Ex-prefeito tenta impor seus candidatos em municípios do Alto Juruá e deve gerar crises entre os próprios aliados
Para quem sempre gostou de se apresentar na política regional como o “Leão do Juruá”, ter ficado fora do governo do Estado, por ter sido exonerado ao ser enquadrado na nova lei que proíbe transações governamentais com pessoas condenadas por improbidade administrativa, parece algo antipático, ruim, fora de propósito. Mas, ainda que ferido e aparentemente fora de combate, o ex-prefeito Vagner Sales parece disposto a manter o topete e a juba leonina na luta pelo poder.
Crista na onda
É o que se depreende de seus movimentos nos municípios do Alto Juruá, notadamente em Porto Walter e Marechal Thaumaturgo, nos quais sempre agiu desde que se envolveu diretamente com a política partidária, faz cerca de 40 anos. Mesmo vendo seus votos diminuírem por ali a cada eleição, ele busca se manter na crista da onda na região. Em Porto Walter, os movimentos de Sales podem levá-lo a bater de frente com o prefeito Zezinho Barbary, também do MDB.
Arnoldo versus César Andrade
É que Vagner Sales, na condição de presidente regional do MDB, quer impor como seu candidato a prefeito no município no ano que vem um rapaz de nome Arnoldo, apontado como liderança local. O candidato da preferência de Barbary à sua sucessão é o atual secretário de saúde do município, César Andrade. As duas preferências podem vir a se tornar uma zona de atrito entre Sales e Barbary.
Portas e contas
Quem conhece os meandros da política local compreende que a preferência dos dois por candidatos diferentes não é só por uma questão de estilo. É que, desde a posse de Barbary no primeiro mandato de prefeito, em 2013, Vagner Sales não tem tido o acesso que pretendia às contas da Prefeitura de Porto Walter. Com a possibilidade de Barbary fazer seu candidato e manter as portas fechadas para Vagner Sales, o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul quer eleger alguém que lhe franqueie as portas – e as contas – da Prefeitura. Neste caso, o rapaz de nome Arnoldo cairia às mãos de Vagner Sales como uma luva.
Os Sales de longe
O mesmo acontece com a Prefeitura de Marechal Thaumaturgo, onde o prefeito, Isaac Pianko, eleito com o apoio de Vagner Sales, foge do ex-prefeito cruzeirense como o diabo foge da cruz. É por essas e outras que Pianko, que é índio mas não tem nada de bobo, está indo de mala e cuia para o PSD, partido do senador Sérgio Petecão. Pianko deve ser candidato à reeleição e tem dito que também quer manter os Sales o mais longe possível do município.
Sobrinho, mas…
O candidato de Sales em Marechal Thaumaturgo deve ser Alan Almeida, um rapaz que vem a ser sobrinho da deputada federal Perpétua Almeida (PC do B-AC). Apesar do sangue e da ligação parental, a deputada também quer passar longe da candidatura do sobrinho exatamente por suas ligações com o MDB e o ex-prefeito de Cruzeiro do Sul.
Áudios atribuídos ao anão
Por falar em Petecão, a última do momento são uma série de áudios que se circulam nas redes sociais e atribuídas ao anão Jack Montana, amigo e fiel escudeiro do parlamentar. Nos áudios, o anão de pouco mais de um metro de altura desanca Petecão, de quase dois metros de altura, por causa de sua abstenção na votação sobre o decreto de armas do presidente Jair Bolsonaro, que acabou derrotado no Senado, na semana passada. O anão, além de questionar o senador, teria dito que a abstenção de Petecão em votar como queria o governo teria sido uma disenteria mental e que o parlamentar precisaria visitar uma psicóloga ou voltar a tomar Gardenal.
Tem que tomar Gardenal
Para quem não sabe, Gardenal é medicamentodestinado à prevenção do aparecimento de convulsões em indivíduos com epilepsia, doença do sistema nervoso central que causa convulsões ou ausências de lucidez no paciente, além de crises convulsivas de outras origens. A assessoria do senador, a quem os áudios foram mostrados, negou que a voz seja do anão Jack Montana, que tem dificuldade na fala e um vocabulário ao estilo Cabide ou Chico Basil, ambos vereadores no passado, respectivamente, em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, que não são lá, vejamos, exemplos dos melhores parlamentares. Ou seja, a voz não seria de Montana e por isso, Juruá Em Tempo deixou de fazer reportagem, sobre o assunto mas não deixa de registrar o episódio.
Drama de adolescência
O que pouca gente sabe é que o não-voto de Petecão a favor do decreto de Bolsonaro, mesmo sendo ele vice-líder do governo no Senado, tem origem no passado. Petecão tinha 14 anos de idade quando viu o pai, seu “Pelado”, então dono de um posto de gasolina em Rio Branco, no bairro 6 de Agosto, ser assassinado a tiros de revólver por um ex-empregado. O drama de adolescência deve ter feito com que o hoje senador sopesasse bem seu voto em relação à liberalização de armas no país.
Dois nomes, dois problemas
Murano e Ricardo França. Os dois nomes entraram no radar da política local e, principalmente, dos deputados de oposição na Assembleia Legislativa. O primeiro é a identidade de fantasia de uma empresa de Brasília que até aqui vem ganhando todas as licitações no âmbito da Secretaria de Infraestrutura. Já teria abocanhado, em menos de seis meses de Governo, algo em torno de R$ 57 milhões – isso em detrimento da penúria das empresas locais, que não ganharam nada até aqui. O segundo nome é o do advogado que representa o governo do Acre em Brasília e cujos tentáculos estão bem fincados no Acre.
Rumo às cordas
Se acharem alguma ligação entre a empresa e o advogado, o governo Gladson Cameli estará definitivamente encrencado. O deputado Jenilson Leite (PC do B) começou a correr, nos corredores da Assembleia Legislativa, em busca de tais informações e acha que está bem próximo de levar o governo às cordas.
Emedebistas no olho do furacão
Engenheiro de profissão e perito da Polícia Federal, Roberto Feres é um MDB de carteirinha, faz muito anos. É ligadíssimo ao deputado federal Flaviano Melo, presidente regional da sigla. Faz parte do governo de Gladson Cameli num cargo de primeiro escalão na Secretaria de Planejamento e Gestão Administrativa, na qual se encontra à frente a secretária Maria Alice. Outra secretária do MDB é Eliane Sinhasique, do Turismo. Mas o líder do Partido na Assembleia Legislativa, deputado Roberto Duarte, tem dito que os três não representam o MDB no governo, do qual a sigla, apesar de ter ajudado na eleição do governador, não faria parte. Os três teriam sido escolha pessoal do governador Gladson Cameli.
Mutismo dos dirigentes
A posição de Duarte deixa os três fragilizados dentro do governo porque político sem apoio partidário – e ainda mais sem mandato – é igual, para usar um termo popular, um prostíbulo sem cama. Ainda mais quando as duas maiores lideranças do partido no Estado, o presidente Flaviano Mele e o senador Márcio Bittar, fazem um silêncio obsequioso sobre o assunto. Essa dubiedade vai trazer problemas ao MDB, ao governo e às secretárias Maria Alice e Eliane Sinhasique, além de Roberto Feres.
Problemas no futuro
E o futuro está logo ali adiante, na curva que leva à eleição municipal do ano que vem na Capital, a qual deverá ter o deputado Roberto Duarte como candidato a prefeito. É claro que o governador Gladson Cameli também terá um candidato a prefeito, o qual dificilmente será Roberto Duarte por causa das posições do deputado na Assembleia, de votar e marchar com a oposição. Então, na hora de pedir votos, como ficam Maria Alice, Sinhasique e Roberto Feres? Vão pedir votos para o MDB ou para o candidato de Gladson Cameli?.
A confusão se dará aí. Alguém vai ter que pedir o boné.
Convocação de secretária
A secretária de saúde, Mônica Feres, deve ser convocada a ir explicar-se na Assembleia legislativa. A convocação deve ser aprovada na semana que vem.
Até amanhã.
PS: aos amigos do Juruá e de todo o Acre, comunicamos que estamos de casa – e coluna nova. Manteremos contato por aqui, sempre;