A farinha de mandioca, considerada o principal produto da economia de cinco cidades do interior do Acre, há mais de seis anos sofre um processo de desvalorização no preço e está desmotivando os agricultores a manter a produção.
A saca de 50 quilos, que já chegou a ser comercializada por R$ 200, atualmente chega a ser vendida pelo produtor até por R$ 35.
O preço do produto, que é reconhecido como a farinha de melhor qualidade do país, está em queda desde 2013. Com a criação de duas cooperativas que se responsabilizavam pela compra em larga escala para a exportação, a saca de 50 quilos era paga para o agricultor a um preço de entre R$ 150 a mais de R$200.
Nos últimos dois anos, a saca não superou a casa dos R$ 60 para o produtor quando ele entrega diretamente no mercado da cidade. Se vender na própria comunidade, ele chega a vender a saca até por R$ 35.
O presidente de uma das Cooperativas, Darci Mendes, avalia que a falta de capital de giro fez com que as entidades deixassem de manter o produto em estoque aguardando valorização, o que fez a farinha de Cruzeiro do Sul ter o preço reduzido.
“Geralmente, quando a cooperativa compra, rapidamente o preço da farinha sobe no mercado, porque o poder da cooperativa é comprar a farinha e armazenar para vender por um preço melhor. Mas, nesses últimos anos, a cooperativa não tem tido um incentivo do governo e não tem conseguido uma linha de crédito no banco”, avalia o presidente da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais de Cruzeiro do Sul (Camprucsul).
De acordo com a Camprucsul, atualmente nas cidades do Vale do Juruá, são produzidas mais de 30 toneladas de farinha todos os meses. No entanto, a região já chegou a produzir cerca de 600 toneladas mensalmente.
Mudando de ramo
Devido à baixa no preço do produto, muitos agricultores decidiram parar de fabricar a farinha de mandioca. Esse é o caso da família de Jardel Silva, 35 anos que mora na Vila Santa Luzia. Ele e todos os seus irmãos decidiram mudar de ramo.
“O produtor broca o roçado, planta e tem o processo de limpeza da plantação que leva um ano e quando chega no ponto de fazer a farinha e vender, ele praticamente está dando o produto dele, com esse preço. É humilhante. Por isso, decidimos parar e hoje e faço frete nos ramais”, alega Silva.
Já o agricultor João Almeida, que mora no Ramal dos Paulinos, ainda mantém o plantio de mandioca, mas também deixou de fazer farinha e agora prefere retirara somente a fécula da mandioca.
“Parei porque não tem condição mais não. Hoje você chega no mercado e vende a saca a R$ 50 a farinha, e está a R$ 50 a diária de um trabalhador. Então, não compensa fazer farinha para vender. Agora estamos aproveitando apenas para tirar a goma que a gente vende a R$ 2 o quilo e compensa mais do que a farinha”, disse o agricultor que chega a produzir 500 quilos de fécula por semana.
Aqueles que mantém a produção reclamam que a renda caiu e aumentaram as dificuldades para sustentar a família. José Feitosa, de 45 anos, trabalha na roça há mais de 3 décadas. Ele afirma que já chegou a produzir mais de 100 sacas de farinha por mês, mas, com a queda no preço ele decidiu reduzir a produção e hoje são apenas 30 sacas mensalmente.
“Depois de todo processo, que temos para fazer a farinha, quando vamos vender, acabamos pagando para trabalhar. Se acaba em nada”, reclama Feitosa.
Por Mazinho Rogério