Na 32ª fase e em curso há dois anos e quatro meses, a Lava Jato, principal operação do Brasil que investiga corrupção e desvios de dinheiro público, passou a focar nas colaborações com as grandes empreiteiras.
Desde o início do ano, a PGR (Procuradoria-Geral da República) e a força-tarefa de Curitiba (PR) concentram esforços nas negociações com as empresas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, como a líder do mercado nacional Odebrecht, e OAS, cujo um dos sócios, Léo Pinheiro, tinha relação de amizade com políticos.
Parte dos procuradores envolvidos defende que há a possibilidade de firmar negociação com ambas, enquanto outros acreditam que há lugar para apenas uma, argumentando que é importante mostrar que as empreiteiras não sairão impunes do processo.
Até agora a Lava Jato firmou três acordos de leniência, espécie de delação premiada da pessoa física (com as empresas Toyo Setal, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez), e 56 de delação premiada.
O primeiro investigado a se tornar delator foi o ex-diretor da área de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e seus familiares, que tiveram acordos homologados pela justiça em setembro de 2014.
Meses depois, o doleiro Alberto Youssef, alvo da primeira fase da Lava Jato, firmou negociação que foi homologada em dezembro de 2014.No início da operação, quando os procuradores tinham interesse em mapear o esquema de corrupção, a facilidade de assinar acordos era maior do que nos dias de hoje.
Alguns réus que colaboraram com a justiça e que se encontravam presos progrediram imediatamente para o regime domiciliar, caso de Costa, que hoje está em semi-aberto diferenciado. Esse benefício não é mais concedido. O ex-presidente e herdeiro da Odebrecht Marcelo Odebrecht, preso há mais de um ano, sabe que se seu acordo vingar ele ainda passará um período preso.
Devido à quantidade de informações que os investigadores já têm sobre desvios envolvendo a Petrobras e contratos públicos em outras áreas, porém, está cada vez mais difícil oferecer novidades que interessem aos procuradores.
O ex-diretor da área de serviços Renato Duque, preso pela segunda vez em março de 2015, tenta fazer uma delação há mais de um ano, sem sucesso.Outra novidade que apareceu no curso da operação foram as gravações, como as feitas pelo filho do ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró, Bernardo, revelando um plano de fuga para o seu pai detalhado pelo então senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Posteriormente, o próprio Delcídio se tornou o primeiro político fechar colaboração.
O ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, também surpreendeu ao ao levar à justiça gravações que fez com políticos como que se relacionava, como o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) e o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
FILHOTES
O grande número de delações contribuiu para que os temas abordados na Lava Jato fossem muito além da corrupção na Petrobras, dando fruto a desmembramentos da Operação.
Em São Paulo a delação do ex-vereador do PT e operador Alexandre Romano, o Chambinho, deu origem à “Custo Brasil”, que investiga desvios do Ministério do Planejamento e teve apenas a primeira deflagrada, levando o ex-ministro Paulo Bernardo a prisão por seis dias.
No Rio de Janeiro o desdobramento da corrupção envolvendo a Eletronuclear deu origem à operação Pripyat na última semana. A Saqueador, outra investigação conduzida no Estado, foi deflagrada a partir de delações de Delcídio do Amaral e da Andrade Gutierrez.
Em Pernambuco, a operação Turbulência, que apura a ligação entre o avião que caiu com o ex-governador de Pernambuco e então candidato à presidência Eduardo Campos (PSB), também surgiu a partir de informações reveladas pelo doleiro Alberto Youssef.
Com informações de Folhaspress.