O Brasil está no epicentro da ciência psicodélica no mundo?
*Bia Labate
Faço parte do Comité Científico da Segunda Conferência Mundial Ayahuasca (*), que será realizado em Rio Branco, na Amazônia brasileira, em outubro. Eu gostaria de compartilhar um pouco sobre a surpreendente ciência envolvendo a ayahuasca.
A conferência combina um evento principal, uma pista paralela que consiste de pesquisadores que responderam ao “convite à apresentação de resumos”, um festival de cinema, e uma série de eventos culturais. O evento principal terá representantes das religiões ayahuasqueiras brasileiras, cerca de 100 indivíduos indígenas, e 11 mesas redondas. Estes incluem: xamanismo amazônico, da cultura e do património cultural, a investigação científica, usos contemporâneos, intervenções clínicas, os desafios da globalização, da política e legislação, meio ambiente e sustentabilidade, plantas da Amazônia, questões de gênero e riscos.
Na primeira edição da conferência em Ibiza em 2014, cem propostas de apresentação foram submetidos. Agora, dois anos depois, esse número dobrou. A ciência da ayahuasca parece estar se espalhando ao redor do mundo vigorosa e dinâmica como a própria bebida.
Um número de profissionais estão cada vez mais inspirado para estudar esta substância intrigante através das lentes de diferentes disciplinas.
Das 200 propostas recebidas, 120 foram para a via académica, e 80 para a faixa comunidade, que consiste de profissionais com conhecimento empírico. Os resumos vêm de uns impressionantes 28 países! Metade das propostas são da área das ciências sociais, e a outra metade da biomédica, psicologia e campos de saúde pública combinados. Embora ainda haja uma predominância de pesquisadores do sexo masculino e profissionais, um número crescente de mulheres está apresentando textos sobre estas questões.
Os temas são tão variados como: ayahuasca para pessoas sem-abrigo, tratamento para usuários de drogas e álcool problemáticos, uso por veteranos de guerra e prisioneiros, para lidar com a morte e ao dar à luz, e o papel da ayahuasca em distúrbios de saúde mental e para melhorar o bem-estar psicológico . Eles também abordar prática ritual, o conhecimento xamânico, as relações inter-étnicas, hibridismo cultural, transnacionalização religiosa, a política de cura, e mercantilização. Além disso, o relacionamento com terapias alternativas e espiritualidade da Nova Era serão contemplados. Algumas apresentações também incidir sobre os temas da legalidade, riscos para a saúde e abuso sexual. Finalmente, artes e música, ao lado de ecologia e conservação, estão no menu.
Quase metade das propostas veio do Brasil. Embora isso seja compreensível, a conferência tem revelado, para nossa surpresa, a emergência excepcional de novos grupos de pesquisa em todo o país. Esses incluem:
Programa de Orientação e tratamento dos toxicodependentes (PROAD)
São Paulo
Dr. Dartiu Xavier da Silveira
Este centra-se em um grupo de pesquisa de 21 anos de idade em ayahuasca que se materializou fora do PROAD organização, que vem realizando pesquisas com drogas desde 1991. Atualmente, cerca de 20 professores, documentos postais e pós-graduação e alunos de graduação pesquisar os potenciais terapêuticos e uso ritualístico da ayahuasca, incluindo estudos epidemiológicos, ensaios clínicos, estudos de comorbidade, neurociências, e redução de danos.
Grupo Interdisciplinar de Estudos Psicoativas (NEIP)
São Paulo e outras cidades
Dr. Bia Labate
A rede de ciências sociais com 15 anos de idade tem 70 professores e pesquisadores em nível de pós-graduação. Os membros do grupo têm organizado várias conferências, publicou dois livros e um grande número de dissertações e PhDs de mestrado, predominantemente em antropologia, sobre as religiões ayahuasqueiras brasileiras (Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal), nova ayahuasca urbana, e indígenas e mestiço.
Universidade de São Paulo (USP)
Ribeirão Preto
Dr. Jaime Hallak, Dr. José Alexandre Crippa, Dr. Flávia Osório e Dr. Antônio Zuardi
Um grupo de pesquisa de mais de 20 professores, pós-doutores e alunos de pós-graduação que tem sido envolvidos por mais de uma década na investigação de novos medicamentos para o tratamento de desordens neuropsiquiátricas, como depressão, ansiedade, esquizofrenia e doença de Parkinson. O grupo é uma das equipas científicas brasileiras mais produtivas no campo biomédico. Eles realizam ensaios clínicos com ambos os voluntários saudáveis e doentes, a investigar o potencial uso terapêutico de vários medicamentos, incluindo ayahuasca, canabidiol, nitroprussiato de sódio, e ocitocina, entre outros.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Natal
Dr. Draulio de Araujo
Este é um grupo interdisciplinar de sete anos de idade, de 30 investigadores, incluindo professores, docs de correios, pós-graduação e alunos de graduação. Seus interesses de pesquisa incluem os efeitos antidepressivos agudas e duradouros de ayahuasca. Diferentes marcadores biológicos e comportamentais são investigadas nos campos da bioquímica, neuropsicologia, e neuropsiquiatria, utilizando métodos como a ressonância magnética e EEG.
Universidade de Brasília (UNB)
Brasília
Dr. Regina Célia de Oliveira
Este trabalho é de um grupo de dois anos de idade, composta por seis pesquisadores botânicos e um toxicologista, incluindo professores e pós-graduação e alunos de graduação. O foco da pesquisa é tanto descobrir quais espécies do cipó Banisteriopsis spp são usadas pelas religiões ayahuasqueiras brasileiras, e para compreender os seus conhecimentos ethnobotancial destas espécies. O foco inclui morfologia externa, análise citogenética, sequenciamento de DNA, química caracterização, fito-química, anatomia, diversidade genética, conservação, análise filogenética, composição química e componentes bioativos da ayahuasca.
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Campinas
Dr. Luis Fernando Tófoli
Este é um grupo interdisciplinar de um ano de idade, composta por 20 professores, pesquisadores e estudantes. Seus interesses de pesquisa incluem a gestão agrícola da Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis, análises químicas das espécies de si ayahuasca, fisiologia da ayahuasca, a estabilidade das amostras ayahuasca, liofilização, metabolômica, potencialidades terapêuticas e estudos neurocientíficos.
Segundo os pesquisadores, os principais desafios são:
– Para encontrar financiamento;
– Para obter acesso a DMT;
– A ortodoxia de alguns grupos de ayahuasca e acesso aos mesmos;
– Para encontrar voluntários para os experimentos (devido a critérios de recrutamento);
– Prejuízo dos profissionais de saúde;
– Acesso à videira e da folha, ambas crescendo na natureza e cultivada;
– Os desafios analíticos de caracterizar a química das plantas colhidas.
Por outro lado, como potenciais benefícios, estas pesquisas podem:
– Reconhecer e registrar uma ampla variedade de práticas culturais ricos;
– Ampliar a compreensão dos diversos contextos de uso e seus significados;
– Estigma dissipar e criminalização;
– Trazer mais legitimidade a grupos ayahuasca;
– Propor alternativas para os desafios da expansão;
– Informar sobre os riscos e benefícios;
– Aprender sobre os processos de saúde mental é indivíduos saudáveis;
– Encontrar alternativa de tratamento para doenças ou de perturbações mentais, incluindo novas formas de tratamento para a depressão e ansiedade;
– Desenvolver terapias psicodélicas;
– Compreender a origem e idade das espécies;
– Compreender a diversidade cultural e genético das plantas.
Apesar dos enormes desafios no cenário científico-político-e brasileira atual, a ciência psicodélica parece estar a crescer naturalmente. Se você estiver interessado nestes tópicos, esta conferência é “como o mel às abelhas”, como se diz no Brasil. Venha participar neste diálogo exclusivo entre a ciência e o conhecimento tradicional!
* Bia Labate é antropóloga, autora do livro ‘O uso ritualístico da ayahuasca’, coordenadora do NEIP – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos e faz parte da coordenação da II Conferência Mundial da Ayahuasca, que acontece em outubro deste ano, em Rio Branco.
(*) Hyperlink to http://www.ayaconference.com/
Fonte: Huffington Post