Uma noite épica.Uma medalha histórica.
O ouro conquistado por Thiago Braz, 22, na prova do salto com vara nos Jogos traduziu o que é superação.
O paulista de Marília (SP) redimiu anos de frustração do atletismo nacional e de desilusões pessoais em um Engenhão que viu de tudo um pouco nesta segunda (15).
A competição se iniciou com cerca de uma hora de atraso devido à forte chuva no estádio. Depois, o equipamento que eleva o sarrafo quebrou. Os competidores esperaram por cerca de 15 minutos até que a solução, manual, fosse encontrada.
Aí um embate de nível técnico altíssimo se seguiu por duas horas perante um estádio parcialmente vazio que se tornou ensurdecedor a cada salto do brasileiro.Thiago superou o sarrafo, na sequência, em 5,65 m, 5,75 m e 5,93 m. Conforme os rivais caíram, sobrou neste estágio somente o mais temido entre os oponentes: o francês Renaud Lavillenie, atual campeão olímpico na vara e recordista mundial (6,16 m).
O favorito acertou todos os seus saltos até chegar a 6,03 m. Aí Thiago fez mágica. Acertou sua tentativa para a marca, incendiou o Engenhão, bateu o recorde olímpico da prova e seu recorde continental. “É campeão, é campeão, é campeão”, saudou a arquibancada, absolutamente atônita.
A vitória história de Thiago, a primeira do atletismo brasileiro desde o triunfo de Maurren Maggi no salto em distância em Pequim-2008, não foi exatamente zebra.Em 2010, ele foi vice-campeão olímpico nos Jogos da Juventude de Cingapura. Dois anos mais tarde, sagrou-se campeão mundial júnior.
O ucraniano Vitaly Petrov, que treinou os maiores nomes da história do salto com vara, seu compatriota Sergei Bubka e a russa Ielena Isinbaieva, que trabalhava como consultor do Brasil, costumava chamá-lo de “novo Bubka”.
Nesta segunda (15), Thiago confirmou a profecia de Petrov, que se tornou seu técnico em definitivo no final de 2014, após cisão dolorosa.
O saltador era treinado por Elson Miranda, também técnico de Fabiana Murer, que foi justamente quem trouxe Petrov ao Brasil. Quando soube que seu pupilo decidira treinar com o ucraniano em Formia, na Itália, a relação azedou – e segue estremecida.
A escolha pela vida no exterior, respaldada pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) e pela CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo), o fez saltar mais alto. Mas, em grandes eventos, insistentemente ficava aquém da expectativa. Foi assim no Pan de Toronto e no Mundial de Pequim, em 2015, e no Mundial indoor de Portland deste ano. Em todos, ele ficou longe do pódio.
Para tirá-lo do foco e da pressão, a CBAt o enviou para terminar sua preparação olímpica em um centro de treinamento em Natal (RN), longe do restante da equipe, que ficou no Rio e São Paulo.
Quis o destino que a reviravolta, a ressurreição, ocorresse na competição mais importante da história do país.
Seu ouro se tornou a 15ª medalha olímpica do atletismo brasileiro e a primeira dourada de um homem desde que Joaquim Cruz triunfou nos 800 m em Los Angeles-1984. Em provas de campo, é a primeira medalha máxima desde que Adhemar Ferreira da Silva triunfou no salto triplo na Olimpíada de Melbourne, em 1956.
Thiago Braz. Guarde esse nome. Porque ele fez história.
Com informações da Folhapress.