Por Cesário Campelo Braga
O dono de uma pequena indústria possuía 10 trabalhadores, e pagava aos mesmos um salário mínimo por jornada de trabalho diária de 8h, mensalmente. Estes produziam 10 objetos por mês e pela venda desses 10 objetos o patrão recebia o lucro médio de 20%. Com isso ele vivia feliz.
A vida ia bem até que o patrão ouviu em um telejornal que o brasil estava em crise. Ele não sabia bem o que era isso, mas começou a se preocupar. Se o jornalista da TV afirmara que estávamos em crise, quem era ele para dizer o contrário? O patrão da nossa história trocava de carro anualmente, mas esse ano já havia decidido que com a crise não gastaria, não comprando um carro novo naquele ano, pois momentos difíceis estavam por vir.
No ano seguinte ele começou a sentir os reflexos da anunciada crise. Aqueles que sempre compravam sua mercadoria, pararam de comprar, assim, já não estava tão fácil vender os 10 produtos. Ele pediu uma reunião com seus funcionários e alegando a tal crise, comunicou que demitiria metade deles porque não tinha como pagar o salário de todos.
Um dos que sentiu que seria demitido disse que havia assistido no jornal que o governo tinha feito uma lei para ajudar a manter os empregos, uma tal de reforma trabalhista. O empregador disse que tinha ouvido falar da lei, mas não sabia como esta funcionava. Nesse impasse, os trabalhadores pediram um tempo, e o patrão deu esse tempo até que ele mesmo pudesse entender como funcionava essa famosa lei.
O patrão procurou a federação da indústria do seu estado para perguntar o que era essa reforma trabalhista. O presidente da federação, proprietário da maior indústria daquele estado, afirmou que a lei era a salvação dos patrões, e que ele conseguiria manter a fábrica aberta e ainda expandir os lucros. Feitas as devidas explicações, o patrão remarcou a reunião com os trabalhadores.
Na reunião o patrão disse que tinha uma solução para todos permanecerem no emprego, bastava que eles aceitassem coletivamente receber metade do salário. Os que se julgavam melhores funcionários, acreditando que permaneceriam, reclamaram, porém como a insegurança também era coletiva, cederam e aceitaram.
Com a mudança, o dono da pequena indústria permaneceu possuindo 10 trabalhadores. agora, passou a pagar aos mesmos metade de um salário mínimo por jornada de trabalho diária de 08h, mensalmente. Estes permaneceram produzindo os mesmos 10 objetos por mês, mas pela venda desses 10 objetos o patrão passou a receber um lucro médio de 60%. Com isso ele seguiu vivendo feliz, já os trabalhadores… essa é uma outra história.
¹mais-valia é o termo utilizado por Karl Marx em alusão ao processo de exploração da mão-de-obra assalariada que é utilizada na produção de mercadorias. Trata-se de um processo de extorsão por meio da apropriação do trabalho excedente na produção de produtos com valor de troca.
Cesário Campelo Braga, é secretário regional de organização do Partido dos Trabalhadores no Acre.