Artigo: Reflexão sobre 2020

Por Prof. Marcelo Siqueira 

Se quisermos nutrir alguma esperança de retomada de um desenvolvimento equilibrado e sustentável, teremos que incialmente romper com as distrações da politicagem, libertando-se do clima de torcida histérica, para de forma crítica retomar nossas escolhas sem separar o desenvolvimento econômico do social.

A política no Brasil tem revelado nos últimos anos o exercício de uma espécie de maniqueísmo útil, que valendo-se do dualismo religioso entre o bem e o mal, explora a boa fé e as limitações críticas das pessoas para fins de produzir comportamentos coletivos desprovidos de reflexões e úteis aos mais diversos e indecorosos interesses eleitorais.

O uso de mecanismos de comunicação como _facebook, whatsapp, youtube e twitter,_ permitiram o surgimento de milhares de novos atores sociais, cujo principal objetivo – quando o assunto é política – é promover uma espécie de luta de São Jorge contra o Dragão, algo aparentemente agradável aos valores sociais, todavia, ao contrário do que propõe a Escritura Sagrada, não é nada libertador, pois na prática é apenas um artifício orquestrado e calculado de manipulação social, ou seja, uma distração.

Enquanto isso, políticos e seus marqueteiros se articulam para viabilizar um comportamento de torcida no cidadão brasileiro, algo útil como distração para aprovação de reformas impopulares como a da previdência, mas fundamental para a definição do clima das eleições municipais de 2020.

As eleições municipais, apesar de muitas vezes pormenorizadas nos noticiários, detêm uma importância primordial para o desenvolvimento da nação. O Brasil tem 5.570 municípios que já no primeiro trimestre de 2019 receberam cerca 3,9 bilhões de reais em repasses impositivos, além de recursos oriundos de emendas parlamentares e convênios diversos.

O modelo de gestão aplicado a maioria das cidades brasileiras é absurdamente colonial e não é raro evidenciar nos noticiários a existência de procedimentos e ações alheias ao estado democrático de direito. De acordo com o índice do Fórum Econômico Mundial o Brasil é o 4º. país do mundo em indicadores de corrupção, sendo que os municípios, quando se considera dados da Organização das Nações Unidas, são preponderantes para alcançar a cifra de 200 bilhões de reais em recursos desviados.

Daí a necessidade de distração social, já que a corrupção e a má gestão são sustentáculos de verdadeiros clãs espalhados por todo o país, com destaque para regiões mais pobres como o norte e o nordeste.

Com modelos de gestão centrados na acomodação de cabos eleitorais e na distribuição de secretarias de governo, sem nenhum compromisso ético ou técnico, como prêmio por participação em palanques, a maioria dos municípios brasileiros sofrem, principalmente em tempos de crise econômica, com o avanço da pobreza, péssimos indicadores de educação e saúde, além de problemas crônicos de infraestrutura.

Apesar desses problemas serem perceptíveis por toda a população, o clima polarizado das eleições, principalmente considerando um eleitorado menor, promove a personificação das disputas, em um cenário onde geralmente sobram ofensas e faltam propostas.

Desta forma, se quisermos nutrir alguma esperança de retomada de um desenvolvimento equilibrado e sustentável, teremos que incialmente romper com as distrações da politicagem, libertando-se do clima de torcida histérica, para de forma crítica retomar nossas escolhas sem separar o desenvolvimento econômico do social. 

Também será primordial refletir, não sobre um candidato, mas sobre uma proposta governamental marcada pela perspectiva de competência gerencial, que compreenda a necessidade de desenvolvimento econômico local considerando ações factíveis à geração de emprego e à infraestrutura, fugindo da lógica de usar cargos públicos como presente, mas sem menosprezar a política como instrumento democrático de representatividade e diagnóstico social.