Mesmo trocando de clube e iniciando um novo capítulo em sua carreira, José Mourinho não abre mão de seu estilo. Em sua primeira entrevista como treinador do Manchester United, o português mostrou seu jeito um levemente ácido de responder às perguntas, sem fugir das polêmicas. Acostumado a trabalhar na Premier League, foi alvo de questões sobre a provável disputa acirrada da temporada, os técnicos que estarão em ação na liga e qual seria sua meta no Old Trafford. Então, deixou de lado a humildade.
– Eu quero tudo. Vencer jogos, jogar bem, lançar jovens jogadores, marcar gols, para que os fãs estejam conosco. É um objetivo agressivo. Quero tudo. Espero estar fora da Champions só nesta temporada. Devemos assegurar que este clube esteja onde tem que estar – disse, em uma leve provocação a Pep Guardiola, que afirmou em sua apresentação no Manchester City que seu objetivo primário era fazer o time jogar bem.
A imprensa mundial vem badalando a rivalidade entre Mou e o treinador espanhol – contra quem marcou época nos tempos de Real Madrid -, que desta vez estarão na mesma cidade. Mas essa não será a única disputa pessoal que Mourinho terá na temporada: Arsene Wenger, seu velho desafeto, segue no comando do Arsenal. E o português já fez questão de alfinetá-lo.
– Sinto que tenho que me provar, e terminar em quarto não é o objetivo. Nunca me permitirei trabalhar se não tenho êxito, não é minha natureza. Há treinadores que há 10 anos não ganham nada, e a última vez que eu ganhei foi há um ano. Se eu tenho que demonstrar alguma coisa, imagina eles – disse Mourinho, em crítica direta ao trabalho do francês.
Confira outros trechos da coletiva de José Mourinho:
DEPOIS DE SER SPECIAL E HAPPY ONE, O QUE SERÁ AGORA?
Eu não sei. Nos outros dois times (Real Madrid e Chelsea), eu estava chegando no país. Agora é diferente. Eu fui demitido do Chelsea e segui no mesmo país, e o mesmo país com a mesma cara. Não há nada novo. Eu cheguei a um clube que é difícil de descrever. Eu não gosto de dizer que este trabalho é dos sonhos. Isso é uma realidade, e a realidade é que é o trabalho que todos querem. Eu o tenho. Conheço minhas responsabilidades, a expectativa e o legado deste clube. Sei o que a torcida espera de mim. Este objetivo não me põe nervoso. Sou treinador do maior clube do Reino Unido.
PLANEJAMENTO PARA TRANSFERÊNCIAS
Fizemos um núcleo de quatro prioridades, quatro posições, para dar uma certeza de equilíbrio ao elenco e um impulso em termos de qualidade, e de qualidades que eu preciso e quero. Como vocês sabem, especialmente os com mais visão. Eu sou um treinador que gosta de especialistas e nem tanto de jogadores versáteis. Sou muito claro em meu modelo de jogo, então preciso de especialistas. Escolhemos quatro alvos. E até que tenhamos o quarto, continuaremos trabalhando duro.
A RIVALIDADE COM GUARDIOLA
Falar sobre um técnico, um clube e – eu não gosto da palavra, mas um rival, não é certo. Uma coisa é estar em uma competição como na Espanha, quando se trata de uma corrida entre dois cavalos. Na Itália, há três times. Mas na Premier League, isso não faz sentido. Se você focar em um time ou um rival, os outros estarão rindo. Então, não quero fazer parte disso. Eu sou o treinador do Manchester United, com respeito a todos os outros clubes do país.
TRABALHO COM JOVENS
Eu promovi 49 jovens das categorias de base. Se quiser, posso dar a lista. Dois fatores são muito importantes nestes números, pois às vezes você promove porque não tem outra escolha, com muitas lesões, e tem que trazê-los. O segundo fator é quando você não está jogando por grandes objetivos, então é mais fácil trazer alguém para cima. Meus números por lesões é muito, muito baixo. Eu nunca promovi jogadores por necessidade, eu faço isso por convicção.
REAÇÃO À SAÍDA DE GIGGS
A vaga que Ryan queria é a que o clube decidiu me dar. Não é minha culpa. Ryan queria ser o treinador do Manchester United, e o clube decidiu que o trabalho era para mim. A partir deste momento, Ryan queria se tornar um treinador, como em 2000, quando eu decidi ser um. Chega uma hora em que você precisa tomar uma decisão, e Ryan tomou. Ele poderia ser o que quisesse no clube, mas tomou uma decisão em que precisa ter coragem.
CONSELHO DE ALEX FERGUSON
Ele disse para trazer um guarda-chuva! Ontem, não poderia acreditar que estava chovendo no centro de treinamento. Então, foi um bom conselho. O segundo foi para trazer uma garrafa de vinho, pois agora teríamos muitas ocasiões para estarmos juntos. Ele está na Euro, então não pude vê-lo neste fim de semana, mas quando as férias de verão terminarem, teremos muitos encontros. Ele sempre me deu as boas-vindas no campo, e teremos tempo para dividir muitas coisas.
ONDE ROONEY VAI JOGAR?
Há muitas tarefas, e uma das mais difíceis é achar o cara que vai colocar a bola no fundo do gol. Jogadores mudam ao longo dos anos suas qualidades e características. É normal que um jogador da sua idade mude, mas algo que nunca irá mudar é seu apetite natural para colocar a bola na rede. Talvez não mais como um atacante, um centroavante, mas ele nunca será um camisa 6 jogando a 50 metros do gol. Ele será um 9, um 10, um “nove e meio”, mas nunca um seis ou oito.
TÍTULO DO LEICESTER
Eles deram uma lição importante. Não só deixaram as pessoas felizes, mas mostraram que há 20 times lutando pela liga. Temos que agradecer pelo que fizeram para o futebol inglês.
Por Globoesporte.