Bestene começa a trabalhar para tirar Nicolau Jr. da presidência da Assembleia

Deveria se chamar operação vingança as próximas ações do deputado que, embora praticamente faça parte da família do governador, não o perdoa pelas últimas ações

Pouca gente sabe, mas o casamento do ex-governador Orleir Cameli com a ex-primeira dama Beatriz, conhecida e chamada pelo então marido de Bete, teve como padrinho o então gerente do Banacre em Cruzeiro do Sul, José Bestene. O então empresário Orleir Cameli, lá pelos anos 70, precisando de um empréstimo bancário do Banco do Estado do Acre (Banacre), convida o então gerente da agência de Cruzeiro do Sul para acompanhá-lo numa visita a clientes a Lima, no Peru. Eram as primeiras tratativas para a concessão do empréstimo.

As primas

O gerente do Banacre deveria conhecer os clientes do empresário além da fronteira e, ao chegar em Lima, a capital peruana, fica sabendo que parentes suas, primas principalmente, todas solteiras, moravam ali. Bestene é um cidadão de origem, libanesa, assim como Orleir Cameli, cujos parentes entraram, no Acre, no Brasil, vias Alto Acre e Vale do Juruá. Só isso já seria unir financeiramente o empresário Orleir o e gerente do então maior e único banco do Estado. Mas o destino pregaria novas peças.

Amor à primeira vista

Ao saber que o primo gerente de banco estava em Lima acompanhado de um empresário rico, bonito e de olhos verdes, as irmãs Nancy e Beatriz, damas da sociedade de Lima que falavam português porque tinham pés no Brasil e ligações com familiares brasileiros, os Barrosos e Bestenes, quiseram encontrar os brasileiros. O encontro de Orleir e Beatriz, a futura primeira dama Cameli, contam hoje as testemunhas, na capital peruana, daria um romance, no mínimo uma novela. Foi amor à primeira vista.

Uma dama, um nova vida

De volta ao Brasil, empréstimo concedido, o empresário Orleir Cameli volta ao Peru com o único objetivo de trazer para sua casa, como sua mulher, a peruana-brasileira Beatriz. É feliz na missão. Consta que foi dona Beatriz que devolveu ao empresário Orleir, ao lhe dar o filho Linker, o equilíbrio necessário que o levaria a ser um dos maiores empresários da Amazônia e em seguida a tomar gosto pela política, algo que ele detestava, ao ponto de fazê-lo prefeito de Cruzeiro do Sul, em 1992, e candidato a governador do Acre, em 1994.

O destino é trapaceiro

É aqui que entra em jogo de novo o nosso velho personagem José Bestene, o ex-bancário e ex-gerente do Banacre que, àquela altura, já deputado estadual, ex-presidente da Assembleia Legislativa, sonhava com seu nome indicado pelo partido para ser candidato a governador, depois de ter vencido a velha oligarquia da família Magalhães, cujo então governador, Romildo, encontrava-se acuado. Bestene estava certo de que seria o indicado candidato ao governo. Mas o destino também o haveria de surpreendê-lo.

Vencer os Magalhães foi fácil

Mesmo com rusgas em relação ao então prefeito de Cruzeiro do Sul, Orleir Cameli, enfrentando o braço forte do então empresário Narciso Mendes, o governador Romildo Magalhães apoia Orleir Cameli à sua sucessão e José Bestene é tirado da disputa. Não era uma derrotado, pelo que lhe parecia. Afinal, o futuro governador nada mais era do que marido de sua prima e, por assim dizer, seu afilhado de casamento. Afinal, se não lhe tivesse apresentado sua prima Bete ao empresário, talvez ele continuasse solteiro e por isso mesmo talvez não chegasse aonde chegaria.

Enganado de novo

Enganava-se Bestene mais uma vez. Os Camelis pareciam mais espertos que os Magalhães, que ele havia vencido-os. Reeleito deputado estadual, sonhava que recebesse total apoio do “brimbo” e afilhado de casamento para ser seu candidato natural à sua sucessão. Numa época em que não havia, ainda, o instituto da reeleição, Bestene se achava o candidato da vez. Iria amagar uma nova decepção.

Um secretário massacrado

O governador Orleir Cameli o nomeara secretário de Saúde mas, ao que tudo indica, não o dera as condições necessárias para que ele pudesse, a partir dali, viabilizar sua candidatura ao governo. Bestene se viu compelido a poiar o principal adversário de Orleir Cameli, Jorge Viana, futuro governador do PT, ao qual o então governador parece também não ter consabido de fato. Bestene vai dizer que foi um secretário de saúde massacrado.

No colo do PT para sobreviver

Com o governador do PT no poder, Bestene, sem mandato e sem poder, é obrigado a se aliar aos novos donos do Acre e com eles até convive no poder, assumindo cargos como a presidência do Depasa no governo de Jorge Viana. Mas quando percebe que é possível romper, o faz e vai de novo construir o PP, ele próprio como militante e consegue atrair o então deputado federal Gladson Cameli, sobrinho de Orleir, para seu campo de visão. Gladson Cameli, que fez um mandato inteiro como aliado de Jorge Viana, do PT e da Frente Popular, agora vai se tornar aliado de Bestene no campo das oposições. Bestene vai ser enganado mais uma vez.

Escanteado de novo

Quando Gladson Cameli ganha um segundo mandato de deputado federal, começa a se preparar para um mandato de senador que precia fácil, muito fácil, Bestene se julgava, como fora padrinho de casamento de Orleir Cameli, o tutor do futuro senador. Iria ser enganado mais uma vez. Gladson, embora novato na política, seria mais sagaz do que se imaginava e já tinha outros mestres em mente – ao ponto de Bestene ser, de novo, descanteado. E o foi.

Uma queda inaceitável

Quando Gladson se elege senador e de lá se prepara para ser governador, José Bestene, agora sem mandato e vivendo como empresário e dirigindo o PP, partido do futuro governador, joga sua última cartada. Vai tentar de novo voltar à Assembleia como deputado mas não será mas massa de manobra como o fora nas mãos dos Camelis desde os anos 70. Vence a eleição e assume uma postura dúbia, de conselheiro e carrasco do governador dentro do PP. Gladson se irrita e tira dele a influência de dirigente partidário.

Uma queda no colo

Alysson Bestene, sobrinho de José Bestene, é nomeado secretário de saúde. A informação é de que a nomeação se dera por relações pessoais e amizades que vão além da ligação com Bestene e com o próprio Partido, mas Alysson cai. Embora a nomeação do sobrinho não lhe tenha sido participada, segundo ele vai dizer, a queda do então secretário chega à família Bestene como uma derrota. E ele vai lutar para não deixar isso barato. Ser enganado por um novo Cameli seria demais para o velho Bestene.

O líder dos líderes

E ele passa a agir. Primeiro é peça fundamental na derrubada do primeiro líder do governo de Gladson na Assembleia, o deputado Gerlen Diniz. Depois, ajuda na indicação de Luis Tchê, deputado do PDT e egresso da Frente Popular, seu ex-colega da peladas de futebol no Bancrevea Club, como novo líder. Agora, esvazia-o na direção de um novo líder, o que deve acontecer após o recesso parlamentar, quando deve assumir o cargo o deputado Roberto Duarte, do MDB.

Frio como navalhas

Bestene, sem emocionar e agindo com a frieza de um barbeiro de navalhas afiadas, agora mira o presidente da Assembleia Nicolau Júnior, do mesmo partido dele e do governador – aliás, o presidente é cunhado de Gladson Cameli e daí o teor de sua vingança. Como vingança pela demissão de seu sobrinho Alysson da Secretaria de Saúde e por sua queda na presidência do PP, cargo que ele teve que entregar à senadora Mailza Gomes, na semana passada, quer ser ele o presidente da Assembleia nas eleições de fevereiro de 2021. Numa hipotética eleição de Bestene à presidência da Assembleia, Gladson Cameli viveria o terror do governador Romildo Magalhães, ameaçado de impeachment semana sim, semana não.

Vingança, o prato frio

Pelo sim ou pelo não, é bom que os governistas e aliados de Gladson Cameli não percam Bestene de vista. Ele não engoliu a história do casamento em Lima, a derrocada de seu nome como candidato a governador quando o “brimbo” Orleir estava no governo nem tampouco o que acontece agora. Nicolau Júnior vai ser sua vingança, o prato que se come frio, dizem.