Há apenas uma máquina trabalhando em toda BR 364

A BR está ótima. Para quem gosta de aventura e correr risco.

Fui (31/12) e voltei (03/01) pela BR 364 e pude ver de perto o estado deplorável em que se encontra a rodovia. Chega a ser deprimente ver o estado dos passageiros dos ônibus que ainda se arriscam a fazer o trajeto. É o caso de uma avaliação realista se vale a pena manter a BR aberta neste inverno, pois os riscos de acidentes estão cada vez maiores e em caso de uma fatalidade, quem seria responsabilizado?

Há muita pedra ao longo da rodovia, mas o trabalho de colocá-las nos trechos mais difíceis pareceu muito lento, ao menos nessas datas. As chuvas intensas e os caminhões pesados acabam com o serviço em questão de horas.

Uma única máquina retroescavadeira foi avistada ao longo dos quase 700 km da BR

Avistei apenas uma única máquina retroescavadeira, fazendo uma recuperação emergencial em um trecho da rodovia entre Tarauacá e Feijó. Evidentemente muito aquém da necessidade. Todos sabemos das dificuldades em se trabalhar na rodovia, especialmente no inverno amazônico. Mesmo assim, houveram fogos e vinho tinto para receber o ministro dos transportes em Cruzeiro do Sul o que legitima a cobrança a quem disse que ‘iria assumir o filho’, no caso, o senador Gladson Cameli (PP).

Nem parece a BR. Trechos reconstruídos apresentam boa trafegabilidade

Outro ponto que merece ser mencionado, é que apesar do estado calamitoso da rodovia, alguns trechos, surpreendentemente apresentam boas condições de tráfego. A saber: entre o Juruá e o Liberdade, um trecho entre o Acuráua e Tarauacá, o trecho entre os rios Jurupari e Macapá e entre Sena Madureira e Rio Branco. Ao contrário do que quer fazer crer o senador, estes trechos não estão bons porque foram feitos pelo seu tio Orleir, mas porque foram totalmente refeitos. Não quero que essa afirmação seja interpretada como uma acusação. Pelo contrário, apenas afirmar a necessidade de reconstrução dos trechos em mau estado, e se possível, agregadas novas tecnologias, especialmente de drenagem do solo, principal calcanhar de aquiles da BR.

Há de fato muita pedra para ser colocada nos atoleiros e trechos críticos. Mas a colocação segue lenta em relação à deterioração da estrada.

Seria ótimo se tivéssemos informações técnicas suficientes para entender melhor as causas da rápida deterioração da BR. O lugar-comum da oposição em afirmar que foi por ‘roubo’, cai como uma luva no gosto popular pela indignação, mas talvez não seja suficiente para explicá-lo melhor. Por outro lado, o governo sempre alegou problemas de solo, o que remete a falta de uma técnica adequada para este tipo de terreno, um problema já apontado pelo relatório do DNIT. O problema é que o mesmo DNIT aprovou o projeto. Se houve falhas na execução, conforme o mesmo DNIT aponta, aí sim, há responsabilidades a serem apuradas e, se comprovadas, punidas. Mas o fato é que nada disso vai garantir a permanência da BR e do direito de ir e vir do cruzeirense, tampouco repetir o mantra ‘a culpa é do PT’ vai adiantar de algo.

Não é possível afirmar com precisão se houve desvio de recursos e em que instância isso se deu. Mas se houve desvio, é razoável supor que parte dele deve ter ido para a campanha do candidato da oposição. É assim que as coisas funcionam no Brasil desde a redemocratização. Basta ver as listas da Odebreacht e afins.

Agora se tem um partido que não tem moral nenhuma para falar sobre a BR 364, o nome dele é PMDB. Foram três governadores e nem um palmo de asfalto na BR. Pelo contrário, Nabor e Flaviano assinaram juntos com Marina Silva o pedido de embargo da BR durante o governo Orleir. Ela, certamente por suas convicções ambientais. Eles, apenas por suas conveniências políticas.

Outro mantra repetido à exaustão é dos ‘dois bilhões de reais gastos na BR’. O número carece de comprovação e quem repete o mantra não se dá conta que mesmo que tenha sido gasta essa cifra, isso foi gasto ao longo de 16 anos, incluindo pontes caríssimas, base, sub-base e asfalto que por pior que seja, ainda permite o tráfego em pleno inverno de uma rodovia que está há quase um ano sem manutenção. O número ‘alternativo’ do governo Temer são 227 milhões para recuperação ao longo de uma temporada. Proporcionalmente, é mais caro que os ‘dois bilhões’.

É totalmente compreensível a ira popular com relação a uma estrada que sempre é lembrada nas campanhas, que consome dinheiro e tempo, e que apresenta péssimas condições de trafegabilidade. O lugar-comum, mais uma vez, é enxergar as coisas pelo recorte dos governos petistas no Acre. Mas o fato é que a BR 364 é uma promessa de 1910. Fato também que quem, como eu, andou na BR em 1999 ou antes disso, sabe que apesar de tudo, hoje a BR é uma realidade. Ainda tive a oportunidade de enfrentar as famosas ‘ladeiras do macaco’ que tornavam a viagem impossível durante o inverno. Ainda atravessei o Purus, o Envira, o Tarauacá, o Gregório e o Liberdade em balsas. Há 15 anos atrás era impossível se pensar em viajar no mês de dezembro pela BR.

Apesar de tudo, sou otimista em relação à nossa BR. Nunca vou me esquecer de uma conversa que tive, anos atrás com um dos primeiros panificadores da cidade, o seu Axé. Apesar de ser um padeiro e não um engenheiro, achei interessante, e razoável, a sua observação de simples motorista.

– Essa rodovia é como o trecho de Porto Velho a Rio Branco. Todo ano era recuperação e recuperação, parecia que nunca ia ter fim. Mas depois de dez anos, ela se ‘assentou’, consolidou, como dizem. Ainda precisa de recuperação, mas agora é menos.   

Espero que as palavras de seu Axé estejam certas e cada vez mais seja garantido o direito de ir e vir dos acreanos em geral, e dos cruzeirenses, em particular.