Ilderlei Cordeiro pedindo autorização dos vereadores para a contratação de um empréstimo no valor de R$ 15,5 junto à caixa Econômica Federal para investimentos na infraestrutura da cidade e finalmente aprovado na sessão da última segunda-feira (7), conforme já amplamente já divulgado.

Naquele mesmo dia, antes de a Câmara Municipal iniciar seus trabalhos, o ex-prefeito Vagner Sales, dirigente do MDB em Cruzeiro do Sul e uma das maiores – senão a maior, é bom que reconheçamos – liderança política da região do Juruá, foi à uma emissora de rádio destratar o prefeito Ilderlei Cordeiro e ameaçar os vereadores, inclusive aqueles da sua base de apoio. Comportando como o pau torto do dito popular, o político de uma das carreiras políticas mais longevas da história deste Estado, como mais de 40 anos de vida pública, não fez jus à própria história.

Contra o empréstimo e qualquer outra ação do prefeito Ilderlei Cordeiro para melhorar a cidade e a vida da população, já que aposta na política do quanto pior melhor para que assim possa – senão ele, por impedimento por ser ficha suja – impor um candidato de seu grupo e assim voltar a mandar na cidade, Vagner Sales, na sua sanha, ofendeu até mesmo a memória de quem já não estar mais aqui para se defender. Deu-se em relação ao então deputado federal Ildelfonço Cordeiro, pai do atual prefeito de Cruzeiro do Sul, que foi uma das vítimas daquela tragédia com o avião da Rico, em Rio Branco, em agosto de 2002, quando quase duas dezenas de cruzeirenses e cidadãos de outras regiões morreram numa das maiores tragédias da história da aviação brasileira.

Sem pudor ou respeito à memória de um empresário e de um político querido por seu povo, Vagner Sales, a fim de desidratar a figura do prefeito Ilderlei, chegou a dizer, na tal entrevista na rádio, que Ildelfonço Cordeiro teria falido os próprios negócios e logo o seu filho iria pelo mesmo caminho, razão pela qual o atual prefeito não poderia por às mãos no dinheiro a ser financiado. Naquela entrevista, era Vagner Sales sendo mais uma vez Vagner Sales.

Mais que isso, ali estava sendo dado uma demonstração inequívoca de que, apesar das mudanças profundas na sociedade, na vida das pessoas, nos costumes e até na forma de se fazer política neste país, o ex-prefeito continua a ser o mesmo coronelzinho de barranco que acha ser, ainda, possível fazer política da forma, como ele começou, há 40 anos atrás, sem pejo, pudor ou respeito às pessoas.

Aos 60 anos de idade, Vagner Sales acha que pode tratar a cidade de Cruzeiro do Sul e a população do Vale do Juruá como os animais de sua fazenda, como massa de manobra, como gado tangível. Não percebe que as mudanças estão acontecendo, que a política exige agora urbanidade, respeito às pessoas, à sua cultura, ao pensamento alheio, à democracia, às instituições – enfim, o coronelismo de barranco está fora de tempo e de forma, e só Vagner Sales não percebe isso.

Apesar da máxima popular sobre o pau torto, acreditamos que ele ainda tem tempo para mudar. O ser humano é mutável, como vai nos em ensinar o filósofo Ortega y Gasset. Filosofias à parte, cremos que ele deve aproveitar o tempo, principalmente o tempo livre por não poder candidatar-se nem exercer cargos públicos por ser um condenado por improbidade administrativa, para uma profunda reflexão e procurar mudar este comportamento político tão reprovável e que não tem mais espaço nesses tempos modernos. Seria bom para o próprio Vagner, para a democracia e, principalmente, para o Vale do Juruá e sua gente.

Precisa refletir e aceitar que o povo do Juruá é livre e que Cruzeiro do Sul não tem dono, que sua forma de atuação política está ultrapassada e que, a continuar assim, o pau que nasceu torto, morrerá torto – mas apodrecido!