Trechos inéditos das conversas entre o então juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato de Curitiba foram divulgados pelo The Intercept nesta sexta-feira (14). O novo conteúdo mostra os procuradores preparando a estratégia de ataque contra o Lula. Um dos alvos usados foi a esposa do ex-presidente, Marisa Letícia, que já havia falecido.
A menção à Dona Marisa seria feita na nota oficial que o Ministério Público iria emitir à imprensa. “Eu iria direto na jugular”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em uma das conversas no grupo de procuradores.
Santos Lima foi quem recebeu as ordens de Sergio Moro para que o MPF publicasse uma nota. Na conversa com os procuradores, Santos Lima ditou a narrativa que foi usada por diversos veículos da mídia. “Eu iria direto na jugular, falando que culpar quem morreu é uma tática velha de defesa”, escreveu ele, que minutos antes havia dito que “se fosse para falar” seria do jeito dele, ou seja, tentando criar a tese que que para se esquivar das acusações, Lula citou a ex-mulher que morreu vítima de um AVC.
Inicialmente, a estratégia de Santos Lima não convenceu os demais procuradores. “Ele não reconheceu os crimes e colocou nas costas dela… ele apenas disse que ela que tratou disso e que ela mesma não ia comprar no fim… qto ao item apreendido, pulou fora. Vcs que estavam lá podem avaliar melhor, mas pelo pouco que vi não me pareceu que foi isso. Foi?”, disse Deltan Dallagnol.
Mas a tese prevaleceu e a narrativa foi traçada pelo procurador Julio Noronha: “… Quanto às muitas contradições verificadas no interrogatório do ex-Presidente Lula, à imputação de atos à sua falecida esposa, à confissão de sua relação com pessoas condenadas pela corrupção na Petrobras e à ausência de explicação sobre documentos encontrados em sua residência, o Ministério Público Federal se manifestará oportunamente, no processo, especialmente nas alegações finais”, rascunhou o procurador para aprovação dos demais.