O senador Jorge Viana (PT-AC) denunciou, em seu pronunciamento ao plenário nesta quinta-feira (19), o cerco que está sendo imposto à presidenta Dilma Rousseff. Viana visitou a presidenta, na companhia do presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), no começo desta tarde e voltou ao Senado indignado com a barreira militar armada na pista que dá acesso ao Palácio da Alvorada, residência oficial. Isso porque o Palácio do Jaburu, onde vive o vice-presidente e cuja entrada fica 100 metros antes, passou a ser protegido por um grande contingente armado.
“Ninguém chega ao Palácio da Alvorada sem cair na armadilha de uma barreira, antes do Palácio do Jaburu. Vejam só em que país nós estamos vivendo”, protestou Viana. Ele e Renan Calheiros, chefe de um dos três poderes, tiveram que esperar um longo tempo para serem autorizados a transpor a barreira criada por Temer.
“Se querem pôr barreira no Palácio do Jaburu, podem, devem até. Mas não custava nada deixar uma das faixas livres, porque lá na frente tem a barreira do Palácio da Alvorada. Veja que situação nós estamos vivendo”, ponderou o senador. “Eles têm controle absoluto de qualquer pessoa que queira ter algum tipo de contato com a presidenta Dilma. Isso significa que a presidenta eleita está sitiada? Que Governo provisório é esse?”, protestou.
Reencontro
A crise política, institucional e econômica vivida pelo Brasil é fruto da falência do modelo político adotado no País. “É como se estivéssemos vivendo o fim da Nova República, ou levando a Nova República para um reencontro com a Velha República”, avalia o senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente da Casa, que aponta como claro sintoma dessa desagregação o fato de “um poderoso senhor”—Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a partir de sua ascensão à Presidência da Câmara, ter tido sucesso em seu plano para desestabilizar e derrubar o governo constitucionalmente eleito.
Viana fez uma análise sobre o momento atravessado pelo País e, mesmo confiante na perspectiva de o impeachment de Dilma Rousseff ser derrotado no Senado, ele lamentou as consequências de toda essa turbulência. “O Brasil enfrenta uma crise econômica, com o desemprego aumentando, o risco de a inflação voltar e uma desconfiança generalizada em boa parte das importantes instituições. Enquanto isso, temos dois presidentes da República, dois presidentes da Câmara”.
O senador lamentou que o Parlamento não tenha feito uma reflexão sobre a legislação que trata do impeachment do presidente da República. “A aplicação dessa Lei criou situações complicadas. Foi erro nosso, falha nossa, não ter mudado essa lei”, afirmou, referindo-se à situação atual: um interino na Presidência, uma presidenta eleita aguardando julgamento por um prazo de 180 dias, tendo sido eleita com 54 milhões de votos e afastada por maioria simples do Senado.
“E o presidente interino não é tão interino, porque ele pode desmontar a estrutura do Estado brasileiro”, criticou Viana. “Está extinguindo ministérios, criando outros”. O senador pondera, entretanto, que o Brasil pode tirar muitas lições desse episódio. “Quem tem amor e responsabilidade com este País não queria estar vivendo neste momento. Mas é a realidade que temos”.
Viana lamentou especialmente a extinção dos ministérios da Cultura e da Ciência e Tecnologia, transformados em secretarias subordinadas a outras pastas. “Isso não vai trazer economia e vai custar muito caro para a história da democracia. A cultura é a expressão da sociedade civilizada.”
Pequenas crueldades
Ele criticou com dureza alguns atos do interino Temer que, apesar de parecerem pequenos, trazem uma forte carga simbólica e expressam claramente o que vem chamando de “marcha da insensatez”. Um desses fatos foi a demissão do garçom que servia o gabinete presidencial no Palácio do Planalto, Catalão.
“Parece pouca coisa. Mas é chocante para qualquer um que olhe para os olhos de quem nos serve — porque há muita gente que toma água geladinha, que toma um café, e que não tem coragem de olhar para a pessoa que está servindo”. Viana, que conheceu Catalão nas diversas audiências que teve com os presidentes Lula e Dilma, solidarizou-se com o garçom demitido. “Era de uma dedicação cativante”. A justificativa para a demissão do trabalhador foi a “suspeita de pertencer ao PT”.
Catalão não foi o único servidor vitimado pela sanha dos interinos. Outra funcionária do Planalto, a secretária Mazé, também foi mandada embora. “Ela estava lá desde o governo Sarney, chegou a ser candidata pelo PFL, lá no Acre”, relatou o senador. “Olha, um governo assim não veio para pacificar o País, não veio para construir um ambiente melhor, para promover o diálogo”.
Cyntia Campos