Fernando Melo: “estou de volta porque entendo que a política tem que ser feita por pessoas de bem”

Ex-deputado federal disputará o cargo novamente em 2018 e diz que vai propor ao futuro governador Marcus Alexandre a reedição do programa “Polícia da Família”

 

Ele foi secretário de Segurança Pública em dois momentos da gestão do então governador Jorge Viana, no primeiro e no segundo mandato. Foi um período de forte combate à criminalidade, mas também da criação de um programa em que os membros das forças de segurança, civis e militares, eram tratados como “pessoas de casa” nos bairros e até mesmo nas comunidades mais violentas. Era o tempo do programa chamado “Polícia da Família”, que ele pretende ver reeditado no futuro governo de Marcus Alexandre, candidato da Frente Popular e apoiado por seu parido, o Pros, que está sob sua presidência.

Na entrevista a seguir, Fernando Melo, acreano nascido em Cruzeiro do sul, fala de sua origem e de sua prestação de serviços à comunidade. A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva a O Juruá em Tempo.

Qual é a sua relação com o Vale do Juruá e com Cruzeiro do Sul?

Fernando Melo – Eu sou de Cruzeiro do Sul. Eu costumo brincar com meus amigos do Juruá dizendo que tenho o meu umbigo está enterrado ali onde é a farmácia do Édson Sidô. Ali está minha origem, onde meu pai e minha mãe, nos anos 50, começaram a construir a nossa casa e nossa família. Depois de algum período, nós nos deslocamos para Rio Branco, mas o nosso coração sempre está nesta terra boa que nos serviu de berço.

E ainda tem gente da sua família vivendo no Juruá?

Nossa família migrou. Meus avós foram morar em São Paulo porque minha tia casou com um aviador da FAB (Força Aérea Brasileira) naquele momento e, no ano de 1959, meu avô – conhecido como Pernambuco, delegado de polícia, foi o fundador da Santa Casa de Cruzeiro do Sul, era uma figura influente, religioso, espírita… – e minha avó partiram para São Paulo. Meu avô chegou a Cruzeiro do Sul no início do século passado e ali constituiu família. Minha avó – Cecília Alves de Melo – é que tem parentes lá. A família Alves, de Cruzeiro do Sul, é remanescente da minha avó e parente da gente. Minha avó nasceu no estirão do Triunfo, lá em Marechal Taumathurgo. Na verdade, eu nem sou filho, sou neto de cruzeirense, um legítimo caboclo do Juruá.

E sua família veio para Rio Branco por qual motivo?

Bom, meu pai – Orlando Sabino da Costa – era funcionário público do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e foi promovido para ser o delegado geral do órgão no Estado na época. Como a sede era em Rio Branco, nós viemos para cá. Aqui, como já havia melhores oportunidades, para estudar inclusive – e éramos uma família grande, de sete filhos – tínhamos sacrifício, mas papai e mamãe conseguiram formar a nós todos e hoje nossa família tem engenheiro, médico, economista, advogado, enfim, somos uma família que temos a nossa parcela de contribuição à sociedade acreana.

Como é que se deu o início da sua vida pública?

Eu comecei na vida pública trabalhando na nossa Universidade. Depois, fui para o Banco do Brasil, como concursado, onde fiquei por 13 anos e onde obtive uma formação política, através do Sindicato dos Bancários, junto com a Perpétua Almeida, com o Sérgio Taboada, com a nossa ex-vereadora saudosa Maria Antônia, que foi uma grande companheira. Na época, fizemos, através do Sindicato dos Bancários, um dos mais fortes movimentos do Acre, ligado ao PC do B, através do qual fizemos as grandes greves do movimento bancário acreano. Isso nos fez chamar a atenção para a questão política, que hoje é a razão de ser da minha vida profissional.

O senhor foi para onde depois?

Sim, na sequência, fui indicado pelo PC do B, para ser assessor da Prefeitura de Rio Branco, na secretaria de administração, na gestão do então prefeito Jorge Viana. Passamos quatro anos lá e acho que fizemos um bom trabalho e ali ajudamos a formar a base da Frente Popular do Acre no executivo, mas ainda assim perdemos a sucessão do prefeito Jorge Viana com a candidatura do Marcus Afonso. Mas voltamos a governar em 1999, com Jorge Viana eleito e empossado governador, quando ele me convidou para dirigir o Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Ali enfrentamos um grande desafio que foi organizar a autarquia, que era na época o mais avacalhado da administração pública. Para se ter uma ideia do que estamos dizendo. Basta lembrarmos que o ex-diretor do Detran, no momento em que assumimos, um certo coronel Stélio, estava preso, na cadeia, por causa de inúmeras irregularidades. Não sei dizer quais eram os crimes, mas, por certo, eram grandes os desmandos porque não seria à toa que o Ministério Público pediria e um juiz concederia a prisão de um coronel do Exército. Mas assumimos, não olhamos para trás e procuramos olhar à frente usando a força de trabalho que havia lá, em grande parte composta de gente decente, comprometida. O então governador Jorge Viana me deu carta branca e então formamos uma equipe e formamos a melhor equipe que eu já tive na minha vida pública. Foi assim que conseguimos colocar o Detran nos eixos e o órgão até hoje, mesmo com a passagem por lá de vários diretores depois da nossa gestão, é muito respeitado graças à base que nós deixamos lá. Isso nos enche de orgulho em saber que nosso trabalho foi feito com bases sólidas.

Depois veio então a segurança pública. Como o senhor foi para lá e o que o senhor fez de fato à frente do órgão?

Passei pela secretaria de segurança pública em dois momentos. Primeiro, passei um período de seis meses, num momento de crise pela qual passava o sistema de segurança na administração da então chamada “dama de ferro”, a falecida Salete Maia. Na época havia um clima de conflito entre os policiais e eu fui convidado por ela e pelo então governador Jorge Viana a assumir a pasta. Tive o apoio dos policiais e do delegado Walter Prado e do coronel Alberto Camelo então comandante da PM, e conseguimos melhorar muito a sensação de segurança na cidade e no interior. Aí fui eleito deputado estadual e posteriormente fui convidado novamente a voltar à Segurança para darmos prosseguimento ao trabalho que estávamos fazendo. Na época, tínhamos a visão – e o governador concordava com isso – que não bastaria apenas prender quem devia ser preso. Senti que precisaríamos fazer um trabalho preventivo e grande, espelhado neste grande programa da saúde, o “Saúde da Família”.

E como era o “Polícia da Família” ? Em que consistia?

Era uma variação do ‘Saúde da Família”. O governador Jorge Viana topou a ideia e nós tivemos a oportunidade de recebermos equipamentos e novos policiais tanto civis como militares e esse pessoal foi treinado na academia no sentido de dar à segurança pública um trabalho de prevenção. Assim foram instaladas algumas bases nos bairros mais violentos da cidade e das cidades do interior, com a presença constante de policiais nas ruas não apenas para prender, e sim para conhecer os índices sociais dessas famílias. Eram feitos questionários em que cada família consultada respondeu àquilo e terminou que os próprios policiais passaram a aconselhar, ajudando, prestando assistência social. O fato é que vimos na época os índices de violência despencarem. Os policiais andavam nas ruas durante o dia. Primeiro, andavam armados e depois nem armas mais eram utilizadas, só em casos extremos, porque os bandidos haviam desaparecido dessas comunidades porque bandido é igual a rato, ele gosta de escuridão de locais abandonados. Um dos nossos trabalhos foi cuidar da iluminação em toda a cidade e a polícia começou a ser parceria da comunidade, inclusive levando para a escola as crianças que estavam fora das salas de aula, levando grávidas para maternidade, socorrendo menino que quebrava o braço, enfim, um trabalho social. Os opositores do Governo na época diziam que os carros da polícia da família estavam mais servindo à saúde do que à segurança pública. Infelizmente, depois esse projeto deixou de ser executado.

Por que acabou?

Não sei. Eu não estava mais na gestão. Acabou na gestão do Binho Marques, mas hoje o programa “Polícia da Família” é uma bandeira do Pros, que é o meu Partido e do qual eu sou presidente e vamos apresentá-lo em breve ao nosso futuro governador Marcus Alexandre, para que ele o incorpore a seu plano de governo e para que ele volte com o programa “Polícia da Família”, assim que assumir o governo em janeiro de 2019. É um programa do qual até os policiais, tanto civis como militares, também gostam. Eu me lembro que, quando a gente tirava um combatente das ruas e colocava dentro do programa “Polícia da Família”, a gente via a transformação do policial. Era um programa que humanizava o bandido e o policial porque o erro é a ideia de que violência tem que ser combatida com violência. Mas, na época, aliada a isso tínhamos também uma tropa de choque pesada, que vivia treinando e pronta para agir nos momentos mais belicosos, como rebelião em presídios. Quando era necessário fazer o que chamamos de cirurgia, fazíamos com rigor. As rebeliões eram respondidas duramente, de forma que foi um período muito bom e fico gratificado quando o senador Jorge Viana relembra disso por onde ele passa e fala. Hoje nós temos uma situação terrível. Em Cruzeiro do Sul, por exemplo, com várias execuções, com pessoas tendo suas cabeças decepadas e deixadas em frente às escolas.

Como o senhor analisa isso?

Com muita tristeza. A gente ver que nossos jovens estão à mercê de ganhar diárias dos bandidos em troca de dinheiro que eles não ganham por estarem desempregados. Mas o fato é que, na nossa época, tínhamos uma média de três execuções por ano – por ano! -, aquelas mortes sumárias, em que não se sabe a autoria. Tínhamos 150 homicídios por ano e a gente trabalhava para reduzir o número e os nossos homicídios eram de finais de semana, uma bebedeira aqui e outra acolá, crimes passionais. Morria um ou dois policiais por ano. O momento da segurança pública hoje é muito preocupante e é a preocupação número um da nossa sociedade e deve ser também do governo.

Então, depois de ter sido deputado federal o senhor está tentando voltar à política e à função?

Sim, eu fui deputado federal mas não fui reeleito, o que me permitiu ficar fora dessa enorme crise moral pela qual passa o parlamento brasileiro, que atinge o Executivo também e boa parte do Judiciário. Amigos meus mais próximos me dizem até, brincando, que não fui reeleito porque tive um livramento, mas, enfim, estou de volta. Fui convidado e acho que tenho ainda tempo e idade para dar minha contribuição e acho que tenho muito a contribuir, principalmente pelas experiências que tive e que acumulei ao longo dos anos. Estou num Partido novo do qual eu sou presidente, um partido que tem apenas quatro nos de atuação e que já disputou uma eleição e obteve e dois milhões de votos no país e que agora estamos nos preparando para termos cinco milhões de votos. Então, eu estou chamando às pessoas e aqueles amigos que queiram contribuir na política, principalmente aqueles que estão mais afastados para que voltem e a gente possa voltar a fazer a política do bem e para o bem porque eu entendo que só há felicidade na política porque fora dela é ditadura, é escuridão, e isso nós não aceitamos. A política é o lugar de pessoas de bem e essas pessoas não podem deixar de participar do processo porque, do contrário, serão os maus que irão nos governar. A política é para pessoas de bem.

 

Por Tião Maia