Mesmo após oito anos de promessas, 96 famílias continuam sem água na Variante.

Geovana Cameli, 3 anos. Falta de acesso a recursos básicos e o sonho de ser médica

‘Quero ser médica’. Com apenas três anos de idade, não são pequenos os sonhos de Geovana Cameli. Vivendo em uma comunidade sem água, escola ou posto de saúde Geovana não se intimida em ir buscar, no rio Juruá, a água para sua necessidade e de sua família.

São pelo menos 96 famílias que esperam desde 2008 o cumprimento da promessa de um poço artesiano para atender à comunidade do Estirão dos Náuas, na Variante.

Contraste: apenas 5 km do Centro de Cruzeiro do Sul pela Variante asfaltada e falta acesso à saúde, educação e água potável

O mais surpreendente é a proximidade com Cruzeiro do Sul: a comunidade esta distante apenas cerca de cinco quilômetros do centro da segunda maior cidade do estado.

Seis quilômetros da prefeitura e mesmo assim, invisíveis ao poder público municipal, os moradores relatam uma sequência de promessas não cumpridas.

“Vagner prometeu duas vezes: em 2008 e em 2012. Petecão também. Até hoje nada”, relata Nazaré Cameli, 47.

‘Colocam água em troco de voto’. Conceder direitos básicos de cidadania como se fossem favores é uma marca da atual administração municipal.
Tetéu, líder da comunidade: “Somos mau tratados quando vamos à prefeitura pedir água. É um sacrifício para ser atendido. “

Sem o prometido poço artesiano, os moradores se vêem obrigados a pedir pelos carros pipas, que pelo menos em tese, deveriam atender provisoriamente a comunidade.  Mas, segundo os próprios moradores este abastecimento não é regular, e obedece critérios de favorecimento.

“Algumas casas recebem sempre, outras, só às vezes. E quando vamos pedir na prefeitura, fazem pouco da gente, humilham. É um sacrifício para ser atendido”, conta Tetéu, líder da comunidade.

“Colocam água em troca de voto”, conclui Maiquiene Cameli.

 

 

 

 

Escola virou Igreja

Por baixo do verde da igreja ainda é possível ver o azul da escola municipal que foi fechada

Os moradores também relatam que a Escola Municipal Flodoardo Cabral foi fechada e seu espaço físico foi convertido em uma igreja.

Estrutura precária e padrão ainda do primeiro mandato do atual prefeito (2008-2012).

Os moradores relatam um processo de sucateamento da escola. Houve reclamações com relação à professora e alguns pais decidiram mudar seus filhos para outra escola. Como o terreno em que a escola estava erguida em uma área particular, a decisão da secretaria municipal de educação foi fechar a escola e ceder o espaço para uma igreja.

Risco sanitário: Igapó recebe o esgoto das residências vizinhas

Com isso, os alunos da comunidade se deslocam cerca de quatro quilômetros até a escola municipal mais próxima.

Precarização e desmonte: marca registrada da política municipal de educação

Embora funcionando, a estrutura da Escola Moacir Rodrigues deixa a desejar. Estamos há a apenas cerca de dois quilômetros do centro de Cruzeiro do Sul. As paredes de madeira da escola estão deterioradas. A fiação elétrica é precária e um igapó atrás da escola recebe o esgoto da residência vizinha.

 

Produção

Mesmo sem qualquer apoio do poder público, sem escola, posto de saúde ou saneamento básico, dona Nazaré é uma das maiores produtoras de verdura da região.

Alface, cebola, pepino, alface e pimenta são produzidos em escala comercial para abastecer o mercado municipal. Nazaré e seus filhos e filhas, coletam o adubo nas matas e pastos da região. A água, quando o rio está cheio, é puxado com uma bomba d’água, o que não é possível nesse período.

O asfalto e a proximidade com Cruzeiro do Sul tornam a região da Variante uma área estratégica para o abastecimento da cidade de Cruzeiro do sul com hortigranjeiros. Contudo, até hoje o poder municipal ainda não se atentou para o potencial e os moradores seguem produzindo sem o apoio de um programa específico.