Imagens gravadas em uma clínica mostram um menino de dez anos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) sendo agredido pela terapeuta ocupacional.
A mãe da profissional também participa.
O vídeo foi gravado em uma clínica em Castanhal, região metropolitana de Belém, e começou a circular na internet esta semana. A Polícia Civil investiga o caso e já ouviu o garoto e a mãe dele.
Nas imagens, o menino mexe em objetos e a terapeuta parece tentar tirá-lo das mãos dele garoto. Ele dá um tapa. A profissional revida batendo nele e gritando.
Na sequência, a mãe da terapeuta, que estava sentada no chão, se levanta com um cinto na mão e vai em direção ao menino, pedindo que ele não bata mais em ninguém. Ele responde: “não, mãe. Não, mãe. Parou, parou”, pede a criança.
A terapeuta volta a ameaçar a criança e diz: “não é para achar graça”.
“Você acha que você é quem para bater nos outros? Você pensa que você é quem?”, pergunta a mãe da terapeuta ao garoto.
A criança tenta se livrar, mas é encurralada pela terapeuta, que segura forte o braço do garoto.
‘Plantando amor’
A clínica foi identificada pelo nome de A Fazendinha e tem como slogan “plantando amor e desenvolvimento.”
Após a divulgação do caso, a clínica suspendeu os atendimentos, segundo vizinhos do local.
A filmagem começou a circular nas redes sociais na última quarta-feira (22) e chegaram à Polícia Civil.
“A mãe da criança foi ouvida, e o menor passou por escuta realizada por assistente social na Deaca (Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e Ao Adolescente) de Castanhal”, informou a polícia.
A agressão seguida de ameaças teria sido filmada pela mãe de um outro paciente da clínica, que desconfiava do tratamento que o filho vinha recebendo.
A APAAC (Associação dos Pais e Amigos de Autistas de Castanhal) informou que registrou o ocorrido no Conselho Tutelar do município ontem e pediu que as providências legais cabíveis sejam aplicadas.
A associação relatou que a mãe da criança observou mudanças no comportamento do filho quando ele voltava da terapia e se assustou ao receber as imagens pelo WhatsApp.
Ontem, a mãe do menino procurou o Ministério Público em Castanhal e lavrou um termo de declaração na promotoria da infância.
Procurado pela reportagem, o Conselho Tutelar informou que acompanha as investigações junto à Polícia Civil.
A prefeitura de Castanhal afirmou que está fazendo um levantamento para saber se a clínica tinha alvará de funcionamento. Ontem, uma equipe da vigilância sanitária foi até o local para vistoria, mas a clínica encontrava-se fechada.
A reportagem tentou localizar a terapeuta ocupacional e a mãe dela, mas não conseguiu. Ninguém atendeu as ligações telefônicas feitas para a clínica. A página do estabelecimento no Facebook foi desativada.
Repúdio
O grupo de Mães Mundo Azul, que mobiliza mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista, classifica as imagens de “estarrecedoras” e diz que elas apresentam “violência física e psicológica” contra uma criança com autismo.
O grupo destaca que “tais situações indicam a grave ocorrência de violações de Direitos Humanos e de Direitos da Pessoa com Autismo”.
O grupo afirma ainda que a conduta da profissional “merece não somente o repúdio da sociedade, mas uma apuração minuciosa e punição exemplar para que tais ações não ocorram novamente.”