Quem atravessa o rio Madeira em balsas, na região de Abunã (RO), contempla uma das maiores obras que a engenharia já foi capaz de realizar na Amazônia. A imponente estrutura erguida com várias toneladas de concreto e aço que liga definitivamente o Acre às demais regiões do país chega à sua fase final de construção após cinco anos.
E nesta terça-feira, 23, pela primeira vez, uma comitiva acreana fez a travessia de uma margem a outra do rio em veículos.
Sob a liderança do secretário de Estado de Infraestrutura e do Desenvolvimento Urbano(Seinfra), Thiago Caetano, e da senadora Mailza Gomes, foi possível ter a oportunidade de percorrer toda a extensão da ponte em poucos minutos.
Para Caetano, a passagem pela ponte em um veículo foi marcada pela emoção. Servidor de carreira do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o gestor teve a oportunidade de ser o primeiro fiscal da obra e acompanhou de perto as dificuldades para que o tão aguardado sonho se transformasse em realidade.
“Quero exaltar o nome do nosso governador Gladson Cameli que, enquanto senador, várias e várias vezes veio junto conosco acompanhar essa obra. Temos muito a agradecer também à nossa bancada federal, que não tem medido esforços, aos trabalhadores e à empresa que mesmo em momentos de crise, essa obra não foi paralisada nem um dia sequer”, ressaltou.
A senadora Mailza fez questão de lembrar a importância que a obra terá para o Acre. A parlamentar disse que a conclusão da ponte será mais um passo para alavancar a economia da região.
“Sempre acreditei nesta obra e sabia que ela seria concluída porque é um sonho do acreano e uma necessidade para que possamos colocar fim à travessia desse rio em balsas. Estamos fazendo com que as regiões mais distantes, como é o caso da nossa, se desenvolvam e contribuam para o crescimento do nosso país”, enfatizou.
Atualmente, 96% da ponte estão concluídos. Toda a parte de concretagem já foi finalizada, o trabalho está concentrado em serviços de acabamento, como a construção do guarda-corpo. O asfaltamento da pista será a última etapa do processo. Ao todo, já foram investidos R$ 130 milhões na obra.
O movimento de máquinas pesadas é grande do lado do Acre da ponte. Desde o dia 15 de julho, a empresa responsável pela obra deu início à terraplanagem do futuro trecho da BR 364 que será desviado para uma das cabeceiras. A expectativa é que a estrada de acesso fique pronta nos próximos meses.
O grande gargalo diz respeito à outra margem do rio. O solo daquela região é instável e por ser mais baixo, corre o risco de inundação durante o inverno amazônico. Devido a estas peculiaridades, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes(Dnit) ainda não definiu o modelo de acesso que será construído no local.
Algumas possibilidades são estudadas. Uma delas diz respeito à elevação da pista acima do nível histórico registrado na maior cheia do Rio Madeira. Já a outra possibilidade consiste na continuidade da extensão da ponte por mais 400 metros, terminando fora da área alagadiça.
Segundo Caetano, a segunda alternativa é a melhor solução que a engenharia pode proporcionar diante da adversidade apresentada naquela cabeceira. “A continuação da ponte é a garantia que resolveremos este problema aqui encontrado de uma vez por todas”, pontuou.
A ponte sobre o rio Madeira fica em Rondônia, mas a importância desta obra é histórica para o Acre. Desde a abertura da BR-364 entre Rio Branco e Porto Velho(RO), a travessia deste trecho cortado pelo Madeira é feita através de balsas.
A construção da ponte é uma justa e antiga reivindicação dos acreanos e rondonienses que transitam por aquela região. Em média, veículos pequenos levam meia hora para realizar o trajeto.
A situação é ainda mais complicada para caminhões e carretas que transportam os mais diversos produtos entre os dois estados. Em muitos casos, é preciso esperar mais de 24 horas pela travessia.
Em períodos críticos do ano, como a cheia e a seca do rio, a espera aumenta e põe em risco o abastecimento de itens de primeira necessidade, sobretudo, alimentos e combustível.
Em 2014, o Acre se deparou com o isolamento. A maior enchente já registrada no rio Madeira nos últimos 100 anos trouxe o caos. Mercadorias sumiram das prateleiras dos supermercados e motoristas precisaram enfrentar uma verdadeira maratona para conseguir abastecer seus automóveis.
Além disso, a falta de infraestrutura rodoviária básica afastou que muitos investimentos fossem realizados no Acre. O agronegócio é um deles. Com a inauguração da ponte, o Acre assume posição estratégica diante deste novo cenário que se apresenta na região. A proximidade com o porto graneleiro de Porto Velho é uma excelente oportunidade para escoar a produção de culturas como a da soja, café e milho para o mundo.
A ponte também impulsiona a rede de rodovias que forma a Estrada do Pacífico. Um caminho sem volta para encurtar a distância do Brasil com os países asiáticos em até 15 dias por meio dos portos peruanos.
Diante desta importância que a ponte representa para o estado, a bandeira do Acre foi hasteada no meio da gigantesca estrutura. Um ato simbólico e muito representativo para colocar fim à dependência de balsas e abrir novos horizontes de prosperidade para o estado.
Taxista há 12 anos, Deodato de Oliveira Bezerra atravessa diariamente o rio Madeira para transportar passageiros aos mais diversos munícipios do estado vizinho.
Bezerra afirma que já chegou a esperar duas horas para ir de uma margem à outra do rio. Para o profissional, o tempo é precioso e desperdiçá-lo assim é prejuízo na certa.
“O passageiro nos contrata para ter um pouco mais de conforto e durante o tempo que fica parado aqui, o ar-condicionado continua ligado e só aí temos um alto gasto de combustível e já com a ponte pronta, a situação será diferente”, explica.
Animado ao ver a ponte praticamente concluída, o taxista já enxerga um futuro promissor da região e corrige um erro histórico com os habitantes do Acre e da Ponta do Abunã, em Rondônia.
“A importância dessa ponte é muito grande para o desenvolvimento dessa região, e para o trânsito será uma maravilha, porque a gente não vai mais esperar tanto tempo e nem pagar para atravessar. Isso aí era para ser construído há muitos anos e não dá nem para discutir. A gente tem muita fé que agora vai sair”, comentou.
Grande entusiasta da ponte do Madeira, o então senador Gladson Cameli abraçou esta bandeira a favor do povo acreano. O agora governador lutou incansavelmente na busca por recursos para que a obra não parasse.
Cameli sabe da importância desta obra para acabar de uma vez por todas com a travessia de balsas, método arcaico e que há muitos anos traz vários entraves para o desenvolvimento do Acre.
“Não podemos aceitar que em pleno século 21 a travessia do rio Madeira seja feita em balsas. Sou um defensor dessa causa desde o início e tenham certeza que eu só vou parar quando eu ver os veículos atravessando essa ponte de um lado para o outro”, enfatizou.
Em breve, Cameli deve fazer uma vistoria às obras e terá a oportunidade de atravessar o Madeira de uma margem a outra em um veículo e muito em breve colocará seu nome na história como o governador acreano que fará parte da inauguração da imponente ponte.
“Um sonho que está quase se transformando em realidade e para aqueles que duvidaram, demos o nosso trabalho sério como resposta. Essa ponte vem para nos ajudar e tenho certeza que de fato estamos no caminho do verdadeiro desenvolvimento”, concluiu.