Quando esteve na escola, nos anos 1990, Josiah Chua, hoje com 31 anos, diz que “todo mundo” tinha um Tamagotchi – o nome oficial do “bichinho virtual” japonês que virou febre entre crianças do mundo todo.
“Acho que era inclusive proibido levá-lo para a escola. A gente tentava ‘contrabandear’ o brinquedo na mochila”, diz o estilista de Cingapura.
Essas memórias de Josiah provavelmente são típicas entre os millenials – pessoas de sua geração.
O brinquedo tinha um formato redondinho e uma tela pixelada, e o dono precisava manter um animalzinho virtual vivo com constante cuidado e atenção. Ele se tornou uma febre no mundo todo logo depois de seu lançamento, em 1996.
E agora ele está voltando, na onda do retorno de brinquedos clássicos dos anos 1990. A fábrica japonesa Bandai relançou o Tamagotchi no Japão em 2017 e neste ano, em julho, ele será relançado também na América do Norte.
Ainda não há previsão de lançamento do brinquedo no Brasil.
No novo modelo do brinquedo, o bichinho faz mais do que comer, dormir, apitar e morrer.
A Bandai diz que o Tamagotchi “evoluiu” para ter mais personalidade, além de “viver” em diferentes habitats e se reproduzir.
“Os fãs do brinquedo já estão muito empolgados e fizeram encomendas antecipadas”, diz Tara Badie, diretora de marketing da Bandai América.
Moda retrô
O relançamento do Tamagotchi é mais um exemplo da onda de reedições de brinquedos que foram símbolos dos anos 1990 e 1980.
A analista de varejo Chana Baram diz que houve um aumento no número de produtos “retrô” porque as pessoas procuram pelo conforto “‘dos velhos tempos”.
“Costumávamos fazer isso em termos de roupas e moda, mas hoje em dia estão na moda também outros tipos de produtos antigos.”
É uma tendência também observada por Alessio Di Marco, dono da Tons-of-Toys, que vende itens vintage e brinquedos colecionáveis.
No último ano ele diz ter visto um “forte aumento no interesse em brinquedos dos anos 1990”, como as Tartarugas Ninja, os Power Rangers e a boneca Polly.
Di Marco diz que também há muita demanda por objetos da “década fabulosa da Disney”, como ficou conhecido o período entre o lançamento de A Pequena Sereia, em 1989, e Tarzan, em 1999.
“As crianças dos anos 1990 cresceram e estão cada vez mais nostálgicas pelos brinquedos de suas infâncias”, diz ele.
Agora adultas, elas têm dinheiro para comprar o que querem – muitas vezes brinquedos caros que suas famílias não podiam pagar nos anos 1990.
Uma pesquisa recente da Mintel, empresa que faz análise de varejo, diz que 57% dos compradores de brinquedos no Reino Unido compram brinquedos para os filhos com os quais também gostariam de brincar.
No Brasil esse mercado também está quente. A Estrela, por exemplo, relançou brinquedos dos anos 1970, 1980 e 1990, como o Genius, o Ferrorama, o boneco Falcon e o Pogobol.
Todo mundo que tem boas memórias da infância relembra com carinho dos objetos do período, diz Baram.
Porque a nostalgia funciona
Para as marcas, apostar na nostalgia não é algo novo. É um elemento de uma estratégia de marketing mais ampla que visa conquistar os consumidores através do escapismo.
“Especialmente voltar para as memórias idealizadas da infância”, diz Asia Benoit Wiesser, diz diretor de estratégia de mercado da agência de publicidade Ogilvy.
Ele diz que memórias dos nossos anos de formação – música, roupas, brinquedos e jogos – estão gravados em nossos cérebros como uma espécie de armazém de sentimentos felizes.
Então, diz ele, jogar com um Gameboy traz de volta essa associação. “No momento em que você pega um objeto desses na mão, ele vem junto com todas essas associações e sentimentos positivos”, diz Wiesser.
Ele diz que a nostalgia pode estar mais saliente hoje por causa da falta de otimismo dos millenials e da geração Z.
Segundo Wiesser, vivem em um clima de incerteza que ajuda a criar um ambiente propício para a nostalgia.
“Não há necessariamente um sistema de crenças sobre como seguimos em frente a partir daqui.”
“Há definitivamente uma relação entre a popularidade do marketing de nostalgia e o baixo grau de confiança, otimismo e senso de segurança de uma população”, acrescenta ele.
Novos fãs
No entanto, as marcas não estão apostando em meros relançamentos de sucessos do passado – seus produtos foram “atualizados”.
A Bandai espera que seu Tamagotchi On, cujo público alvo são garotas de 6 a 12 anos, esteja cheio de novidades o suficiente para atrair jovens fãs habituadas com tecnologia.
O fã de Tamagotchi, Chua, também está empolgado para descobrir que sentimentos o brinquedo repaginado vai despertar.
“Ter a nova versão pode ajudar a trazer de volta a criança em você”.
G1